Arquivo mensal: dezembro 2012

Argentina: o Leviatã midiático

Fala-se muito, e com razão, da guerra declarada por Cristina Kirchner ao grupo Clarín, que além de ter o jornal de maior circulação na Argentina detém o controle de mais da metade do mercado de televisão e rádio. Pouco ou nada se diz da guerra do grupo contra o governo. É como se fosse a batalha de um lado só.
Há um terceiro ator nesse confuso enredo, a Justiça. O desenlace final não oferece muitas opções: a Lei de Serviços de Comunicação -Audiovisual, conhecida por Lei de Meios ou Lei de Mídia, entrará em vigor. O problema é saber quando. Entre idas e vindas, diferentes instâncias da Justiça ora prorrogam, ora dão por suspensa uma medida liminar conseguida pelo grupo. Seja como for, o juiz Horacio Alfonso determinou que a lei é constitucional. O grupo recorreu, o recurso foi aceito, mas isso significa apenas, na opinião da maioria dos juristas argentinos, mais tempo até que se chegue à aplicação da legislação aprovada, em 2009, pela maioria do Congresso, contando com nutridos votos da oposição.
Não era exatamente o que esperava o governo. A data, inicialmente determinada pela Corte Suprema, era a sexta-feira 7. O governo apostou alto. No domingo 9 estava programada uma imensa festa popular, para celebrar, de uma vez só, o dia dos Direitos Humanos (10 de dezembro) e o primeiro ano do segundo mandato de Cristina Kirchner – além, claro, da entrada em vigor da lei. Mais de meio milhão de argentinos cobriram a Plaza de Mayo e seus arredores. Uma espécie de resposta dos apoiadores de Cristina Kirchner às manifestações convocadas pela oposição. Em outras cidades do país, a mesma data reuniu outro tanto de gente.
Faltou, porém, o prêmio ansiado: na mesma sexta-feira em que deveria entrar em vigor, a lei acabou adiada novamente. A Câmara Civil e Comercial, uma espécie de vara da Justiça destinada a assuntos comerciais, tornou a prorrogar a liminar pedida pelo Clarín. O governo reagiu mal, com a habilidade de um dromedário embriagado, ao criticar duramente a decisão. Ou seja, uma vez mais abriu flancos para receber ataques furibundos dos grupos hegemônicos de comunicação, agora sob o argumento de pressão sobre juízes.
Vale anotar que parte das críticas duras do governo aos integrantes da Câmara Civil e Comercial se deveu ao fato de um de seus três juízes ter viajado a Miami à custa do Clarín.
Enroscos judiciais à parte, a faceta mais visível da briga entre o governo e o Clarín gira ao redor de um mesmo eixo, a formidável concentração de meios nas mãos do grupo. Nunca é demais repetir sua participação no mercado: 42% das licenças de rádio, 59% da televisão fechada (a cabo), 39% da televisão aberta. São 254 canais de televisão a cabo (algumas fontes mencionam apenas 237, o grupo diz que na verdade são 158, a nova lei diz que não podem ser mais do que 24 licenças), duas dúzias de televisões abertas (o limite permitido é dez). Promover a desconcentração caberá a Martín Sabatella, diretor da Autoridade de Serviços de Comunicação Audiovisual.
Há outros 20 grupos que acumulam licenças em volume muito superior ao permitido pela lei. Todos eles, inclusive gigantes como a Telefónica espanhola e o grupo, também espanhol, Prisa, concordaram em cumprir a lei e vivem agora um período de adequação. O fundo de investimentos -Fintech -Advisory, sócio do grupo Clarín na operadora de televisão a cabo Cablevisión, concordou em acatar a lei. O Clarín disse tratar-se de um sócio minoritário, sem poder de decisão. Detalhe: o fundo detém 40% das ações da Cablevisión. Não é um minoritário qualquer.
Essa história ainda vai se arrastar. Por quanto tempo, ninguém sabe. A distorção do noticiário dos meios do grupo Clarín não tem limites. Denunciam graves atentados à liberdade de expressão, e encontram amplo eco em seus congêneres em outros países, a começar, claro, pelo Brasil, onde cinco grupos dão as cartas.
