Arquivo mensal: agosto 2012

"Deus não morreu. Ele tornou-se Dinheiro"

 

Giorgio Agamben é um dos maiores filósofos vivos. Amigo de Pasolini e de Heidegger, Giorgio Agamben foi definido pelo Times e por Le Monde como uma das dez mais importantes cabeças pensantes do mundo. Pelo segundo ano consecutivo ele transcorreu um longo período de férias em Scicli, na Sicília, Itália, onde concedeu a entrevista à Ragusa News.

 

 

O governo Monti invoca a crise e o estado de necessidade, e parece ser a única saída tanto da catástrofe  financeira quanto das formas indecentes que o poder havia assumido na Itáli. A convocação de Monti era a única saída, ou poderia, pelo contrário, servir de pretexto para impor uma séria limitação às liberdades democráticas?

“Crise” e “economia” atualmente não são usadas como conceitos, mas como palavras de ordem, que servem para impor e para fazer com que se aceitem medidas e restrições que as pessoas não têm motivo algum para aceitar. ”Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional.

Para entendermos o que está acontecendo, é preciso tomar ao pé da letra a idéia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro.  Deus não morreu, ele se tornou Dinheiro.  O Banco – com os seus cinzentos funcionários e especialistas – assumiu  o lugar da Igreja e dos seus padres e, governando o crédito (até mesmo o crédito dos Estados, que docilmente abdicaram de sua soberania ), manipula e gere a fé – a escassa, incerta confiança – que o nosso tempo ainda traz consigo. Além disso, o fato de o capitalismo ser hoje uma religião, nada o mostra melhor do que o titulo de um grande jornal nacional (italiano) de alguns dias atrás: “salvar o euro a qualquer preço”. Isso mesmo, “salvar” é um termo religioso, mas o que significa “a qualquer preço”? Até ao preço de “sacrificar” vidas humanas? Só numa perspectiva religiosa (ou melhor, pseudo-religiosa) podem ser feitas afirmações tão evidentemente absurdas e desumanas.

A crise econômica que ameaça levar consigo parte dos Estados europeus pode ser vista como condição de crise de toda a modernidade?

A crise atravessada pela Europa não é apenas um problema econômico, como se gostaria que fosse vista, mas é antes de mais nada uma crise da relação com o passado. O conhecimento do passado é o único caminho de acesso ao presente. É procurando compreender o presente que os seres humanos – pelo menos nós, europeus – são obrigados a interrogar o passado.  Eu disse “nós, europeus”, pois me parece que, se admitirmos que a palavra “Europa” tenha um sentido,  ele, como hoje aparece  como evidente, não pode ser nem político, nem religioso e menos ainda econômico,  mas talvez consista nisso, no fato de que  o homem europeu – à diferença, por exemplo, dos asiáticos e dos americanos, para quem a história  e o passado tem um significado completamente diferente – pode ter acesso à sua verdade unicamente através de um confronto com o passado, unicamente fazendo as contas com a sua história.

O passado não é, pois, apenas um patrimônio de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e sobretudo um componente antropológico essencial do homem europeu, que só pode ter acesso ao presente olhando, de cada vez, para o que ele foi.  Daí nasce a relação especial que os países europeus (a Itália, ou melhor, a Sicília, sob este ponto de vista é exemplar)  têm com relação às suas cidades, às suas obras de arte, à sua paisagem: não se trata de conservar bens mais ou menos preciosos, entretanto exteriores e disponíveis; trata-se, isso sim,  da própria realidade da Europa, da sua indisponível sobrevivência. Neste sentido, ao destruírem, com o cimento, com  as autopistas e a Alta Velocidade, a paisagem italiana, os especuladores não nos privam apenas de um bem, mas destroem a nossa própria identidade. A própria expressão “bens culturais” é enganadora, pois sugere que se trata de bens entre outros bens, que podem ser desfrutados economicamente e talvez vendidos, como se fosse possível liquidar e por à venda a própria identidade.

Há muitos anos, um filósofo que também era um alto funcionário da Europa nascente, Alexandre Kojève, afirmava que o homo sapiens havia chegado  ao fim de sua história e já não tinha nada diante de si a não ser duas possibilidades: o acesso a uma animalidade pós-histórica (encarnado pela american way of life) ou o esnobismo (encarnado pelos japoneses, que continuavam a celebrar as suas cerimônias do chá, esvaziadas, porém, de qualquer significado histórico). Entre uma América do Norte integralmente re-animalizada e um Japão que só se mantém humano ao preço de renunciar a todo conteúdo histórico, a Europa poderia oferecer a alternativa de uma cultura que continua sendo humana e vital, mesmo depois do fim da história, porque é capaz de confrontar-se com a sua própria história na sua totalidade e capaz de alcançar, a partir deste confronto, uma nova vida.

A sua obra mais conhecida, Homo Sacer, pergunta pela relação entre poder político e vida nua, e evidencia as dificuldades presentes nos dois termos. Qual é o ponto de mediação possível entre os dois pólos?

