Arquivo mensal: setembro 2008

Reparando equívocos

Coordenador de um dos grupos de trabalho constituídos pela Funai para rever a dimensão das terras indígenas no Mato Grosso do Sul, o antropólogo Rubem Thomaz de Almeida tem evitado falar com jornalistas há semanas.

O recolhimento, justifica, deve-se à forte campanha movida por proprietários rurais contra o processo de demarcação, razão pela qual solicitou à CartaCapital que não divulgasse seu retrato. “O clima é de intimidação. Os carros das equipes responsáveis por este levantamento chegaram a ser perseguidos nas estradas por picapes de fazendeiros”, conta.

Dedicado ao estudo dos índios guaranis há 35 anos, Almeida concordou em conceder esta entrevista para “desfazer alguns dos equívocos” que, acredita, deram o tom do debate até agora.

CartaCapital: Por que os índios precisam de mais terras?
Rubem Thomaz de Almeida:
Do fim do século XIX para cá, os colonizadores ocuparam praticamente todo o território que antes pertencia aos guaranis. Nesse processo de ocupação, os indígenas foram, pouco a pouco, sendo restringidos a áreas muito pequenas. Hoje, temos 40 mil índios que vivem em cerca de 44 mil hectares. Eles estão praticamente sem terra. Na aldeia de Dourados, a situação é dramática: há apenas 3,5 mil hectares para 12 mil índios. Eles não têm condições de desenvolver a sua agricultura de subsistência. Dependem da cesta básica dada pelo governo.

CC: Os conflitos entre indígenas, dentro das aldeias, têm relação com a questão fundiária?
RTA:
Sim, devido à convivência forçada entre famílias que jamais se aproximariam de maneira espontânea. Alguns índios contornam esse problema por meio do casamento ou de alianças políticas. Mas há muitas brigas, que por vezes resultam em homicídios. No passado, quando uma família brigava com outra, geralmente uma delas se mudava para outra região, onde também tinha vínculos familiares. Havia espaços disponíveis. Hoje, não.

CC: Qual é a área necessária para abrigar os guaranis?
RTA:
Os grupos de trabalho foram criados para fazer esse levantamento, para que se conheça, com alguma precisão, a real demanda dos índios. Hoje, há muita especulação. A imprensa chegou a anunciar que a área seria de 12 milhões de hectares. Isso é um disparate, representa um terço do estado, a área total de 26 municípios, incluindo os centros urbanos. Admitir isso seria tão absurdo quanto propor a demarcação de terras indígenas em Copacabana, no Rio, ou no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

CC: É possível estimar a área a ser demarcada?
RTA:
É preciso aguardar os estudos. Certa vez, a um jornal local, deixei claro que não faz sentido falar em 12 milhões de hectares se a área sob investigação ocupa, no máximo, 3 milhões de hectares. O número foi divulgado como a área da demarcação. Nada disso. Dentro desse território, ainda serão feitos os levantamentos antropológicos para saber quais as terras pretendidas e se elas são tradicionalmente ocupadas por índios.

CC: O que será avaliado nos estudos?
RTA:
A composição das famílias, as relações de parentesco, a história deles em relação à terra, a ocorrência de determinados indicadores que comprovem a presença deles por ali, como casas abandonadas, resquícios de objetos, cemitérios indígenas etc.

CC: Os índios podem ser assentados em outra região?
RTA:
Nós, brancos, temos a concepção de que a terra é um título de propriedade. Para os guaranis, é o contrário. As terras não pertencem aos índios. Estes é que pertencem a uma terra. Por isso, eles se recusam a aceitar terras que não são suas, que não foram ocupadas pelos seus antepassados. No fim dos anos 70, a Funai tentou assentar um grupo de guaranis na aldeia Bodoquena, dos índios Kadiwéu, um pouco mais ao norte do estado. Ela tem 575 mil hectares para uma população muito pequena, entre 1,5 mil e 2 mil índios. Não deu certo. Os guaranis insistiram para voltar. Como a Funai não mobilizou transporte para trazê-los de volta, eles iniciaram uma marcha a pé de mais de 700 quilômetros.

CC: A demarcação será em área contínua?
RTA:
Em Roraima, a Raposa Serra do Sol tem 1,7 milhão de hectares para 18 mil índios em área contínua. Mas pensar numa situação similar no Mato Grosso do Sul é irreal. O estado tem colonização consolidada e economia estabelecida. A rigor, pela Constituição, até seria possível pensar numa solução para os índios desconsiderando os brancos. Não é o caso. O plano operacional prevê a presença dos proprietários rurais na região. Estuda-se, sim, a possibilidade de criar conexões entre as aldeias por meio de corredores ecológicos, o que permitiria a passagem de bichos e a circulação dos guaranis. Sem prejuízos, já que os corredores passariam pela área de reserva legal das fazendas. Isso leva em conta o próprio desenvolvimento do estado, eu diria.

CC: De que forma?
RTA:
As implicações que esses conflitos entre fazendeiros e indígenas trazem podem depor contra a economia local, seja pela desvalorização da terra, seja pela dificuldade do setor ao obter financiamentos ou mesmo na exportação de produtos. Isso é bastante comum. Na Europa, são negados negócios poderosos em função da questão ambiental, do trabalho escravo, de uma série de fatores. E a questão dos índios aqui também é preocupante. Não oferecer solução a essa população também traz prejuízos.

