Arquivo mensal: agosto 2020

A Maior Igreja do Mundo

YamoussoukroDifícil estabelecer qual a maior igreja do mundo. Depende do critério utilizado: área construída, capacidade para abrigar pessoas, extensão da nave, altura… Conforme a medida usada, teremos um resultado diferente. Nas várias listas possíveis, a Europa contribui com o maior número. Em seguida, vem a América. Mas há uma exceção, e ela é africana.

Trata-se da Igreja Nossa Senhora da Paz de Yamoussoukro, na Costa do Marfim. Sua construção começou em 1985 e foi inaugurada em 1990 pelo Papa João Paulo II. A decisão por edificar tal igreja em plena savana foi do ditador Félix Houphouët-Boigny. Ele governou o país por 33 anos. O custo da obra foi de 300 milhões de dólares. Tamanho investimento teve sérias consequências para o país. Após a morte do ditador, a crise econômica degradou em crise política até hoje não resolvida.

Na nave fechada, que imita a Basílica de São Pedro, cabem 18 mil pessoas. No pátio, 300.000 fieis podem assistir às missas. A capacidade total só foi utilizada duas vezes: na visita do Papa e no enterro do ditador. Os católicos são apenas 15% do total de 25 milhões de habitantes. A cidade de Yamoussoukro não passa dos 100 mil moradores. Hoje, nos domingos, o templo recebe, no máximo, 350 pessoas. O custo anual da manutenção do prédio é de 1,5 milhões de dólares.

A Igreja Nossa Senhora da Paz de Yamoussoukro é um exemplo típico da confusão entre templo e Igreja. Há pessoas que pensam que construindo um templo se está edificando a Igreja. Ledo engano. Como diz a boa teologia, o que menos importa numa comunidade cristã, é o lugar onde ela se reúne. Não é o tamanho ou a suntuosidade do prédio que diz da grandeza de uma Igreja. Aliás, a construção de prédios grandiosos, como mostra a história passada e fatos do presente, ao invés de ajudar a edificar a comunidade, muitas vezes é motivo para divisão, escândalo e destruição.

É preciso voltar à simplicidade da Igreja de Jesus. Ele se reunia com as pessoas nas sinagogas da Galileia, nas casas, nas praças, nas estradas, na beira do lago, no alto da montanha… De qualquer lugar, ele fazia um lugar de encontro com Deus. E isso por três razões. Primeira, porque, para Jesus, Deus mora na pessoa dos pobres e pequeninos. Em seus corpos machucados pelo esquecimento, desprezo e opressão, aí Ele está presente. Em segundo lugar, porque Ele se faz presente em todo e qualquer lugar onde dois ou mais se encontram em seu nome. E, finalmente, porque Deus não precisa de um templo. Ele mora no coração sincero de toda pessoa que busca a verdade. Ele pode ser encontrado no monte Garizim, no Templo de Jerusalém, em qualquer espaço religioso e também fora deles.

Menos prédios. Mais igrejas vivas. É o grande desafio para todos os que colocam sua fé no Deus de Jesus Cristo e não nas obras das próprias mãos. Aí sim, teremos a verdadeira maior Igreja do mundo que será a humanidade e toda a criação habitada por Deus.

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Quanto vale uma vida?

A pergunta parece, à primeira vista, não fazer sentido. Preço, tem as coisas. A vida humana é absoluta. É impossível estabelecer o preço de uma vida. Impossível, mas nem tanto…

Se olharmos para trás, para nossa história, há pouco mais de cem anos, vidas humanas eram cotadas no mercado como qualquer outra bem. Em 1846, um  homem escravizado comum valia, no mercado brasileiro, em média, 350 mil-réis. Era o equivalente a 30 sacas de café. Um escravizado capaz de um trabalho qualificado valia o dobro, ou seja, 60 sacas de café. Trinta anos depois, em 1875, as restrições ao tráfico de seres humanos impostas pela Inglaterra, fizeram com que o valor de um humano escravizado subisse 235%, alcançando a cotação, no mercado carioca, de 1 conto e 256 mil-réis para os machos e 1,106 contos de réis para as fêmeas. Na época, 1 quilograma de ouro era vendido por 1 conto de réis. Ou seja, uma vida humana valia um pouco mais que um quilo de ouro.