Minhas investigações mostraram que o poder soberano se fundamenta, desde a sua origem, na separação entre vida nua  (a vida biológica, que, na Grécia, encontrava seu lugar na casa) e vida politicamente qualificada (que tinha seu lugar na cidade). A vida nua foi excluída da política e, ao mesmo tempo,  foi incluída e capturada através da sua exclusão. Neste sentido, a vida nua é o fundamento negativo do poder.  Tal separação atinge sua forma extrema na biopolítica moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre a vida nua se tornam aquilo que está em jogo na política.  O que aconteceu nos estados totalitários do século XX reside no fato de que é o poder (também na forma  da ciência) que decide, em última análise, sobre o que é uma vida humana e sobre o que ela não é. Contra isso, se trata de pensar numa política das formas de vida, a saber, de uma vida que nunca seja separável da sua forma, que jamais seja vida nua.

O mal-estar, para usar um eufemismo, com que  o ser humano comum se põe frente  ao mundo da política tem a ver especificamente com a  condição italiana ou é de algum modo inevitável? 

Acredito que atualmente estamos frente a um fenômeno novo que vai além do desencanto e da desconfiança recíproca entre os cidadãos e o poder e tem a ver com o planeta inteiro. O que está acontecendo é uma transformação radical das categorias com que estávamos acostumados a pensar a política. A nova ordem do poder mundial funda-se sobre um modelo de governamentalidade que se define como democrática, mas que nada tem a ver com o que este termo significava em Atenas. E que este modelo seja, do ponto de vista do poder, mais  econômico e funcional é provado pelo fato de que foi adotado também por aqueles regimes que até poucos anos atrás eram ditaduras. É mais simples manipular a opinião das pessoas através da mídia e da televisão do que dever impor em cada oportunidade as próprias decisões com a violência.  As formas da política por nós conhecidas – o Estado nacional, a soberania, a participação democrática, os partidos políticos, o direito internacional – já chegaram ao fim da sua história. Elas continuam vivas como formas vazias, mas a política tem hoje a forma de uma “economia”, a saber, de um governo das coisas e dos seres humanos. A tarefa que nos espera consiste, portanto, em pensar integralmente, de cabo a cabo,  aquilo que até agora havíamos definido com a expressão, de resto pouco clara em si mesma, “vida política”.

O estado de exceção, que o senhor vinculou ao conceito de soberania, hoje em dia parece assumir o caráter de normalidade, mas os cidadãos ficam perdidos perante a incerteza na qual vivem cotidianamente. É possível atenuar esta sensação?

Vivemos há decênios num estado de exceção que se tornou regra, exatamente assim como acontece na economia  em que a crise se tornou a condição normal. O estado de exceção – que deveria sempre ser limitado no tempo – é, pelo contrário, o modelo normal de governo, e isso precisamente nos estados que se dizem democráticos.  Poucos  sabem que as normas introduzidas, em matéria de segurança, depois do 11 de setembro (na Itália já se havia começado a partir dos anos de chumbo) são piores do que aquelas que vigoravam sob o fascismo. E os crimes contra a humanidade cometidos durante o nazismo foram possibilitados exatamente pelo fato de Hitler, logo depois que assumiu o poder, ter proclamado um estado de exceção que nunca foi revogado. E certamente ele não dispunha das possibilidades de controle (dados biométricos, videocâmaras, celulares, cartões de crédito) próprias dos estados contemporâneos. Poder-se-ia afirmar hoje que o Estado considera todo cidadão um terrorista virtual. Isso não pode senão piorar e tornar impossível  aquela participação na política que deveria definir a democracia. Uma cidade cujas praças e cujas estradas são controladas por videocâmaras não é mais um lugar público: é uma prisão.

A  grande autoridade que muitos atribuem a estudiosos que, como o senhor, investigam a natureza do poder político poderá trazer-nos esperanças de que, dizendo-o de forma banal,  o futuro será melhor do que o presente?

Otimismo e pessimismo não são categorias úteis para pensar. Como escrevia Marx em carta a Ruge: ”a situação desesperada da época em que vivo me enche de esperança”.

Podemos fazer-lhe uma pergunta sobre a lectio que o senhor deu em Scicli? Houve quem lesse a conclusão que se refere a Piero Guccione como se fosse uma homenagem devida a uma amizade enraizada no tempo, enquanto outros viram nela uma indicação  de como sair do xequemate no qual a arte contemporânea está envolvida.

Trata-se de uma homenagem a Piero Guccione e a Scicli, pequena cidade em que moram alguns dos mais importantes pintores vivos. A situação da arte hoje em dia é talvez o lugar exemplar para compreendermos a crise na relação com o passado, de que acabamos de falar. O único lugar em que o passado pode viver é o presente, e se o presente não sente mais o próprio passado como vivo, o museu e a arte, que daquele passado é a figura eminente, se tornam lugares problemáticos. Em uma sociedade  que já não sabe o que fazer do seu passado, a arte se encontra premida entre a Cila do museu e a Caribdis da mercadorização. E muitas vezes, como acontece nos templos do absurdo que são os museus de arte contemporânea,  as duas coisas coincidem.

Duchamp talvez tenha sido o primeiro a dar-se conta do beco sem saída em que a arte se meteu. O que faz Duchamp quando inventa o ready-made?  Ele toma um objeto de uso qualquer, por exemplo, um vaso sanitário, e, introduzindo-o num museu, o força a apresentar-se como obra de arte.  Naturalmente – a não ser o breve instante que dura o efeito do estranhamento e da surpresa – na realidade nada alcança  aqui a presença: nem a obra, pois se trata de um  objeto de uso qualquer, produzido industrialmente, nem a operação artística, porque não há de forma alguma uma poiesis, produção – e nem sequer o artista, porque aquele que assina com um irônico nome falso o vaso sanitário não age como artista, mas, se muito, como filósofo ou crítico, ou, conforme gostava de dizer Duchamp, como “alguém que respira”, um simples ser vivo.