Evidentemente, não é de liberdade de expressão que se trata, e sim da liberdade de acumular concessões. O objetivo da lei é criar mecanismos que impeçam semelhante concentração, principalmente de televisão fechada, que na Argentina tem um alcance muito maior que no Brasil (perto de 86% dos domicílios têm televisão a cabo ou via satélite). Isso, claro, para não mencionar a convergência com a internet de banda larga, que abocanha quase a metade do mercado argentino.
Cabe registrar que o governo de Cristina Kirchner não é, nem de longe, pioneiro nessa batalha contra a concentração e, muito especialmente, contra o Clarín. O primeiro presidente pós-ditadura, Raúl Alfonsín, tentou a mesma coisa. Chegou a mandar fiscais da Receita invadirem a empresa e durante meses virar pelo avesso sua contabilidade. Carlos Menem, por sua vez, pretendeu podar as asas famintas do grupo. Optou depois pela conciliação. Nestor Kirchner preferiu o caminho da cooptação: no fim de seu governo permitiu a fusão entre os canais Globovisión e Multicanal, o que consolidou de vez a hegemonia do grupo. A boa relação foi rompida em 2008, quando o Clarín se opôs com ferocidade à nova legislação fiscal sobre exportações agrícolas. Ninguém parece lembrar que os acionistas do grupo são acionistas de grandes companhias do agronegócio. Enfim, de onde quer que se olhe há razões de sobra para que todos os presidentes argentinos desde a redemocratização de 1983 – Alfonsín, Menem, Kirchner e agora sua viúva e sucessora, Cristina – tenham tentado conter semelhante poder, semelhante avidez. Nenhum deles, porém, bateu tanto quando a atual presidente.
Por trás desse conglomerado gigantesco, além do mais, há histórias escabrosas. O jornal Clarín surgiu em 1945, de forma relativamente modesta. Seu fundador, Roberto Noble, era um fervoroso admirador de duas figuras que haviam marcado época e deixado um rastro de barbaridades: um italiano chamado Benito Mussolini e um austríaco chamado Adolf Hitler.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, vencidos e mortos os dois, Noble achava que parte de suas ideias merecia ser resgatada. Quando Juan Domingo Perón foi derrubado por um golpe militar em 1955, o Clarín demonstrou claras simpatias pelo novo regime. E assim foi. Havia outros grandes jornais que faziam pesada sombra. E se hoje é um dos diários de maior circulação na América Latina, até a última ditadura militar argentina (1976-1983) nunca deixou de ser um jornal de segunda linha, sem a tradição do conservador La Nación ou a ousadia de publicações que inovaram a imprensa do país, como a revista Primera Plana dos anos 60 ou o jornal La -Opinión dos primeiros anos 70.
Na ditadura, o jornal ganhou corpo e voz. E tornou-se um grupo importante, graças às manobras de seu executivo, Héctor Magnetto, que começou como contador e hoje é o segundo maior acionista da empresa. Além da cumplicidade aberta com o regime genocida, o jornal – ao lado do vetusto La Nación e o popularesco (hoje desaparecido) La Razón – conseguiu um maná a preço de banana: apoderar-se da Papel Prensa, única fábrica papeleira da Argentina. A apropriação é uma das tantas histórias de horror absoluto da ditadura iniciada pelo general Jorge Rafael Videla e continuada por outros adeptos da barbárie como meio de vida.
A Papel Prensa era, por certo, um negócio confuso. Foi fundada durante os efêmeros governos peronistas por um jovem e ousado financista, David Graiver, que contava com o apoio de José Gelbard, ministro de Economia de Héctor Cámpora e do próprio Perón. Graiver morreu num misterioso desastre aéreo no México, em agosto de 1976, quando a ditadura encabeçada por Videla cumpria cinco meses de horror. Sua viúva, Lidia Papaleo de Graiver, e a filha eram as herdeiras majoritárias, além de outros familiares do marido.
Naquele período, além de torturar, assassinar, desaparecer e mandar para o exílio dezenas de milhares de argentinos, os militares se distraiam apoderando-se dos bens de suas vítimas. Graiver era especialmente odiado. Além de judeu, era considerado (e muito, possivelmente com razão) o administrador da fortuna do grupo guerrilheiro peronista Montoneros, criada a partir de resgates milionários obtidos em sequestros. A Papel Prensa era um butim muito ambicionado.
