Hoje, 16 de maio, ao regressar de um longo e exigente dia de trabalho sem poder acessar notícias relacionadas à situação do Rio Grande do Sul que tanto sofre com o desastre ambiental, fruto não apenas do excesso de chuvas, mas também da degradação do meio ambiente provocada pela ganância, tomei um tempo para ver fotos e vídeos postados por meus confrades que, depois de terem sido resgatados de suas casas tomadas pelas águas, colocaram-se a serviço dos demais afetados de Canoas, me deparei com uma imagem consoladora, uma imagem que me fez sentir orgulho de ser católico.
Nas fotos e vídeos, um dos bispos auxiliares da Arquidiocese de Porto Alegre, acompanhado por alguns de meus confrades e outras lideranças católicas da cidade, percorreram as paróquias, comunidades e centros de acolhida e atendimento aos afetados pela inundação da cidade. Só soube que era um bispo porque estava nomeado nas postagens. À primeira vista, um homem comum entre tantos outros homens, vestido de modo simples e com uma jaqueta para proteger-se do frio que se torna cada dia mais intenso. Só quando prestei mais atenção vi que estava de clergyman. Nos vídeos percebia-se claramente a sua presença nada ostensiva nem aparatosa. Simplesmente cumprimentava as pessoas, consolava os flagelados, animava os voluntários, rezava com eles e elas e partia para outro espaço para repetir a mesma presença.
Mas por que então o meu orgulho católico? Não era apenas pelo fato de ele ser bispo da Igreja à qual pertenço. Fiquei feliz com isso. Mas, sobretudo, fiquei feliz porque ele, assim como meus confrades e outros ministros da Igreja e tantos voluntários e voluntárias estão demonstrando, neste momento triste, aquilo que há de mais católico no cristianismo: a capacidade de compadecer-se e partir ao encontro daqueles e daquelas que estão sofrendo.
Com efeito, o que faz do cristianismo uma religião universal ou católico, não é o fato de ser a religião com o maior número de membros. Tampouco é pela capacidade de estar presente em todos os lugares do mundo. O que faz o cristianismo ser uma religião aceitável por todos os humanos, é a capacidade de mover-se diante daquilo que é o mais comum nos humanos: a possibilidade da dor e do sofrimento.
Os cristãos cremos em um Deus que se compadeceu da humanidade e encarnou-se, na manjedoura de Belém e na cruz do Gólgota, para redimir e santificar a toda criatura, para livrar-nos do mal de toda desumanidade que nós, contraditoriamente, criamos. E sua compaixão não é limitada nem por pertença étnica, condição de gênero ou posição social. Como nos lembra Seu discípulo e apóstolo Paulo, em Jesus Cristo não há judeu nem grego, nem homem nem mulher, nem escravo nem livro. Todos e todas somos um n’Ele.
Do alto da cruz, Jesus nos lembra que só é fiel à sua proposta e à sua pessoa aquele e aquela que, na situação concreta que lhe cabe viver, é capaz de compadecer-se e retirar da cruz seus irmãos e irmãs. A condição que cabe a nós vivermos hoje, no sul do Brasil é a dos atingidos pelo desastre ambiental. Saber que muitos de nossos irmãos e irmãs de fé, na diversidade de vivências eclesiais, transforma a compaixão em ação, sem perguntar pela pertença religiosa, condição social, étnica ou gênero de quem precisa, faz crescer em nós o orgulho de pertencermos a uma comunidade que, movida pela Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, faz sua a dor do outro para que ele deixe de sofre, faz crescer em nós a consciência e o orgulho da nossa catolicidade.
Em tempo: muitos membros de outras igrejas cristãs, neste momento, vivem e demonstram, na ajuda aberta e ecumênica aos flagelados, também expressam de maneira pujante, a sua catolicidade. Que esse seja mais uma ponte no caminha da unidade na diversidade ecumênica que celebramos nesta Semana de Oração pela Unidade Cristã.