Em todo caso, certamente ele não queria produzir uma obra de arte, mas desobstruir o caminhar da arte, fechada entre o museu e a mercadorização.  Vocês sabem: o que de fato aconteceu é que um conluio,  infelizmente ainda ativo, de hábeis especuladores e de “vivos” transformou o ready-made em obra de arte. E a chamada arte contemporânea nada mais faz do que repetir o gesto de Duchamp, enchendo com  não-obras e performances a museus, que são meros organismos do mercado, destinados a acelerar a circulação de mercadorias, que, assim como o dinheiro, já alcançaram o estado de liquidez e querem ainda valer como obras. Esta é a contradição da arte contemporânea: abolir a obra e ao mesmo tempo estipular seu preço.

(A tradução é de Selvino  J. Assmann, professor de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.)

Brasil busca passo decisivo em vacina contra Aids

Com tecnologia própria, o Brasil pode em breve dar uma contribuição significativa no combate à Aids no planeta. Desde 2002, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP tem obtido resultados concretos com experimentos em animais para finalmente desenvolver uma vacina contra a doença – a chamada HIVBr18. A fase final das pesquisas, que depende de testes em macacos e humanos, no entanto, ainda depende de vultuosos recursos financeiros. A solução para este impasse financeiro pode estar em um edital do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da Fapesp. Em breve, o órgão de fomento à pesquisa no estado de São Paulo decidirá se aprovará um financiamento de 4 milhões de reais por ano, durante 11 anos de pesquisa, quantia suficiente para fazer a pesquisa deslanchar.

Leia no link abaixo a íntegra da reportagem da revista Carta Capital: Brasil busca passo decisivo em vacina contra Aids.

Condenado por matar Dorothy Stang é solto por ordem do Supremo

Um dos condenados pela morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005, Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, foi solto na tarde desta quarta-feira (22) no Pará, por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, concedeu na segunda-feira (20) decisão liminar favorável à soltura, em resposta a um habeas corpus.
Galvão foi solto por volta das 15h30 em Altamira (a 900 km de Belém), onde cumpria pena, segundo a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará.

 

Carlos Silva – 12.fev.2004/Reuters
A missionária Dorothy Stang
A missionária Dorothy Stang

 

 

 

 

De acordo com seu advogado, Jânio Siqueira, Galvão estava “abatido” e foi direto para sua casa, que fica em Altamira.
O ministro do STF entendeu que Galvão só pode ser preso quando o processo contra ele transitar em julgado (não couber mais recursos). Ainda segundo o ministro, não há provas de que, em liberdade, ele ofereça risco ao andamento processual.
Galvão foi condenado, em maio de 2010, a 30 anos de prisão em regime inicialmente fechado, acusado de ser o mandante da morte de Dorothy. Há um recurso da defesa, ainda em tramitação, tentando anular a condenação.
Seu advogado já havia pedido a liberdade ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas não obteve sucesso.
Com a decisão do STF, Galvão será o segundo em liberdade, dos cinco condenados por responsabilidade pelo crime.
O outro que está livre, Clodoaldo Batista –acusado de coautoria no crime–, está foragido desde fevereiro de 2011.
Além de Galvão, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi condenado sob acusação de ser o outro mandante do crime.
Amair Feijoli da Cunha foi acusado de ser intermediário e Rayfran das Neves Sales, de ser o autor do crime.
A missionária Dorothy Stang foi assassinada em fevereiro de 2005 na região de Anapu (a 766 km de Belém). O motivo, segundo a Promotoria, foi a disputa por terras com fazendeiros da região.

Republicanos X Democratas

Para quem acha que Republicanos e Democratas são a mesma coisa e que a reeileição de Obama ou a eleição de Romney não vai mudar nada, seja nos Estados Unidos seja no mundo, segue abaixo uma reportagem da AFP sobre o episódio em que um depudatado republicano afirma que “verdadeiros estupros” não geram gravidez e por isso não se pode permitir a interrupção de gravidez provocada por estupro. Talvez os fundamentalistas islâmicos não cheguem a tanto…