Logo depois da morte de Graiver, sua viúva voltou para a Argentina. Queria cuidar das propriedades do marido morto. Foi quando conheceu a face cruel da ditadura e o rosto macabro de Magnetto. Presa, foi pressionada a vender as ações da Papel Prensa para um trio formado pelo Clarín, o La Prensa e o La Razón, além de uma participação que permanecia nas mãos do Estado.
Fragilizada, sob todo tipo de pressão – ameaçavam matá-la e desaparecer com sua filha, na época um bebê de 1 ano de vida –, capitulou. Vendeu suas ações e recebeu como sinal cerca de 8 mil dólares. O resto – outros 2 milhões, preço insignificante diante do que a Papel Prensa realmente valia – nunca foi pago. Até hoje ela move, na Justiça argentina, um processo na tentativa de receber o combinado. Neste ano, diante de um tribunal, ela contou como foi a venda e, principalmente, o que aconteceu em seguida.
Disse que pouco depois de ter assinado a papelada, foi presa. Há razões para que a prisão acontecesse depois da venda da Papel Prensa. Uma lei determinava que os bens dos subversivos presos ou mortos passassem diretamente às mãos do Estado. A ditadura queria compensar seus aliados da mídia. Prender Lidia Papaleo significaria passar a única fábrica de papel do país para o Estado. Feita a transação, sobrava uma viúva jovem, atraente, e certamente dona do segredo de outros milhões de dólares. Seus algozes queriam encontrar o dinheiro deixado por Graiver.
Diante do tribunal, Lidia Papaleo contou como foi violada, agredida, vexada. Teve o tímpano arrebentado a golpes de mão aberta contra o ouvido. Muitas vezes, depois de estuprada, era levada de volta para a cela e jogada, nua, no chão. “E então, contou ela ao juiz, ‘eles vinham e cuspiam, urinavam e ejaculavam em cima de mim’.”
Contou que até hoje, em seus pesadelos, revê o rosto de seus torturadores. E disse que nenhum desses rostos a amedronta mais que o do homem que a pressionou para assinar os documentos da venda da Papel Prensa. Os olhos do homem que dizia, com uma voz serena e calma, que ou ela assinava, ou veria sua filha ser morta, antes de ela mesma ser assassinada.
Esse homem chama-se Héctor Magnetto e é o presidente do Clarín, do qual detém 33% das ações.
Graças a ele e aos seus métodos, o grupo tornou-se o que é hoje. É ele o patrão dos paladinos que dizem e asseguram que a Lei de Meios é um atentado à liberdade de expressão. É à sua voz que fazem eco os conglomerados de comunicação do Brasil.
Cristina Kirchner acaba de cumprir o primeiro ano de seu segundo mandato, envolvida numa briga tremenda com o grupo capitaneado por semelhante personagem.
O país enfrenta, seu governo também enfrenta, é verdade, um amontoado de problemas significativos. A inflação está em níveis elevadíssimos (deve rondar ou superar a marca dos 25%, em 2012), a economia apenas engatinha após anos de forte impulso, a classe média concentrada, principalmente, em Buenos Aires, e que sempre expressou contra o peronismo algo muito parecido ao preconceito (quando não ao ódio) de classe, se opõe de maneira cada vez mais radical a tudo o que seu governo faz.
Há acusações de corrupção, e, certamente, uma parte consistente delas tem fundamento. Os investidores desconfiam de suas ações, algumas multinacionais abandonam o país, há sérias dificuldades para obter divisas e honrar os compromissos internacionais.
Nada disso parece insolúvel. Se ela conseguir, e tudo indica que conseguirá, desmontar um conglomerado ávido e feroz, que nasce a partir de uma história de horror e indecência, terá deixado uma significativa marca. E um exemplo – outro – para os vizinhos: da mesma forma que é possível resgatar o passado e fulminar a impunidade de quem cometeu crimes de lesa-humanidade, é possível desmontar os monopólios e democratizar a informação.