CC: Os índios terão condições de cultivar essas terras como os brancos?
RTA:
É um equívoco querer transformar os índios em produtores, tentar transformá-los em brancos. Eles têm o seu modo de vida, sua cultura, não tem a intenção de abandonar isso para se transformar num trabalhador rural, num profissional qualificado para determinado tipo de trabalho. Já se tentou isso numerosas vezes, seja pela Funai, seja pela atuação de missionários, e nunca deu certo. Os índios não querem ser brancos. Se os índios quisessem, já teriam feito, porque a relação de contato dos índios guaranis com os brancos é longa, de séculos. Parece-me da maior relevância que a sociedade entenda isso e compreenda que eles precisam do mínimo de terra para exercer o seu modo de ser, com a agricultura de subsistência, a caça e a pesca.

CC: Como se dá a relação dos guaranis com os brancos hoje?
RTA:
Fragmentos da sociedade indígena efetivamente têm uma relação mais próxima com os brancos. Conseqüentemente, eles são os que mais aparecem, os mais visíveis. São índios que têm um certo domínio com os nossos códigos e é com eles que os brancos dialogam. Mas isso é uma porcentagem bastante reduzida da população indígena. Os guaranis têm uma organização acéfala, baseada nas famílias extensas. Fala-se muito em liderança indígena. Quem seriam essas lideranças? Justamente aqueles que têm o domínio do nosso código, falam melhor a nossa língua e atuam como interlocutores. Se você entrar de fato das aldeias, descobrirá que a maioria fala muito mal o português e não pretende ter essa relação mais próxima conosco. Fazem questão de manter o seu modo de ser. E isso deve ser levado em conta. Se não for, o Estado brasileiro vai corroborar para o etnocídio. Impor nossa cultura é uma forma de matá-los culturalmente.

CC: E como resolver problemas como o alcoolismo e a violência dentro das aldeias guaranis?
RTA:
Fala-se muito do problema do alcoolismo entre os índios, mas não há nenhuma pesquisa acurada para verificar a dimensão do problema. Os jornais estampam: índios bêbados. Mas quem são eles? Os mesmos problemas que nossa sociedade enfrenta, eles também enfrentam. Tanto que tivemos de fazer a lei seca para evitar as mortes nas estradas devido ao consumo irresponsável da bebida alcoólica. Há uma porcentagem dos índios que, ao ingerir álcool, pode trazer problemas. Mas é necessário fazer uma pesquisa acurada sobre o tema. Eu insisto na idéia do segmento. É muito fácil dizer que os índios são bêbados e vagabundos. Mas seria justo dizer que a sociedade brasileira é uma sociedade de bêbados porque uma porcentagem da população bebe e causa problemas? Também fala-se em droga e prostituição. Eu trabalho com eles há 35 anos e nunca vi um índio se drogando ou uma índia se prostituindo. Não estou dizendo que não existe, mas eu nunca vi. E olha que eu ando, eu circulo por essas bandas desde 1973. Há um senso comum orientado por interesses de diversas áreas, dos missionários aos proprietários rurais, permeado por uma dose grande de preconceito. Cria-se uma imagem de os índios são bêbados, drogados e vagabundos.

CC: Há muito preconceito em relação aos guaranis?
RTA:
Sem dúvida. Dizem, por exemplo, que eles não trabalham. Só que os índios têm uma noção muita clara de que quem não trabalha não sobrevive. Eles trabalham, mas não como nós. Os índios não vão se tornar capitalistas. Precisamos acabar com essa ilusão. Eles têm interesse, sim, de desenvolver a sua economia de subsistência. Estão interessadíssimos nisso. Eles querem trabalhar e ficam extremamente irritados de depender de cesta básica. Até quando o governo vai bancar cesta básica para todo mundo? A vida deles gira em torno da roça. A caça e a pesca são certamente valiosas para os guaranis, mas eles não são nômades. No Brasil, existe somente uma etnia nômade: os nhambiquaras. Mesmo assim, eles deixaram de ser, por diferentes razões. Mas aí vem o rótulo: nômades. Ora, se são nômades, não precisam de terra.

CC: Basta ter acesso à terra?
RTA:
Não, mas há experiências que comprovam que com pouquíssimo investimento é possível estruturar as comunidades indígenas, não há a necessidade de vultosos investimentos. Mas a terra é fundamental, e deve-se levar em conta a organização das famílias extensas de guaranis. Essas famílias pertencem a uma determinada terra e não permitem que qualquer índio ocupe a sua área. Isso só acontece em áreas delimitadas pelo governo.

CC: O elevado número de suicídios entre os guarani tem relação com esses conflitos fundiários, com a falta de terra?
RTA:
Em alguma medida. O suicídio faz parte da cultura guarani. Desde o século XVII, há o registro histórico do que os indígenas chamam de jejuvy, termo que significa “enforcar-se”. Sabidamente isso é da tradição guarani. Mas, ultimamente, há uma exacerbação do suicídio, que aparece de maneira mais veemente, em número muito maior. A taxa de suicídio entre os guarani é uma das mais elevadas do mundo. E isso também tem relação com essa convivência forçada em áreas muito pequenas. Não é justo dizer que os índios se suicidam por causa dos brancos. Não é isso. Mas a falta de terra potencializa o problema.

Reparando equívocos

Coordenador de um dos grupos de trabalho constituídos pela Funai para rever a dimensão das terras indígenas no Mato Grosso do Sul, o antropólogo Rubem Thomaz de Almeida tem evitado falar com jornalistas há semanas.