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Um deputado republicano provocou nesta segunda-feira uma onda de críticas depois de ter afirmado que raramente uma mulher engravida depois de sofrer um estupro.
Ao explicar sua oposição total ao aborto – também em casos de estupro -, Todd Akin, membro da Comissão de Ciências do Congresso e candidato a senador pelo estado central de Missouri, afirmou que “os casos de gravidez depois de um estupro são muito raros”. “Se for um verdadeiro estupro, o corpo da mulher tenta por todos os meios bloquear isso”, acrescentou. “Nos casos em que isso acontecer (…) o castigo deve recair no estuprador e não na criança”, acrescentou Akin, que já foi eleito seis vezes e é apoiado pelos ultraconservadores do “Tea Party”.
“Qual é a prova de que (um estupro) é exatamente ”um verdadeiro estupro?”, ironizava nesta segunda-feira “ftb3” no blog do Washington Post, fazendo uma comparação com os “processos por bruxaria”. “Atira-se (as acusadas) na água. Se flutuarem, são culpadas. Se afundarem, são inocentes”.
A declaração – que, mais tarde, Todd Akin, reconheceu ser uma “estupidez”-, pôs a questão do aborto no centro da campanha eleitoral, tema de controvérsia permanente nos Estados Unidos. Tanto o candidato republicano à presidência Mitt Ronmey como seu companheiro de chapa Paul Ryan imediatamente tomaram distância das declarações do deputado.
“O governador Romney e o deputado Ryan concordam com as declarações de Akin e uma administração Romney-Ryan não se oporia ao aborto em caso de estupro”, indica um comunicado da equipe de campanha.
O presidente Barack Obama disse que as declarações de Akin são “ofensivas”: “a opinião expressada (por Akin) foi ofensiva. Um estupro é um estupro”, afirmou durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca. Claire McCaskill, atual senadora democrata pelo Missouri e candidata à reeleição, se disse chocada. “Que alguém possa ignorar a tal ponto o trauma físico e emocional que um estupro provoca é realmente incompreensível”, enfatizou.
A imprensa publicou nesta segunda-feira um estudo de 1996 do Jornal de Ginecologia e Obstetrícia, que informava que 32.101 gestações (5% do total) eram resultado de um estupro. Segundo um relatório de 2011 da Associação de Obstetras, a cada ano são realizados “entre 10.000 e 15.000 abortos por gestações produzidas por um estupro ou incesto”. As declarações de Akin são “escandalosas, insensíveis e (ele) está mal informado”, disse à AFP Brenda Smith, professora de Direito da American University de Washington, especialista em legislação sobre estupros, apesar de achar que o legislador pelo Missouri “acredita no que diz e muitos conservadores concordam com ele”.
As organizações contrárias à legalização do aborto aproveitaram a discussão para levantar suas bandeiras. A associação anti-aborto FRC (Family Research Council) lembrou que na segunda-feira que “durante seus 12 anos no Congresso, Todd Akin apoiou as leis que respeitam a vida humana”. “Ninguém questiona que o estupro seja um crime abominável”, afirmou a organização Susan B. Anthony, mas os opositores “utilizam o tema como uma cortina de fumaça para ocultar suas pregações a favor do aborto”.
Os sites militantes na internet, ao contrário, lembram antigas declarações de republicanos nesta mesma linha: o legislador Henry Aldrige achava em 1995 que “os fluidos não deslizavam” quando as mulheres são “verdadeiramente violentadas” e seu colega Stephen Freind defendia, em 1988, que a mulher estuprada produzia “certa secreção” que impedia a fecundação, lembra o buzzfeed.com. Um comentário no Twitter de @vampsicola dizia que “em um mundo perfeito, esses comentários (de Akin) teriam sido um suicídio político, mas na realidade, muitas pessoas votarão nele”.

Dom Pedro Casaldáliga

Bispo de 84 anos vive no Mato Grosso Crédito: HO / Minoria Absoluta Productions / AFP/ CP

A vida de Pedro Casaldáliga, o bispo espanhol reconhecido como um dos maiores expoentes da teologia da libertação latino-americana e radicado desde 1968 em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, está sendo filmada em uma coprodução espanhola-brasileira para a televisão.

“Nesta terra é fácil nascer e morrer, o difícil é viver”, disse Casaldáliga sobre a região que adotou há 44 anos, quando chegou a São Félix e encontrou um mundo de tensões sociais, onde os grandes proprietários de terra se impõem sobre os pobres, trabalhadores rurais e indígenas.
Hoje com 84 anos e ainda vivendo em São Félix, continua comprometido com a luta. “Nós não nos conformamos com este sistema que faz da humanidade um negócio”, afirmou à AFP, com a voz enfraquecida pelo Parkinson, mas com uma clareza intacta.
Casaldáliga também continua a defender uma igreja comprometida com o povo. “Hoje, mais do que nunca, a Igreja teria de ser a voz da esperança”, disse, pedindo que “o Vaticano não seja um Estado, o papa não seja um chefe de Estado, que reconheça os direitos das mulheres, que não seja uma igreja de poder, e sim de serviço”, considera.
Este sacerdote catalão que nunca mais voltou à Espanha enfrentou os grandes proprietários de terra, o governo e até mesmo o Vaticano ao denunciar o latifúndio e sair em defesa dos trabalhadores rurais, indígenas e de uma Igreja mais comprometida. Viveu sob a ameaça de morte de pistoleiros e foi fundador da Pastoral da Terra e do Conselho Indígena, fundamentais na luta pela reforma agrária e pelos direitos dos índios.
“A vida de Casaldáliga é uma história de luta e conquista da terra no Brasil e do compromisso de um homem que deu uma resposta extrema a uma situação extrema, entregando a sua vida para corrigir essa situação. É uma história universal e é isso que dá força para o filme”, contou à AFP Francesc Escribano, escritor, produtor e jornalista catalão, autor de “Descalço sobre a terra vermelha”, que é o título do filme.
Uma equipe de 100 pessoas invadiu São Félix do Araguaia para as filmagens, que devem durar até o início de setembro. A cidade, a 24 horas de ônibus de Brasília, tem agora cerca de 10 mil habitantes, mas ainda nenhuma estrada pavimentada.
Para o filme foram reconstruídos cenários que levam a cidade aos moldes de 40 anos atrás: uma terra em processo de colonização, com bordéis e pistoleiros, explica Escribano.
O ator catalão Eduard Fernandez interpreta Casaldáliga no que será uma minissérie de dois episódios, com um orçamento de 3,5 milhões de euros, que conta com o roteirista premiado de “Central do Brasil”, Marcos Bernstein, e com a participação da Televisão Espanhola, da catalã TV3 e da TV Brasil.
Em 1988, Casaldáliga foi chamado a Roma e submetido a um duro interrogatório realizado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa. Encenado como uma batalha entre dois pesos pesados da Igreja, este diálogo é o ponto de partida do filme.
Em 1985, o bispo catalão viajou para a Nicarágua para apoiar a greve de fome do chanceler e sacerdote Miguel d’Escotto e para Cuba, convidado pelo então presidente Fidel Castro.
Sobre ele, o teólogo brasileiro Frei Betto, um símbolo da esquerda católica latino-americana, disse: “Há no Brasil um santo e herói, Pedro Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical ao evangelho, herói pelos riscos de vida enfrentados e pelas adversidades sofridas”.
“Não façam um filme sobre mim, que seja um filme sobre as verdadeiras causas desta luta: a vida, a terra, a libertade e a dignidade”, pediu Casaldáliga ao seu amigo Escribano quando soube que ele realizaria o filme.
A vida de Pedro Casaldáliga, o bispo espanhol reconhecido como um dos maiores expoentes da teologia da libertação latino-americana e radicado desde 1968 em São Félix do Araguaia, está sendo filmada em uma coprodução espanhola-brasileira para a televisão.