A secularização da Polônia

Gianni Carta

Sentada em um café na Rynek Mariacki, em Cracóvia, Agnieszka Kostecka, uma publisher de 38 anos, diz: “O mundo está em evolução, mas a Igreja Católica não acompanha suas mudanças, e, assim, não está em sintonia com a realidade”.
Católica praticante, Kostecka cita exemplos dessas mudanças a ocorrer principalmente nas grandes cidades polonesas (e europeias): casais, inclusive aqueles formados por pessoas do mesmo sexo, coabitam sem a benção da igreja; questiona-se, entre outras críticas, a proibição do uso de anticoncepcionais; diante de centenas de milhares de abortos, numerosos cidadãos são favoráveis à legalização do aborto; jovens e menos jovens com inclinações liberais não aprovam a interferência da igreja na política.
Segundo uma recente enquete, 95% dos poloneses ainda se dizem católicos – mas destes menos de 30% se julgam profundamente religiosos. Mais: pouco mais de 40% dos jovens vão à missa aos domingos, ante mais de 60% no início da década de 1990. Ainda assim, a Polônia continua a ser o país mais católico da Europa.
“A Igreja Católica é um dos últimos enclaves da era comunista”, argumenta o Grzegorz Makowski, professor de Ciências Sociais do Collegium Civitas, braço do Instytut Spraw Publicznych (Estudos de Políticas Públicas), um think tank em Varsóvia.
Como assim?
Segundo Makowski, durante a era comunista (1945-89) as pessoas engajadas em práticas religiosas neste país não o faziam “somente para satisfazer buscas espirituais”, mas também porque queriam ter mais liberdade em um regime ditatorial. E, de fato, o papel da Igreja Católica, e de João Paulo II, o papa polonês, foi fundamental para fazer naufragar o comunismo.
No entanto, com o fim do comunismo o inimigo da Igreja Católica passou a ser o Estado secular e democrático. “A igreja mostrou-se
O sociólogo Michal Nowosielski, diretor do Institytut Zachodni (Estudos Ocidentais) concorda com Makowski. “Após mais de 40 anos de comunismo, o papel da igreja mudou”, pondera. Ademais, “a modernização provocou uma maior laicidade”. Nesse contexto, a Igreja Católica tenta “preservar” seu papel na sociedade e na política. No entanto, essa é uma batalha perdida porque existem diferentes facções entre aqueles a liderar a igreja, argumenta Nowosielski
Os ultraconservadores da igreja, comparáveis aos evangélicos no Brasil, usam todos os meios para exprimir seus ideais. A Radio Maryia, por exemplo, argumentava que o ingresso da Polônia na União Europeia traria males da Europa Ocidental para este país. E agora faz campanha contra os “males” – coabitação, casais do mesmo sexo, etc.
Na mesma linha, párocos da velha guarda continuam a influenciar aqueles que ainda frequentam a igreja. Seus poderes são maiores em pequenas cidades como Sanok, no sudeste do país. Eles orientam os fiéis cristãos, por exemplo, em quem votar.
Algo que nas grandes cidades não funciona.
Até em Cracóvia, considerada a grande cidade (1 milhão de habitantes) mais conservadora da Polônia. Quando, nas últimas legislativas, um padre opinou quem era o melhor candidato, a mãe de Kostecka, também ela católica praticante, levantou-se da primeira fila, e, diante de olhares perplexos, foi embora.
Kostecka, a filha, também não vai mais a igreja com frequência. “Os padres não sabem mais se comunicar com os fiéis”, diz. Mas, claro, há exceções. Ela cita o exemplo de Mieczyslaw Malinski, um padre que sempre incluía no seu sermão algumas breves opiniões sobre fatos da atualidade. “Malinski nos fazia refletir.” No entanto, ele foi acusado de ter colaborado com os comunistas, e, já idoso, sua saúde se deteriorou e hoje ele não sai mais de casa.
Outro problema a afastar as novas gerações da igreja, diz Makowski, do Collegium Civitas, “é a falta de uma educação religiosa nas escolas em sintonia com os novos tempos”. Nas escolas públicas, ninguém é obrigado a frequentar essas aulas. No entanto, quem não as cursa, especialmente nas pequenas cidades, não é bem conceituado.