O recolhimento, justifica, deve-se à forte campanha movida por proprietários rurais contra o processo de demarcação, razão pela qual solicitou à CartaCapital que não divulgasse seu retrato. “O clima é de intimidação. Os carros das equipes responsáveis por este levantamento chegaram a ser perseguidos nas estradas por picapes de fazendeiros”, conta.

Dedicado ao estudo dos índios guaranis há 35 anos, Almeida concordou em conceder esta entrevista para “desfazer alguns dos equívocos” que, acredita, deram o tom do debate até agora.

CartaCapital: Por que os índios precisam de mais terras?
Rubem Thomaz de Almeida:
Do fim do século XIX para cá, os colonizadores ocuparam praticamente todo o território que antes pertencia aos guaranis. Nesse processo de ocupação, os indígenas foram, pouco a pouco, sendo restringidos a áreas muito pequenas. Hoje, temos 40 mil índios que vivem em cerca de 44 mil hectares. Eles estão praticamente sem terra. Na aldeia de Dourados, a situação é dramática: há apenas 3,5 mil hectares para 12 mil índios. Eles não têm condições de desenvolver a sua agricultura de subsistência. Dependem da cesta básica dada pelo governo.

CC: Os conflitos entre indígenas, dentro das aldeias, têm relação com a questão fundiária?
RTA:
Sim, devido à convivência forçada entre famílias que jamais se aproximariam de maneira espontânea. Alguns índios contornam esse problema por meio do casamento ou de alianças políticas. Mas há muitas brigas, que por vezes resultam em homicídios. No passado, quando uma família brigava com outra, geralmente uma delas se mudava para outra região, onde também tinha vínculos familiares. Havia espaços disponíveis. Hoje, não.

CC: Qual é a área necessária para abrigar os guaranis?
RTA:
Os grupos de trabalho foram criados para fazer esse levantamento, para que se conheça, com alguma precisão, a real demanda dos índios. Hoje, há muita especulação. A imprensa chegou a anunciar que a área seria de 12 milhões de hectares. Isso é um disparate, representa um terço do estado, a área total de 26 municípios, incluindo os centros urbanos. Admitir isso seria tão absurdo quanto propor a demarcação de terras indígenas em Copacabana, no Rio, ou no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.

CC: É possível estimar a área a ser demarcada?
RTA:
É preciso aguardar os estudos. Certa vez, a um jornal local, deixei claro que não faz sentido falar em 12 milhões de hectares se a área sob investigação ocupa, no máximo, 3 milhões de hectares. O número foi divulgado como a área da demarcação. Nada disso. Dentro desse território, ainda serão feitos os levantamentos antropológicos para saber quais as terras pretendidas e se elas são tradicionalmente ocupadas por índios.

CC: O que será avaliado nos estudos?
RTA:
A composição das famílias, as relações de parentesco, a história deles em relação à terra, a ocorrência de determinados indicadores que comprovem a presença deles por ali, como casas abandonadas, resquícios de objetos, cemitérios indígenas etc.

CC: Os índios podem ser assentados em outra região?
RTA:
Nós, brancos, temos a concepção de que a terra é um título de propriedade. Para os guaranis, é o contrário. As terras não pertencem aos índios. Estes é que pertencem a uma terra. Por isso, eles se recusam a aceitar terras que não são suas, que não foram ocupadas pelos seus antepassados. No fim dos anos 70, a Funai tentou assentar um grupo de guaranis na aldeia Bodoquena, dos índios Kadiwéu, um pouco mais ao norte do estado. Ela tem 575 mil hectares para uma população muito pequena, entre 1,5 mil e 2 mil índios. Não deu certo. Os guaranis insistiram para voltar. Como a Funai não mobilizou transporte para trazê-los de volta, eles iniciaram uma marcha a pé de mais de 700 quilômetros.

CC: A demarcação será em área contínua?
RTA:
Em Roraima, a Raposa Serra do Sol tem 1,7 milhão de hectares para 18 mil índios em área contínua. Mas pensar numa situação similar no Mato Grosso do Sul é irreal. O estado tem colonização consolidada e economia estabelecida. A rigor, pela Constituição, até seria possível pensar numa solução para os índios desconsiderando os brancos. Não é o caso. O plano operacional prevê a presença dos proprietários rurais na região. Estuda-se, sim, a possibilidade de criar conexões entre as aldeias por meio de corredores ecológicos, o que permitiria a passagem de bichos e a circulação dos guaranis. Sem prejuízos, já que os corredores passariam pela área de reserva legal das fazendas. Isso leva em conta o próprio desenvolvimento do estado, eu diria.

CC: De que forma?
RTA:
As implicações que esses conflitos entre fazendeiros e indígenas trazem podem depor contra a economia local, seja pela desvalorização da terra, seja pela dificuldade do setor ao obter financiamentos ou mesmo na exportação de produtos. Isso é bastante comum. Na Europa, são negados negócios poderosos em função da questão ambiental, do trabalho escravo, de uma série de fatores. E a questão dos índios aqui também é preocupante. Não oferecer solução a essa população também traz prejuízos.

CC: Os índios terão condições de cultivar essas terras como os brancos?
RTA:
É um equívoco querer transformar os índios em produtores, tentar transformá-los em brancos. Eles têm o seu modo de vida, sua cultura, não tem a intenção de abandonar isso para se transformar num trabalhador rural, num profissional qualificado para determinado tipo de trabalho. Já se tentou isso numerosas vezes, seja pela Funai, seja pela atuação de missionários, e nunca deu certo. Os índios não querem ser brancos. Se os índios quisessem, já teriam feito, porque a relação de contato dos índios guaranis com os brancos é longa, de séculos. Parece-me da maior relevância que a sociedade entenda isso e compreenda que eles precisam do mínimo de terra para exercer o seu modo de ser, com a agricultura de subsistência, a caça e a pesca.