Primavera antecipada!

O mês de agosto ainda vai pela metade e as flores já começam a enfeitar as árvores e espalhar suas pétalas e perfumes por jardins, praças, ruas de toda a cidade. Mesmo antecipoada, linda, como sempre… Bem-vinda a nos acompanhar pelo mês de setembro, outubro, novembro para que cheguemos, com alegria, vida e saúde, ao glorioso verão de dezembro!

A violência contra jovens negros no Brasil

O racismo é uma realidade que, no Brasil, se manifesta de diferentes formas. Desde os que protestam contra as políticas de reserva de vagas nas universidades públicas para afro-descententes até os que se negam a serem atendidos num restaurante por um garçom negro, o arco-íris da discriminação tem mil matizes. Um dos mais cruéis, é a da violência contra jovens negros. A violência contra jovens, independente de sua raça ou condição social, já é algo alarmante. Aquela contra jovens negros, é algo assustador e que necessita ser reconhecida e combatida. Confira abaixo reportagem da Revista Carta Capital sobre o tema.

A violência contra jovens negros no Brasil

 

por Paulo Ramos

A cada nova divulgação dos dados sobre homicídios no Brasil a mesma informação é dada: morrem por homicídio, proporcionalmente, mais jovens negros do que jovens brancos no país. Além disso, vem se confirmando que a tendência é um crescimento desta desigualdade nas mortes por homicídios.

Foto: Luliexperiment/Flickr

O diagnóstico produzido pelo Governo Federal apresentado ao Conselho Nacional de Juventude – CONJUVE mostra vetores importantes desta realidade, para além dos socioeconômicos: a condição geracional e a condição racial dos vitimizados.Em 2010, morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, ou seja, 26,2 a cada 100 mil habitantes. 70,6% das vítimas eram negras. Em 2010, 26.854 jovens entre 15 e 29 foram vítimas de homicídio, ou seja, 53,5% do total; 74,6% dos jovens assassinados eram negros e 91,3% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino. Já as vítimas jovens (ente 15 e 29 anos) correspondem a 53% do total e a diferença entre jovens brancos e negros salta de 4.807 para 12.190 homicídios, entre 2000 e 2009. Os dados foram recolhidos do DataSUS/Ministério da Saúde e do Mapa da Violência 2011.
Podemos dizer que este tema entrou na cena pública, quando, em 2007, o Fórum Nacional da Juventude Negra – FONAJUNE lançou a campanha nacional “Contra o Genocídio da Juventude Negra”. Em 2008, foi realizada a 1ª. Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude, e das 22 prioridades eleitas nesta CNPPJ, a proposta mais votada foi a indicada pela juventude negra que tematizava justamente os homicídios de jovens negros.
Depois de passar CONJUVE, o tema foiabsorvido pelo Executivo, no final de 2010, através da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial – SEPPIR, com a realização de uma oficina chamada “Combate à mortalidade da juventude negra”.Com a sucessão presidencial, a pauta – deixada de lado pela SEPPIR, em 2011 – foi reincorporada pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), ligada à Secretaria Geral da Presidência da República-SG/PR, em meados de 2011. A SNJ sugeriu que o Fórum Direitos e Cidadania (coordenado pela SG/PR), que reúne os principais ministérios ligados ao tema, tomasse para si a questão. Foi o que aconteceu, a partir da criação de uma Sala de Situação da Juventude Negra dentro do Fórum. A partir daí desencadeou-se uma agenda nos moldes participativos para o desenvolvimento de propostas que agissem pela redução da violência contra a juventude negra.