Quando o filho mais jovem de Kostecka, de 10 anos, encontrou um preservativo ainda na sua embalagem no banheiro de sua escola católica, a direção, conta a mãe, tratou o assunto “como se fosse o fim do mundo”. “Era o momento de explicar para os alunos para que serve um preservativo”, pondera Kostecka. Por outro lado, na escola pública de seu filho mais velho, de 13 anos, a professora de religião ensina a história das principais crenças. O jovem está fascinado com o Islã. “Isso é sinal que a professora ensina seus alunos a tolerância, pilar da religião católica.”
A professora em questão é, contudo, uma exceção.
Por essas e outras, o ateu Tomek Szkodzinski, um artista gráfico, de 31 anos, diz que não batizará o filho que está por nascer. Isso porque se 95% dos poloneses se dizem católicos é porque são, por tradição, batizados.
Indago a Szkodzinski se os fatos de ele ser ateu e não batizar seu filho não chocam seus interlocutores. “Eu não diria nada disso aos meus avós, mas meus pais e amigos não têm reações radicais.”
E se seu filho um dia optar pelo catolicismo? “Respeitarei sua decisão, mas explicarei a ele que na maioria dos casos aqui na Polônia os arautos da religião ensinam a intolerância.”

Lula diz que vai para as ruas em 2013

Lula durante seu discurso. Foto: Paulo de Souza/SMABC
Durante quase 50 minutos, a plateia formada por trabalhadores, sindicalistas, políticos, militantes dos movimentos social e estudantil, ficou em absoluto silêncio para ouvir o discurso do ex-presidente Lula, convidado de honra do evento de posse do novo presidente do Sindicato Rafael Marques.
Em sua fala, Lula recomendou aos trabalhadores que não aceitem as provocações dos opositores contra o legado de seu governo e afirmou que voltará a andar pelo Brasil no ano que vem.
“Para alegria de muitos e tristeza de alguns vou voltar a andar pelo Brasil, pois ainda acho que tem muita coisa a se fazer por esse País, tem muito candidato nas prefeituras e nos Estados para serem eleitos”, disse. E prosseguiu.
“O que mais machuca os adversários é o meu sucesso. Como eles podem suportar que um metalúrgico, quase analfabeto, saia do chão de fábrica e faça o que eles nunca fizeram quando governaram”, disse Lula, arrancando aplausos dos espectadores, que gritaram em côro: “O Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”.

Rafael Marques, Lula e Sérgio Nobre. Foto: Paulo de Souza/SMABC
Evolução
O ex-presidente da República contou histórias de seu período à frente da presidência do Sindicato, nas décadas de 1970 e 1980, destacando o amadurecimento da categoria até os dias de hoje.
“Aqui, se não tiver votos no chão de fábrica, não se elege. O processo eleitoral dos Metalúrgicos do ABC é uma prova de democracia para toda a classe trabalhadora”, enfatizou. Em seguida, Lula parabenizou Rafael Marques pelo novo cargo.
“Fico feliz de ver o Rafael assumir a presidência do Sindicato pois ele é fruto dessa evolução da Categoria”, afirmou.
Transição
Rafael a assumiu a função neste mês, por conta das responsabilidades assumidas pelo antecessor Sérgio Nobre, que em julho foi eleito secretário-geral da CUT.
Em sua fala, o novo presidente do Sindicato destacou a luta histórica dos Metalúrgicos do ABC em promover a democracia no País. “Democracia não é só a eleição, mas é a organização no local de trabalho, é a pluralidade nos meios de comunicação. Nós temos que ter gente que divulgue a história e a conquista dos trabalhadores, que foi feita através de muita luta”, disse o novo presidente do Sindicato.
Sérgio Nobre, seu antecessor, agradeceu à toda militância e aos trabalhadores do Sindicato que estiveram junto com ele durante o período do seu mandato.
“Agora vou cumprir outra etapa da minha vida, outro desafio que é a Secretaria Geral da CUT e esse tempo todo aqui no Sindicato me preparou para isso”, declarou.