CC: Como se dá a relação dos guaranis com os brancos hoje?
RTA:
Fragmentos da sociedade indígena efetivamente têm uma relação mais próxima com os brancos. Conseqüentemente, eles são os que mais aparecem, os mais visíveis. São índios que têm um certo domínio com os nossos códigos e é com eles que os brancos dialogam. Mas isso é uma porcentagem bastante reduzida da população indígena. Os guaranis têm uma organização acéfala, baseada nas famílias extensas. Fala-se muito em liderança indígena. Quem seriam essas lideranças? Justamente aqueles que têm o domínio do nosso código, falam melhor a nossa língua e atuam como interlocutores. Se você entrar de fato das aldeias, descobrirá que a maioria fala muito mal o português e não pretende ter essa relação mais próxima conosco. Fazem questão de manter o seu modo de ser. E isso deve ser levado em conta. Se não for, o Estado brasileiro vai corroborar para o etnocídio. Impor nossa cultura é uma forma de matá-los culturalmente.

CC: E como resolver problemas como o alcoolismo e a violência dentro das aldeias guaranis?
RTA:
Fala-se muito do problema do alcoolismo entre os índios, mas não há nenhuma pesquisa acurada para verificar a dimensão do problema. Os jornais estampam:
índios bêbados. Mas quem são eles? Os mesmos problemas que nossa sociedade enfrenta, eles também enfrentam. Tanto que tivemos de fazer a lei seca para evitar as mortes nas estradas devido ao consumo irresponsável da bebida alcoólica. Há uma porcentagem dos índios que, ao ingerir álcool, pode trazer problemas. Mas é necessário fazer uma pesquisa acurada sobre o tema. Eu insisto na idéia do segmento. É muito fácil dizer que os índios são bêbados e vagabundos. Mas seria justo dizer que a sociedade brasileira é uma sociedade de bêbados porque uma porcentagem da população bebe e causa problemas? Também fala-se em droga e prostituição. Eu trabalho com eles há 35 anos e nunca vi um índio se drogando ou uma índia se prostituindo. Não estou dizendo que não existe, mas eu nunca vi. E olha que eu ando, eu circulo por essas bandas desde 1973. Há um senso comum orientado por interesses de diversas áreas, dos missionários aos proprietários rurais, permeado por uma dose grande de preconceito. Cria-se uma imagem de os índios são bêbados, drogados e vagabundos.

CC: Há muito preconceito em relação aos guaranis?
RTA:
Sem dúvida. Dizem, por exemplo, que eles não trabalham. Só que os índios têm uma noção muita clara de que quem não trabalha não sobrevive. Eles trabalham, mas não como nós. Os índios não vão se tornar capitalistas. Precisamos acabar com essa ilusão. Eles têm interesse, sim, de desenvolver a sua economia de subsistência. Estão interessadíssimos nisso. Eles querem trabalhar e ficam extremamente irritados de depender de cesta básica. Até quando o governo vai bancar cesta básica para todo mundo? A vida deles gira em torno da roça. A caça e a pesca são certamente valiosas para os guaranis, mas eles não são nômades. No Brasil, existe somente uma etnia nômade: os nhambiquaras. Mesmo assim, eles deixaram de ser, por diferentes razões. Mas aí vem o rótulo: nômades. Ora, se são nômades, não precisam de terra.

CC: Basta ter acesso à terra?
RTA:
Não, mas há experiências que comprovam que com pouquíssimo investimento é possível estruturar as comunidades indígenas, não há a necessidade de vultosos investimentos. Mas a terra é fundamental, e deve-se levar em conta a organização das famílias extensas de guaranis. Essas famílias pertencem a uma determinada terra e não permitem que qualquer índio ocupe a sua área. Isso só acontece em áreas delimitadas pelo governo.

CC: O elevado número de suicídios entre os guarani tem relação com esses conflitos fundiários, com a falta de terra?
RTA:
Em alguma medida. O suicídio faz parte da cultura guarani. Desde o século XVII, há o registro histórico do que os indígenas chamam de jejuvy, termo que significa “enforcar-se”. Sabidamente isso é da tradição guarani. Mas, ultimamente, há uma exacerbação do suicídio, que aparece de maneira mais veemente, em número muito maior. A taxa de suicídio entre os guarani é uma das mais elevadas do mundo. E isso também tem relação com essa convivência forçada em áreas muito pequenas. Não é justo dizer que os índios se suicidam por causa dos brancos. Não é isso. Mas a falta de terra potencializa o problema.

O paraíso da Santa Sé

Bento XVI tende a reforçar a interferência política da Igreja Católica no mundo e na Itália, ampliando o raio de ação atingido durante o pontificado de João Paulo II. Em visita à França entre 15 e 17 passados, o papa Ratzinger voltou ao tema da família em uma alocução aos bispos do país ao atacar as leis “que há décadas relativizam a sua natureza de célula primordial da sociedade”.

A Igreja, disse o papa, deve opor-se à legalização das uniões estáveis fora do matrimônio. Observe-se que a França é pioneira no reconhecimento dessas uniões, legalizadas dede 1999. “Amiúde – sublinhou –, as leis cuidam de adaptar-se aos hábitos e às reivindicações de certos indivíduos ou grupos, em lugar de promover o bem comum.”