Problema velho, soluções inovadoras

Esta pauta, de início, podemos sugerir que possui um caráter especialmente participativo. Pois inicia-se com uma Conferência de participação social e passa a ser discutido pelo Conjuve. Depois, quando chega ao executivo, mantém este formato de discussão.
O problema a ser enfrentado é bem complexo. Até hoje algumas iniciativas que dialogam com este público de juventude negra. Entretanto, existe uma dissonância entre elementos fundamentais para o êxito de uma ação que vise combater os homicídios de jovens negros. Para estas políticas, quando há orçamento, não há reconhecimento de diferenças; quando o projeto aborda a juventude negra, não há recursos. E quando há reconhecimento com recursos, não existe foco nos jovens mais vulneráveis.
Assim, esta agenda deve ser trabalhada pelo poder público a partir de duas concepções distintas de políticas públicas e a partir de uma noção convergente de direitos, pois o direito à vida de certa juventude (a juventude negra) e elaborada a partir do reconhecimento de diferenças. Masque o Estado Brasileiro através de seus quadros burocráticos, muitas vezes reluta em fazê-lo.
Uma delas a chamada transversalidade, que defende que as políticas públicas devem ser caracterizadas pelas dimensões que se pretendem reconhecer (racialmente, por gênero etc.). A outra maneira pela qual as políticas setoriais vêm sendo tratadas é pela ação afirmativa. Esta defende que é preciso criar políticas emergenciais, combinas às estruturantes para públicos específicos (negros, jovens, mulheres).
As políticas chamadas transversais carregam consigo um dilema sobre a sua autoria. Se elas devem estar em todos os campos da ação pública, quem tem o dever de realizá-las? De quem é a responsabilidade de resolver o problema dos homicídios dos jovens negros no interior de um governo? A Secretaria Nacional de Juventude, A Secretaria de Políticas de Igualdade Racial? A Secretaria de Segurança Pública?
Mas o outro lado deste assunto é que ele mostra que ações relacionadas a este tema podem partir de outros atores que não apenas o Ministério da Justiça e que o tema dos homicídios é apropriado por outros setores da sociedade e do Estado que não são os tradicionalmente ligados ao tema.
Entretanto, antes que um ou outro ministério assuma esta tarefa, é necessário ultrapassar uma barreira que muito se vê Brasil a fora:  deve-se fincar as ações de promoção de direitos e tratar o seu público “alvo” desta vez como sujeito de direitos e não como “jovens problemas”. Isso é uma tendência que os setores organizados da sociedade civil vêm defendendo, há anos, e que agora devem chegar às políticas que ligam juventude à violência. Do que decorrerá outro ponto inovador: os jovens são tratados com vítimas e não mais como os vitimizadores.
Acredito ser este um bom exemplo de como a participação social e a abertura do processo de elaboração política para diversos setores da sociedade apontam para a criação de políticas que atendam ao reconhecimento e promoção de novos direitos, com o surgimento de novos arranjos institucionais. Ainda que os problemas sejam tão antigos.

Paulo Ramos, 31, é especialista em análise política pela UnB e mestrando em sociologia pela Universidade Federal de São Carlos. Foi consultor da UNESCO e da Fundação Perseu Abramo para o tema das relações raciais e de juventude.

''Igreja, ouça as mulheres''

 

A irmã Benedetta Zorzi, monja beneditina e teóloga, destaca a distância entre os auspícios do Vaticano II, com as suas aberturas ao mundo e à contribuição criativa das mulheres, e uma cultura do poder ainda “machista”.

 

Rompeu-se alguma coisa na aliança entre as mulheres e a Igreja Católica? A pergunta é legítima. Não está em discussão o reconhecimento do papel das mulheres na Igreja e na sociedade. Isso é atestado pelos inúmeros textos eclesiais, ainda desde o o Concílio Vaticano II. João Paulo II dedicou ao tema um documento memorável, Mulieris Dignitatem, em que se afirma até que algumas passagens bíblicas sobre a mulher não refletem a mentalidade evangélica.
Também foi muito claro o posicionamento, em 2004, por parte da Congregação para a Doutrina da Fé, que falava do papel insubstituível das mulheres em todos os aspectos da vida e da necessidade de vê-las presentes no mundo do trabalho, da organização social, em postos de responsabilidade na política e na economia. No entanto, na Igreja, ainda há uma forte tensão entre as declarações de princípio e a prática em confiar a elas funções de responsabilidade.
“O próprio termo ´gênio feminino´, que estranhamente nunca viu um correspondente ´gênio masculino´, corre o risco de ser facilmente instrumentalizado para veicular uma ideia precisa de mulher, mais do que sustentar o reconhecimento da experiência das mulheres”, afirma, convicta, Benedetta Selene Zorzi, monja beneditina e teóloga.
O tema lhe é particularmente sensível. Nascida em Roma em 1970, ela faz parte da geração das “quarentonas”, aquelas que alguns afirmam ser “tentadas pela fuga”. Por cerca de 20 anos, ela vive em um mosteiro em Fabriano, em Marche, na Itália. Uma vocação amadurecida depois dos estudos de teologia, um doutorado em filosofia e – destaca – anos de vôlei jogado em nível competitivo. Ela faz parte da Coordenação das Teólogas Italianas, da qual administra o site oficial.
“Certamente, houve mulheres que desempenharam e de fato desempenham papéis de liderança na Igreja. Mas ainda é difícil conseguir espaço”.