Missionárias no Haiti enviam mensagem à Vida Religiosa do Brasil

Porto Príncipe, 20 dez (SIR) – “Deus que nasce e cresce dentro de amontoado de escombros, debaixo de latas enferrujadas, junto dos lixões, dentro dos esgotos, debaixo do sol, das chuvas e poeira. Bendita a Vida Religiosa brasileira, que se inclina para retirar este Jesus que nasce todos os dias desta realidade de dor e morte silenciosa, sem socorro, sem alguém que o escute e console sua dor.” Este é um trecho da mensagem que a missionária brasileira Ir. Marcelina Xavier enviou à Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), por ocasião do Natal. Assim como Ir. Marcelina, outras missionárias no Haiti escreveram mensagens em que ressaltam a solidariedade da Vida Religiosa brasileira para com o povo do país caribenho. Por sua vez, Ir. Dalvani relata a condição subumana em que muitos haitianos vivem: “Nossa missão aqui é ajudar a levantar os caídos à beira do caminho, das vidas sofridas neste chão, com simplicidade, despojamento e ternura, a exemplo do nosso irmão Jesus de Nazaré, procuramos ser uma presença de boa notícia, de esperança, motivação e conforto para as pessoas com as quais realizamos a missão”. Já a Ir. Maria Aparecida dos Santos fala do Haiti como de uma grande manjedoura, “onde a cada segundo ouvimos o clamor de um povo sofrido que nos pede sobrevivência”. Ir. Iolanda Carneiro escreve: “Daqui distante do Haiti, onde as pessoas ainda trazem viva na memória a dor e o sofrimento pelas incontáveis perdas, envio juntamente com minha gratidão e preces pela generosa contribuição da vida Religiosa brasileira, meus mais calorosos votos de Feliz e Santo Natal!”

Com mariachis e missa em espanhol, igreja nos EUA abre portas para gays latinos – BBC Brasil – Notícias

Maribel Torres cruzou a fronteira entre o México e os Estados Unidos a pé para, nas suas palavras, realizar o sonho de “encontrar aqui as partes do corpo que me faltavam”.
Foram três dias de viagem entre a casa da família, em Oaxaca, e a fronteira, e mais uma semana caminhando pelo deserto até a Califórnia.
No meio do percurso, contou Maribel à BBC Brasil, o grupo de cerca de dez pessoas se recusou a avançar e foi abandonado pelos “coiotes”, como são chamados os “guias” de imigrantes ilegais.
Por sorte, os retirantes viajavam em dois grupos e o de Maribel foi encontrado pelo que vinha atrás. “Foi bem difícil fazer essa travessia”, disse a jovem de 25 anos, que tinha 19 à época. “Vir para um lugar onde você não conhece nada, não sabe o que vai acontecer, não sabe se vão te prender ou deportar.”
Arriscar a vida foi o preço que a mexicana transgênero decidiu pagar para “fugir do estigma, fugir da família e da não aceitação, fugir de um lugar de onde as pessoas metem o nariz na vida dos outros”, relembrou. “Amo o México, porque é o meu país, mas os EUA me deram o que México nunca me deu.”
Em meio a chocolate quente, tamales – pamonhas de milho recheadas com carne de porco – e outras iguarias típicas de alguns países latino-americanos, ao som de mariachis e após uma missa celebrada em espanhol para devotos da Nossa Senhora de Guadalupe, ela está em casa nesta igreja na capital americana, Washington.
Há 45 anos a chamada Igreja das Comunidades Metropolitanas (ICM) abre os braços para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT), mas é a primeira vez que a sua sede em Washington realiza uma missa em espanhol com o objetivo específico de atrair os latinos entre eles.
Igreja gay / Cortesia ICM de Washington /J. Hardy

Em igreja voltada à comunidade gay, banda de mariachis participa de culto em espanhol
“Para a comunidade latina, isto ainda é uma grande novidade”, afirmou o reverendo Jorge Delgado, “porque as festividades tradicionais normalmente ficam sempre em segundo plano quando as pessoas deixam o seu país”.