Dias antes, na Itália, Ratzinger lamentara a ausência de verdadeiros católicos praticantes entre os políticos em geral e no próprio governo. Trata-se de manifestações que ofendem poucos e não surpreendem o mundo cristão, acostumado com as dubiedades de uma Igreja que diz preocupar-se com a saúde espiritual dos homens, mas na prática, age freqüentemente como poder temporal. E nem sempre a bem da humanidade.

Por exemplo. A Santa Sé, como paraíso fiscal, é muito mais segura que as Ilhas Cayman, e, se Daniel Dantas usufruísse de conhecimentos certos no Vaticano, com muitas probabilidades a Operação Satiagraha teria abortado ao nascer. O Instituto para as Obras de Religião, ou como todos o conhecem: IOR, este é o nome do banco do papa, que concede aos seus selecionadíssimos clientes juros mínimos de 12% ao ano, a garantia, além da segurança do capital, de proventos com risco zero, impensáveis no restante mundo ocidental, um anonimato blindado no caveau da torre onde se localiza a sede central do Instituto, com os seus 5 bilhões de euros.

Nos últimos 30 anos, o IOR esteve envolvido em todos os escândalos que assolaram a Itália, mas nunca nenhum juiz solicitou uma investigação, nem de rotina, para procurar compreender, caso houvessem, quais as responsabilidades dos banqueiros vaticanos. Não, não é uma ficção científica, mas apenas algumas revelações do La Questua, ensaio que há meses lidera as estatísticas de vendas na Itália, embora seja ignorado pela maioria dos mass media. No entanto, o volume é o fruto de anos de pesquisas realizadas por Curzio Maltese, jornalista investigativo do diário La Repubblica que há tempo indaga teimosamente sobre esses temas, batendo contra a parede de borracha das autoridades eclesiásticas.

Veja a íntegra na edição impressa de Carta Capital

O paraíso da Santa Sé

Bento XVI tende a reforçar a interferência política da Igreja Católica no mundo e na Itália, ampliando o raio de ação atingido durante o pontificado de João Paulo II. Em visita à França entre 15 e 17 passados, o papa Ratzinger voltou ao tema da família em uma alocução aos bispos do país ao atacar as leis “que há décadas relativizam a sua natureza de célula primordial da sociedade”.

A Igreja, disse o papa, deve opor-se à legalização das uniões estáveis fora do matrimônio. Observe-se que a França é pioneira no reconhecimento dessas uniões, legalizadas dede 1999. “Amiúde – sublinhou –, as leis cuidam de adaptar-se aos hábitos e às reivindicações de certos indivíduos ou grupos, em lugar de promover o bem comum.”

Dias antes, na Itália, Ratzinger lamentara a ausência de verdadeiros católicos praticantes entre os políticos em geral e no próprio governo. Trata-se de manifestações que ofendem poucos e não surpreendem o mundo cristão, acostumado com as dubiedades de uma Igreja que diz preocupar-se com a saúde espiritual dos homens, mas na prática, age freqüentemente como poder temporal. E nem sempre a bem da humanidade.

Por exemplo. A Santa Sé, como paraíso fiscal, é muito mais segura que as Ilhas Cayman, e, se Daniel Dantas usufruísse de conhecimentos certos no Vaticano, com muitas probabilidades a Operação Satiagraha teria abortado ao nascer. O Instituto para as Obras de Religião, ou como todos o conhecem: IOR, este é o nome do banco do papa, que concede aos seus selecionadíssimos clientes juros mínimos de 12% ao ano, a garantia, além da segurança do capital, de proventos com risco zero, impensáveis no restante mundo ocidental, um anonimato blindado no caveau da torre onde se localiza a sede central do Instituto, com os seus 5 bilhões de euros.

Nos últimos 30 anos, o IOR esteve envolvido em todos os escândalos que assolaram a Itália, mas nunca nenhum juiz solicitou uma investigação, nem de rotina, para procurar compreender, caso houvessem, quais as responsabilidades dos banqueiros vaticanos. Não, não é uma ficção científica, mas apenas algumas revelações do La Questua, ensaio que há meses lidera as estatísticas de vendas na Itália, embora seja ignorado pela maioria dos mass media. No entanto, o volume é o fruto de anos de pesquisas realizadas por Curzio Maltese, jornalista investigativo do diário La Repubblica que há tempo indaga teimosamente sobre esses temas, batendo contra a parede de borracha das autoridades eclesiásticas.

Veja a íntegra na edição impressa de Carta Capital

Divertir para converter: igreja vira rave e reúne centenas em São Paulo

“Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”, disse Jesus aos irmãos Simão e André enquanto andava à beira do mar da Galiléia, tal como narra o Novo Testamento em Mateus 4:19. Quase dois mil anos depois, a busca por fiéis continua intensa, mas toca-discos e caixas de som já fazem as vezes de linha e anzol na pescaria de homens. É assim, agregando jovens cristãos e não-cristãos sob lasers e estrobos, com o fio condutor da música eletrônica gospel, que eventos como o Arena Beats, da igreja Sara Nossa Terra, vêm captando centenas de novos devotos com a força das batidas.