Eis a entrevista.

Com que efeito?
O abandono. Estatísticas recentes nos dizem que, entre as gerações nascidas entre 1946 e 1964 e aquelas nascidas depois de 1981, há diferenças abissais não somente socioculturais, mas também ligadas à relação com a fé e a Igreja. As mulheres nascidas nos anos 1970 são as mais sensíveis a essas mudanças. Não se sentem mais diferenças de gênero, vivem uma desafeição religiosa, estão distantes dos sacramentos e distantes do sentir eclesial sobre as temáticas políticas e as questões éticas. Essa geração hoje está pagando o preço de não se sentir ouvida também dentro da Igreja.
É o fenômeno analisado pelo teólogo e padre Armando Matteo no seu livro La fuga delle quarantenni. Qual a dificuldade da relação das mulheres com a Igreja?
Eu nunca agradecerei o suficiente ao autor desse estudo por ter falado sobre ele. Ele é ainda mais apreciável por ter sido realizado por um homem e padre. A Igreja não pode perder a relação com essa geração, porque dela depende a transmissão da fé às futuras gerações.
Talvez seja necessária a coragem de falar claramente. Como fez a irmã Eugenia Bonetti, superiora das Missionárias da Consolata, comprometida contra o “tráfico” de mulheres, que se pronunciou no dia 13 de fevereiro de 2011 em defesa da dignidade da mulher na manifestação “Se nonora quando”.
Quando a Igreja é profética, ela não tem problemas de se fazer ouvir. A irmã Eugenia falou de coisas simples, de valores transversais como a paz e a dignidade da mulher, que não pode ser considerada como objeto de domínio ou instrumento de prazer. Mas também disse que é preciso construir juntos, homens e mulheres, no cotidiana, uma cultura do respeito. Assim, a irmã Bonetti ecoou o gesto do Concílio Vaticano II, quando a Igreja optou pelo caminho do diálogo com a sociedade. É o único caminho possível para trabalhar por um futuro de paz, harmônico para todos. Quando a Igreja faz o que é chamada a ser, ela sabe se fazer ouvir.
Nem sempre é tão crível…
Talvez porque, ao menos na Itália, temos um modelo de Igreja de rosto oficial masculino, quando o tecido vital eclesial é assegurado sobretudo pelas mulheres: comprometidas com a catequese, com os lugares de cuidado, entre os pobres e nas paróquias. Apesar das suas competências, elas ainda devem se submeter a uma cultura marcada pelo machismo. Quanto mais a Igreja souber dar às mulheres de hoje a possibilidade de desdobrar sempre melhor toda a gama dos seus gênios, mais realizará aquele ´”humano integral”, definido pelo Papa Bento XVI como “o desenvolvimento de todo o ser humano e de todos os seres humanos”. Como religiosas, temos uma tarefa particular. Responder à forte busca de espiritualidade expressa por mulheres, também estranhas à Igreja Católica, ajudando a Igreja e as mulheres a refazer uma antiga aliança.
Estamos às vésperas do Ano da Fé, proclamado por Bento XVI no 50° aniversário do Concílio Vaticano II. É possível uma “re-evangelização”, sem ter feito as contas com esses nós?
Não acredito no separatismo de um certo feminismo radical, que a Igreja Católica condena justamente. Por isso, olho com preocupação para aqueles episódios em que a autoridade feminina é desacreditada com um simples chamado à ordem a partir de cima. Assim, há o risco de que se deva dar razão a quem pensa que a diferença de gêneros significa que os homens não devem pretender intervir sobre as mulheres ou sobre a vida interna das suas congregações religiosas. Isso significaria avalizar a desautorização da Igreja hierárquica pela realidade feminina. Este não é o caminho. ”
Que caminho deveria ser seguido?
Só resta seguir o caminho do reconhecimento recíproco, da comum participação e colaboração. As instituições eclesiásticas deveriam reconhecer a irreversibilidade do caminho da nova autoconsciência feminina. Ao contrário, parece que ainda estão às voltas com um imaginário feminino que não corresponde mais à autopercepção das mulheres hoje.
Mas há um limite que parece insuperável: o sacerdócio reservado exclusivamente aos homens…
Estou convicta de que o problema do papel da mulher na Igreja deve ser mantido independente das discussões sobre o sacerdócio feminino. Primeiro, porque a ideologia machista ainda está presente nas Igrejas que se abriram ao sacerdócio feminino. Mas, também, porque ligar a questão feminina ao falso binômio “mulher e sacerdócio”, que nunca enfrentaremos, significa relegar ao silêncio as muitas questões conexas à nova autocompreensão das mulheres, à identidade sexual e masculina em particular, ao papel do padre, aos modelos de gestão do poder em vista de uma colaboração entre homens e mulheres para a construção de uma Igreja a duas vozes. A ideologia do homem no poder é, justamente, uma ideologia. A emancipação das mulheres é história, como soube reconhecer a Pacem in Terris.
* * *
As “quarentonas” em fuga da fé
O alerta “midiático” foi lançado pelo padre Armando Matteo, o teólogo autor do estudo La fuga delle quarantenni. Nuovi scenari del cattolicesimo italiano (Ed. Rubbettino, 2012, 105 páginas). O ponto é “o progressivo afastamento das jovens gerações femiminas do catolicismo”.
Comentando os investigações sociológicas mais recentes, o padre Matteo observa como é “sobre a linha feminina que se registra a maior mudança geracional: a diferença com relação à frequência na missa entre homens nascidos antes de 1970 e os nascidos depois de 1970 é de 15 pontos, enquanto é de nada menos do que 25 pontos a diferença entre as mulheres nascidas antes de 1970 e as nascidas depois de 1970”.
Os resultados não são melhores com relação à “referência à fé em Deus”. Passa-se de “uma diferença masculina de apenas 7 pontos, entre os nascidos antes e os depois de 1970, a uma diferença feminina de 12 pontos, levando-se em consideração as nascidos antes e as depois de 1970”.
São as “quarentonas” nascidas em 1970 o ponto crítico do “progressivo caminho de homogeneização dos comportamentos entre homens e mulheres com relação à prática da fé”, que se realiza nas jovens nascidas depois de 1981. Depois essa data, os jovens de ambos os sexos “vão menos à Igreja, acreditam menos, têm menos confiança na Igreja, definem-se menos como católicos”.