‘Saindo do armário’

Mas a novidade é também sinal de uma tendência de latinos assumirem sua sexualidade cada vez mais abertamente nos EUA, um fenômeno que as mudanças na demografia e nas gerações explicam.
À medida que os filhos dos imigrantes de países latino-americanos ganham espaço na sociedade americana, as atitudes de uma parcela da população tradicionalmente classificada como conservadora também se transformam – rapidamente.
Uma pesquisa do instituto Pew Religion, por exemplo, mostrou que, tão recente quanto em 2006, 31% dos latinos apoiavam ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto 56% se opunham à ideia.
Neste ano a equação se inverteu: 52% são favoráveis e 34%, contra. Mesmo entre os hispânicos católicos a visão pró-casamento gay já é maioria.
Igreja gay / BBC

Igreja é frequentada principalmente por comunidade gay
Eduardo Mercado, representante da organização Dignity Grupo Latino, que atua pelas comunidades LGBT latinas de fé em Washington, disse à BBC Brasil que pouco a pouco a mudança de atitude dos hispânicos passa a incluir também um aspecto central da cultura latina, a religião.
“Agora os latinos estão compreendendo que não precisam separar a sua fé e a sua sexualidade”, disse.
“À medida que eles começam a entender melhor os seus direitos civis, percebem que esses direitos também se aplicam à fé”, acrescenta.

Homofobia

Mas a hesitação dos latinos em embarcar nessa tendência está enraizada em uma profunda história de homofobia em casa. Em 2011, dos 248 assassinatos só de transgêneros compilados mundialmente pelo projeto Trans Murder Monitoring Project, mais de 80% – 204 – foram na América Latina.
Sozinho, o Brasil responde por mais de 100. E as entidades de direitos humanos ressalvam que apenas os casos mais notórios são contabilizados.
A vida nos EUA traz mais segurança física e psicológica, mas mesmo assim muitos latinos “saem do armário em inglês, mas não em espanhol”, dizem as entidades: assumem sua homossexualidade na sua “vida americana”, mas ocultam esse fato na tradicional vida familiar.
Igreja gay para latinos / BBC

Muitos fieis, dizem os pastores, têm medo de ‘saírem do armário’ para suas famílias
O pastor sênior da ICM de Washington, reverendo Dwayne Johnson, prestava assistência à igreja de Monterrey, no México, quando trabalhava na igreja de Houston, Texas. Ele disse que sua experiência lhe permitiu ver de perto como “a dinâmica e as pressões da família” agiam sobre indivíduos LGBT latinos.
“Muitas vezes, quando os fiéis vinham para missa, você podia ver o sentimento de alívio e de liberdade, de ter algumas horas em que eles podiam ser eles mesmo”, contou o religioso. “Aqui nos EUA é fácil dar isso como fato consumado, mas em Monterrey era como se as vidas deles dependessem daquilo.”

‘Não ao pecado, sim ao pecador’

O que não significa que, mesmo nos EUA, os indivíduos LGBT possam expressar sua religiosidade sem preocupações. Muitas paróquias operam, não oficialmente, a política do “não pergunte, não conte”, ou, como diz Eduardo Mercado, uma condescendente abordagem de “odiar o pecado, amar o pecador”.
Antes de frequentar a ICM de Washington, Maribel disse que ia às missas em outra igreja em Maryland, “mas apenas para escutar a missa, porque não havia a possibilidade de fazer parte dela”.
“Ainda é difícil encontrar uma igreja te aceite e diga que você é bem-vindo”, relata a mexicana, que se define como católica praticante e devota dos “santitos” que mantém em casa.
Nos EUA, a ICM, criada em 1968, é uma igreja congregacional alinhada com o protestantismo tradicional. Mas Maribel entende que as diferentes denominações religiosas são menos importantes, e que ser cristão é mais que nada “levar a palavra de Deus”.
“Outras igrejas querem que a gente mude a nossa aparência física”, diz, “mas eu acho que a mudança é interior”.

Após cristãos e mulçumanos, sem-religião são 3º maior grupo no mundo – BBC Brasil – Notícias

Muçulmano reza em mesquita. AP

Os muçulmanos são o segundo maior grupo após os cristãos e somam 43,5 milhões na Europa
O grupo dos que se declaram ateus, agnósticos ou sem religião em todo o mundo só fica atrás daqueles que se dizem cristãos e muçulmanos. Na média, 8 em cada 10 habitantes do planeta se declaram religiosos.