Para conferir até que ponto a proposta de converter na pista de dança dá liga, visitamos a quarta edição do Arena no último sábado (20), na sede da SNT localizada na Rua Augusta, em São Paulo. Sem cigarros, drinks, quaisquer entorpecentes ou registro de brigas, a festa juntou 700 pessoas ao som dos DJs MP7, Mitchu, Bortolato, Debby e Olvr. Eles se engajaram em comandar salves para Jesus das 22h às 5h30 da manhã.

Para Nilton Fernandes, que idealizou e produz o evento desde 2005, esta edição deu sinais de que a produção do Arena viveu um aperfeiçoamento em relação a anos anteriores. “O painel de LED, a guitarra ao vivo, o MC acompanhando os DJs e até um desfile da Riachuelo agregaram valor ao evento, que ganhou essa cara mix”. O produtor, que realiza festas eletrônicas também junto a outras comunidades religiosas de São Paulo, acredita que as raves são espaços perfeitos para “arregimentar”, isto é, trazer novos fiéis aos cultos.

“A prova disso será o culto do sábado que vem. Após um evento como este, o número de jovens cristãos na igreja sempre aumenta”, garante. “Há inclusive muitos que entram em contato com o evangelho em uma rave e depois acabam virando até líderes de célula em uma igreja após a festa”.

Um desses líderes de célula, ou seja, de “reuniões semanais que acontecem na casa de um irmão que está precisando da palavra de Deus”, Thiago Guimarães, 18, marcou presença no Arena Beats. Habitué das raves de Jesus, ele contou o quanto curte a idéia de mostrar aos jovens que eles podem “ter Deus na balada, enquanto curtem psy ou d&b”. Convertido há três anos, acredita que uma das grandes vantagens da festa é a pregação da alegria e da celebração de maneira saudável. “Antes de me converter, sentia um vazio muito grande e tentava preenchê-lo com bebidas, drogas e sexo. Hoje o espaço foi totalmente preenchido por Jesus”.

Assim como Thiago, as amigas Débora Regina (23), Erica Bruno (32) e Priscila Magro (25) eram pura alegria. “É a primeira vez que a gente vem ao Arena. O mais legal nesse tipo de balada é a oportunidade de fazer amigos. Ficamos muito fechados em nossa própria igreja e aqui a gente pode conhecer pessoas de igrejas diferentes”.

A falta de combustível alcoólico parecia não fazer a menor a falta para as garotas. Uma delas, Débora, estava até rouca, de tanto se jogar. “É engraçado porque todo mundo pensa em igreja evangélica como uma coisa careta e chata. Dá pra fazer tudo o que se faz em uma balada normal, só que com lucidez, sem a ação de álcool e entorpecentes”.

Sem bebidas, sem drogas e sem… amassos. As meninas garantem que até rola uma troca de telefones, mas fiel que é fiel não beija na pista. “Acho que o nosso grande diferencial é que valorizamos nosso tempo, porque sabemos que somos a carne do senhor”, diz Erica, que só pretendia deixar o Arena quando a última luz se acendesse.

Divertir para converter: igreja vira rave e reúne centenas em São Paulo

“Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”, disse Jesus aos irmãos Simão e André enquanto andava à beira do mar da Galiléia, tal como narra o Novo Testamento em Mateus 4:19. Quase dois mil anos depois, a busca por fiéis continua intensa, mas toca-discos e caixas de som já fazem as vezes de linha e anzol na pescaria de homens. É assim, agregando jovens cristãos e não-cristãos sob lasers e estrobos, com o fio condutor da música eletrônica gospel, que eventos como o Arena Beats, da igreja Sara Nossa Terra, vêm captando centenas de novos devotos com a força das batidas.

Para conferir até que ponto a proposta de converter na pista de dança dá liga, visitamos a quarta edição do Arena no último sábado (20), na sede da SNT localizada na Rua Augusta, em São Paulo. Sem cigarros, drinks, quaisquer entorpecentes ou registro de brigas, a festa juntou 700 pessoas ao som dos DJs MP7, Mitchu, Bortolato, Debby e Olvr. Eles se engajaram em comandar salves para Jesus das 22h às 5h30 da manhã.

Para Nilton Fernandes, que idealizou e produz o evento desde 2005, esta edição deu sinais de que a produção do Arena viveu um aperfeiçoamento em relação a anos anteriores. “O painel de LED, a guitarra ao vivo, o MC acompanhando os DJs e até um desfile da Riachuelo agregaram valor ao evento, que ganhou essa cara mix”. O produtor, que realiza festas eletrônicas também junto a outras comunidades religiosas de São Paulo, acredita que as raves são espaços perfeitos para “arregimentar”, isto é, trazer novos fiéis aos cultos.

“A prova disso será o culto do sábado que vem. Após um evento como este, o número de jovens cristãos na igreja sempre aumenta”, garante. “Há inclusive muitos que entram em contato com o evangelho em uma rave e depois acabam virando até líderes de célula em uma igreja após a festa”.

Um desses líderes de célula, ou seja, de “reuniões semanais que acontecem na casa de um irmão que está precisando da palavra de Deus”, Thiago Guimarães, 18, marcou presença no Arena Beats. Habitué das raves de Jesus, ele contou o quanto curte a idéia de mostrar aos jovens que eles podem “ter Deus na balada, enquanto curtem psy ou d&b”. Convertido há três anos, acredita que uma das grandes vantagens da festa é a pregação da alegria e da celebração de maneira saudável. “Antes de me converter, sentia um vazio muito grande e tentava preenchê-lo com bebidas, drogas e sexo. Hoje o espaço foi totalmente preenchido por Jesus”.