 

Legalização da maconha

Todos estamos prá lá de fartos de saber as consequências do uso e do tráfico de drogas, sem elas as legais, como o álcool e o tabaco, seja a das ilegais das quais as mais conhecidas são a maconha, a cocaína e, ultimamente, o crack.
A maioria das abordagens fala dos danos do uso. Poucas, porém, falam dos danos provocados pelo tráfico. Uso e tráfico se relacionam, mas são diferentes e necessitam abordagens diferentes. Enquanto houver consumo, haverá tráfico. E o tráfico que, sempr eé bom lembrar, é um grande negócio, vai querer criar usuários…
Toda a problemática da droga – uso e comércio – pode ser tratada a partir de abordagens diversas. A mais comum, é a da repressão. Preconizada pelos Estados Unidos, a repressão mostrou seu limite no referente ao consumo nos próprios Estados Unidos e,na questão do tráfico, todos conhecemos as trágicas consequências que a política repressiva teve e continua tendo na Colômbia e no México, para falar apenas dos dois maiores e mais próximos exemplos.
A outra abordagem possível, a da prevenção e, dentro dela, da política de redução de danos, é mais praticada na Europa e, ultimamente, Portugal tem-se tornado dela o melhor exemplo. No vizinho Uruguai, o velho e bom Presidente Mujica teve a sabedoria e a coragem de levantar a questão e enviar para o Congresso um projeto que tenta regulamentar a produção e venda de maconha a fim de minorar as consequências do tráfico e da sua impossível repressão.
É um exemplo a ser observado e seguido.

Abaixo a reportagem da Agência Brasil

 

Governo propõe estatizar produção e venda de Maconha

Por Renata Giraldi*

 

Medida visa controlar e regulamentar a compra, comercialização e distribuição da droga. Foto: Torben Bjørn Hansen/Flickr

 

Brasília – O governo do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, encaminhou na quinta-feira 9 ao Congresso um projeto de lei para que o Estado passe a controlar e regulamentar a importação, produção, compra, comercialização e distribuição de maconha. O secretário adjunto da Presidência da República do Uruguai, Diego Cánepa, disse que o objetivo é reduzir o tráfico de drogas no país e controlar o consumo da erva.

 

Pela proposta, ficam mantidos os termos de um decreto de 1974, que proíbe a venda de maconha sem a interferência do governo. O novo texto estabelece que o Estado controla a importação, produção, compra, comercialização e distribuição da substância. Segundo o secretário, a expressão importação é aplicada apenas para as sementes da erva.

 

Integrantes do governo Mujica acreditam que, com o Estado no controle da produção e do comércio da maconha, não somente haverá a redução do tráfico como também deve diminuir a dependência do álcool, tabaco e drogas em geral.  ”Não há dúvida de que o álcool e o tabaco são prejudiciais. Porém, não são proibidos, o que se faz são campanhas de conscientização para tentar reduzir os danos”, disse Cánepa.

 

O secretário disse que a proposta não é defender a maconha, mas estabelecer uma nova política pública de combate ao tráfico e controle do uso da erva.  ”Ninguém está dizendo que a maconha é boa”, disse ele. “Acho que a decisão do presidente de ter a audácia ao dar esse passo permitirá ao governo promover um amplo debate.” Mais detalhes da proposta estão na página da Presidência da República do Uruguai.

 

O texto enviado ao Parlamento reúne análises de vários órgãos do governo e especialistas uruguaios e estrangeiros. O ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso é citado como um dos defensores da proposta apresentada pela Comissão Mundial sobre Políticas de Drogas. Também são mencionados o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas Kofi Annan e o escritores  Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes.

 

A comissão observa a necessidade de se rever a política sobre drogas. “A pior coisa é cair em uma discussão com slogans, preconceitos, sem um debate claro e verdadeiro”, disse Cánepa.  ”Há problemas com o abuso de álcool e alcoolismo em si, mas ninguém em sã consciência pensaria em proibir álcool. Vimos o que aconteceu com a proibição nos Estados Unidos, que foi uma grande derrota das políticas proibicionistas “, disse o secretário.

 

*Publicado originalmente em Agência Brasil.

 

Governo propõe estatizar produção e comércio de maconha | Carta Capital.