Clique no link a seguir e leia a íntegra da reportagem: Após cristãos e mulçumanos, sem-religião são 3º maior grupo no mundo – BBC Brasil – Notícias

O deus das armas e a religião do fuzil nos EUA

A análise é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minneapolis-St. Paul, nos EUA. O artigo foi publicado no jornal L’Unità, 16-12-2012. 
Ainda não se sabe se o massacre de Newtown irá mudar a atitude do norte-americano médio com relação às armas: os anteriores, principalmente a partir de Columbine High School, em 1999, não conseguiram. Nos Estados Unidos, contam-se mais de 15 mil mortes por armas de fogo a cada ano (os números variam), e ele é um país desde sempre acostumado à violência. As estatísticas dizem que, nos EUA, há menos violência do que nas décadas anteriores, e que nos país circulam mais armas, mas essas mesmas armas estão nas mãos de uma parte numericamente descendente de norte-americanos: uma minoria, mas cada vez mais armada.
Também por esse motivo, o caso de Newtown não é uma exceção à regra, mas exatamente a regra de uma América em que o fetiche pela arma (não só pistolas e fuzis, mas também, recentemente, arcos e flechas supertecnológicos) tende a se ocultar em camadas restritas da população. Reduzir a gênese do atentado à mentalidade perturbada do agressor equivaleria a ignorar um dos elementos típicos do cenário moral norte-americano.
No seu Democracia na América, Alexis de Tocqueville descrevera a viagem à conquista do novo mundo como a aventura “into the wild” do homem norte-americano armado com “uma Bíblia, um machado e um jornal”. Desde então, o mundo norte-americano mudou muito, mas não se atenuou a radical diferença com o mundo europeu quanto à percepção moral da violência e da posse de armas. Mas, ao lado dessa diferença entre a mentalidade norte-americana e a do resto do mundo sobre as armas nas mãos da população civil, cresceu também a distância entre os dois extremos da moral norte-americana, fruto da polarização cultural do país: a pro-guns e anti-abortion de um lado, e a anti-guns e pro-abortion de outro. De um lado, os liberais acreditam na necessidade de um maior controle sobre a circulação das armas no território dos EUA e na total liberdade de escolha das mulheres acerca do aborto; de outro, os ativistas antiabortistas estão entre os mais aficionados àquela interpretação à segunda emenda da Constituição norte-americana que dá aos cidadãos o direito de portar armas. Mas a jurisprudência constitucional sobre a segunda alteração é afetada por um fundamentalismo jurídico que passou da Bíblia para a Constituição – também graças aos juízes católicos da Suprema Corte, hoje nada menos do que seis dentre nove. Esquece-se de que aquela emenda pretendia dar aos cidadãos o direito de se armar não para se defender do crime ou das violências domésticas, mas sim dos abusos do governo em uma América desde sempre desconfiada do poder, especialmente o do governo federal. 
 Os Estados Unidos da América são um país excepcional com relação ao mundo inteiro quanto à intensidade do sentimento religioso e quanto ao fascínio pela violência e pela morte: as duas coisas estão ligadas. O apego à Bíblia e ao fuzil muitas vezes andam juntos: não é por acaso que o Moisés de Hollywood, Charlton Heston, tornou-se o mais famoso porta-voz da National Rifle Association, o lobby capaz de fazer eleger deputados e senadores, e capaz de impedir qualquer tentativa de aprovar leis sobre o controle das armas. 
 O presidente dos Estados Unidos, sumo pontífice da religião norte-americana, tomado pela emoção, é a imagem da impotência desse pontífice de ter razão não só do lobby da NRA, mas também daquela grande fatia de norte-americanos que veem no direito de portar armas a última linha de defesa simbólica contra o governo, a política, os intelectuais, os gays, os meios de comunicação, o cosmopolitismo. 
Aquelas crianças mortas, as lágrimas dos seus pais e de todos os pais dos EUA são os sacrifícios humanos que a América deixa se impor pela religião do fuzil. Até agora, as Igrejas norte-americanas foram tímidas sobre a questão das armas, muito mais tímidas do que sobre outras questões pro-life: é hora de que o controle das armas comece a fazer parte da “cultura da vida” na América religiosa. Até então, a religião das armas continuará ceifando vítimas.