Assim como Thiago, as amigas Débora Regina (23), Erica Bruno (32) e Priscila Magro (25) eram pura alegria. “É a primeira vez que a gente vem ao Arena. O mais legal nesse tipo de balada é a oportunidade de fazer amigos. Ficamos muito fechados em nossa própria igreja e aqui a gente pode conhecer pessoas de igrejas diferentes”.

A falta de combustível alcoólico parecia não fazer a menor a falta para as garotas. Uma delas, Débora, estava até rouca, de tanto se jogar. “É engraçado porque todo mundo pensa em igreja evangélica como uma coisa careta e chata. Dá pra fazer tudo o que se faz em uma balada normal, só que com lucidez, sem a ação de álcool e entorpecentes”.

Sem bebidas, sem drogas e sem… amassos. As meninas garantem que até rola uma troca de telefones, mas fiel que é fiel não beija na pista. “Acho que o nosso grande diferencial é que valorizamos nosso tempo, porque sabemos que somos a carne do senhor”, diz Erica, que só pretendia deixar o Arena quando a última luz se acendesse.

Governo do presidente Lula atinge melhor avaliação desde 1998, diz CNT/Sensus

GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em setembro deste ano a melhor avaliação positiva na história da pesquisa CNT/Sensus, realizada desde 1998. Segundo a pesquisa divulgada hoje, o governo Lula recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra 6,8% que o avaliaram negativamente. Entre os entrevistados, 23,2% avaliaram o governo Lula como regular.

Na última edição da pesquisa CNT/Sensus, em abril deste ano, a avaliação positiva do governo era de 57,5% –um crescimento de mais de dez pontos percentuais. A avaliação negativa foi de 11,3% em abril, enquanto a regular chegou a 29,6%. Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.

A avaliação pessoal do presidente Lula também subiu de 69,3% para 77,7% entre abril e setembro deste ano. Somente 16,6% desaprovaram o presidente, enquanto 5,7% não responderam. Os índices de popularidade de Lula só perderam, em setembro de 2008, para as avaliações de sua popularidade registradas em 2003 –o ano em que foi empossado no cargo– quando obteve 83,6% de aprovação.

O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, disse que a popularidade recorde do governo Lula é conseqüência de políticas adotadas nas áreas econômica e social. “Isso repousa na economia e na redução dos problemas sociais, estabilidade econômica, poder de compra e salário mínimo. Se criou uma estabilidade no campo econômico validada com a presença do vice-presidente José Alencar no governo, que é empresário”, afirmou Guedes.

Na avaliação do diretor do Sensus, a popularidade do presidente Lula mostra que ele se tornou o maior cabo eleitoral do país. “Ele é o grande cabo eleitoral, tem força de transferência de voto, mas o candidato tem que ser palatável politicamente”, afirmou.

A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 15 e 17 de setembro em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

Governo do presidente Lula atinge melhor avaliação desde 1998, diz CNT/Sensus

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GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em setembro deste ano a melhor avaliação positiva na história da pesquisa CNT/Sensus, realizada desde 1998. Segundo a pesquisa divulgada hoje, o governo Lula recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra 6,8% que o avaliaram negativamente. Entre os entrevistados, 23,2% avaliaram o governo Lula como regular.

Na última edição da pesquisa CNT/Sensus, em abril deste ano, a avaliação positiva do governo era de 57,5% –um crescimento de mais de dez pontos percentuais. A avaliação negativa foi de 11,3% em abril, enquanto a regular chegou a 29,6%. Em janeiro de 2003, a avaliação do governo chegou a 56,6%, depois registrou queda. Mas voltou a crescer desde o início deste ano, já em seu segundo mandato.

A avaliação pessoal do presidente Lula também subiu de 69,3% para 77,7% entre abril e setembro deste ano. Somente 16,6% desaprovaram o presidente, enquanto 5,7% não responderam. Os índices de popularidade de Lula só perderam, em setembro de 2008, para as avaliações de sua popularidade registradas em 2003 –o ano em que foi empossado no cargo– quando obteve 83,6% de aprovação.

O diretor do Instituto Sensus, Ricardo Guedes, disse que a popularidade recorde do governo Lula é conseqüência de políticas adotadas nas áreas econômica e social. “Isso repousa na economia e na redução dos problemas sociais, estabilidade econômica, poder de compra e salário mínimo. Se criou uma estabilidade no campo econômico validada com a presença do vice-presidente José Alencar no governo, que é empresário”, afirmou Guedes.

Na avaliação do diretor do Sensus, a popularidade do presidente Lula mostra que ele se tornou o maior cabo eleitoral do país. “Ele é o grande cabo eleitoral, tem força de transferência de voto, mas o candidato tem que ser palatável politicamente”, afirmou.

A pesquisa CNT/Sensus foi realizada entre os dias 15 e 17 de setembro em 136 municípios de 24 Estados. Foram ouvidas 2.000 pessoas A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.

FGV: renda dos mais pobres cresceu 49% em seis anos

por ALESSANDRA SARAIVA – Agencia Estado

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RIO – A desigualdade na renda dos brasileiros apresentou uma grande redução de ritmo de 2001 a 2007. A renda acumulada dos 10% mais pobres da população brasileira cresceu 49,25% no País no período, patamar mais de sete vezes superior ao aumento da renda acumulada no período entre os 10% mais ricos da população (6,70%). A análise é do pesquisador Marcelo Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), que divulgou hoje o levantamento “Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade”.
A pesquisa foi feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) anunciada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esse período trouxe muitas notícias boas no campo da renda, como aumento do emprego com carteira assinada, por exemplo”, comentou o pesquisador. Entretanto, ele observou que, especificamente no ano de 2007, os 10% mais pobres da população sentiram um recuo de 5,22% em sua renda média, em comparação com os ganhos de 2006. A ausência de expansão em programas assistenciais no ano passado, como o Bolsa Família, pode ter contribuído para isso.
O pesquisador comentou que a desigualdade de renda, que ficou estagnada entre 1970 e 2000, sofreu sucessivas quedas anuais de 2001 a 2007. “Não há, na história documentada brasileira, que vem desde 1960, nada similar à redução de desigualdade observada desde 2001”, afirmou. “Somente de 2006 para 2007, 1,5 milhão de pessoas cruzaram a linha da miséria (abaixo dos R$ 135 mensais por pessoa)”, afirmou.
Ele lembrou que, de acordo com o levantamento, em 2007 a classe dos miseráveis abrange 18,11% do total da população brasileira, sendo que em 2006 essa fatia era maior, de 19,18%.
“No ano de 2007, quem mais ganhou foi a camada ”do meio” da população, a chamada classe média”, assinalou Neri, explicando que isso é mais um sinal do recuo da desigualdade do País. De 2006 para 2007, a classe média saltou de 45,08% para 47,06% do total da população brasileira. “De 2001 até 2007, muitos miseráveis saíram da classe E e nem passaram pela classe D: foram direto para a classe C, que nós consideramos classe média”, afirmou.
O CPS/FGV considera como classe E famílias com renda mensal entre zero até R$ 768. Por sua vez, as famílias de classe D seriam com rendimento entre R$ 768 até R$ 1.064. Já a classe média abarcaria renda mensal entre R$ 1.064 até R$ 4.591.
Para Neri, o ano de 2007 se apresenta como uma síntese do que ocorreu entre os principais indicadores sociais ao longo da década. Ele explicou que a renda per capita no ano passado cresceu 2,26%, porcentual próximo ao registrado na média dos últimos sete anos até 2007 (2,5% ao ano). “Além disso, o ritmo de redução da miséria em 2007 está duas vezes mais rápida do que o requerido para atender às metas de redução de extrema pobreza das metas do milênio da ONU (que é de queda de 2,73% ao ano)”, disse. “Se tivermos os próximos 10 anos iguais aos de 2007, o Brasil mudará bastante e para melhor”, disse.

FGV: renda dos mais pobres cresceu 49% em seis anos

por ALESSANDRA SARAIVA – Agencia Estado

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RIO – A desigualdade na renda dos brasileiros apresentou uma grande redução de ritmo de 2001 a 2007. A renda acumulada dos 10% mais pobres da população brasileira cresceu 49,25% no País no período, patamar mais de sete vezes superior ao aumento da renda acumulada no período entre os 10% mais ricos da população (6,70%). A análise é do pesquisador Marcelo Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), que divulgou hoje o levantamento “Miséria e a Nova Classe Média na Década da Igualdade”.
A pesquisa foi feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) anunciada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esse período trouxe muitas notícias boas no campo da renda, como aumento do emprego com carteira assinada, por exemplo”, comentou o pesquisador. Entretanto, ele observou que, especificamente no ano de 2007, os 10% mais pobres da população sentiram um recuo de 5,22% em sua renda média, em comparação com os ganhos de 2006. A ausência de expansão em programas assistenciais no ano passado, como o Bolsa Família, pode ter contribuído para isso.
O pesquisador comentou que a desigualdade de renda, que ficou estagnada entre 1970 e 2000, sofreu sucessivas quedas anuais de 2001 a 2007. “Não há, na história documentada brasileira, que vem desde 1960, nada similar à redução de desigualdade observada desde 2001”, afirmou. “Somente de 2006 para 2007, 1,5 milhão de pessoas cruzaram a linha da miséria (abaixo dos R$ 135 mensais por pessoa)”, afirmou.
Ele lembrou que, de acordo com o levantamento, em 2007 a classe dos miseráveis abrange 18,11% do total da população brasileira, sendo que em 2006 essa fatia era maior, de 19,18%.
“No ano de 2007, quem mais ganhou foi a camada ”do meio” da população, a chamada classe média”, assinalou Neri, explicando que isso é mais um sinal do recuo da desigualdade do País. De 2006 para 2007, a classe média saltou de 45,08% para 47,06% do total da população brasileira. “De 2001 até 2007, muitos miseráveis saíram da classe E e nem passaram pela classe D: foram direto para a classe C, que nós consideramos classe média”, afirmou.
O CPS/FGV considera como classe E famílias com renda mensal entre zero até R$ 768. Por sua vez, as famílias de classe D seriam com rendimento entre R$ 768 até R$ 1.064. Já a classe média abarcaria renda mensal entre R$ 1.064 até R$ 4.591.
Para Neri, o ano de 2007 se apresenta como uma síntese do que ocorreu entre os principais indicadores sociais ao longo da década. Ele explicou que a renda per capita no ano passado cresceu 2,26%, porcentual próximo ao registrado na média dos últimos sete anos até 2007 (2,5% ao ano). “Além disso, o ritmo de redução da miséria em 2007 está duas vezes mais rápida do que o requerido para atender às metas de redução de extrema pobreza das metas do milênio da ONU (que é de queda de 2,73% ao ano)”, disse. “Se tivermos os próximos 10 anos iguais aos de 2007, o Brasil mudará bastante e para melhor”, disse.