Tais constatações nos espantam e, para alguns, até podem causar horror. Mas são nosso passado e, por que não, também o nosso presente. Quanto vale uma vida? Concretamente, quanto vale a vida do trabalhar do hipermercado que, acometido por um mal súbito, caiu morto e seu corpo, tombado no chão, foi tapado por guarda-sóis para que o negócio não parasse? A vida daquele trabalhador não vale um dia de comércio fechado. Mais vale o faturamento diário que a vida toda daquele homem. Afinal, na fila, há milhares esperando para ocupar a vaga do tombado ao chão. Nem há necessidade de traficá-los da África. Eles já estão aqui.

Mas não nos espantemos! Como diz a propaganda, tudo tem seu preço e pode ser pago com cartão de crédito. Ou, para não ter problemas com a receita, em dinheiro vivo transportado em malas ou depositado parceladamente num caixa eletrônico de um shopping center. Hoje, como no séc. XIX, mesmo que seja cruel dizê-lo e admiti-lo, as vidas humanas têm preço. E, como no tempo da escravidão, há quem esteja disposto a pagar por elas. Outros sentem-se felizes e realizados em comercializá-las. E outros, estes a grande maioria, são obrigados a vendê-las num mercado em que este “produto” é subvalorizado.

É preciso resgatar o valor da vida humana. De cada vida e de todas as vidas. Não há nada que possa ser trocado por uma vida. Uma vida só pode ser entregue se for para resgatar outras vidas das modernas escravidões. É o que fez Jesus. E, no seu seguimento, bem perto de nós, Chico Mendes, Margarida Alves, Santo Dias da Silva, Pe. Ezequiel Ramin, Irmã Dorothy, Irmã Dulce, Dom Pedro Casaldáliga e tantos santos e mártires do povo brasileiro.

São vidas que não tiveram preço, mas tem o apreço e o carinho daqueles e daquelas pelas quais foram doadas. Por isso, são vidas eternas.

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SOBRE IPÊS E MENINAS

Faz agosto em Porto Alegre. Apesar dos 24 graus, o inverno ainda não se foi. Ainda é cedo para se dizer primavera. Frio e calor se alternam num grenal de temperaturas que seguirá até setembro ou outubro. Ninguém sabe. Cada ano é diferente. Cada semana é uma semana. E cada dia é uma caixa de surpresas. Faz parte… Somos sobreviventes neste clima abrupto, intermitente, impaciente.

Impaciente como os cinco ipês rosas que habitam o pátio da casa onde moro. Basta um pouco de calor de agosto – às vezes até mesmo em julho – e logo saltam suas flores que contrastam com o verde das figueiras, mangueiras e jacas. Sim! Em Porto Alegre também há mangueiras e jacas. Um ou dois dias de sol bastam para que os ipês ocupem todo o espaço ao meio e acima das outras árvores. A cada dia, a cada hora, novos brotos, novas flores, um brilho cada vez maior a fascinar os olhos e a mente.

Mas como ainda é agosto, nem termina a floração e uma frente fria patagônica varre com seu gélido sopro os pampas, a serra, invade as ruas do Porto (nem sempre) Alegre, sobe a lomba do Santo Antônio e os ipês, num movimento instintivo de proteção, recolhem sua seiva, encolhem suas flores e pouco a pouco, uma atrás da outra, vão tombando ao chão formando um róseo tapete a enfeitar a grama, as ervas, a lama que se forma com a chuvisca intermitente que tudo volta a congelar. Ainda é inverno em Porto Alegre…

Entre uma pétala e outra que surdamente caem, fico a ouvir as muitas vozes que falam da menina capixaba de dez anos estuprada durante quatro anos por seu tio e que resultou grávida. Vozes que gritam para defendê-la. Vozes que rugem pra condená-la. Pobre menina pobre. Tão pobre, como diz o poeta, que até ficou negra como tantas negras de quatrocentos anos de escravidão obrigadas a carregar seus filhos presos aos grilhões da servidão em seus próprios ventres. Filhos que, quando nasciam, eram vendidos pelos próprios pais. Faz pouco isso acontecia. Há apenas 150 anos a Lei do Ventre Livre chegou. Mas muitos ventres continuam presos, escravizados à sanha de machos que se acham donos dos corpos das mulheres, antes mesmo que a natureza as faça entender que são mulheres.

Uma entre tantas meninas estupradas e obrigadas a gestar e parir um rebento fruto de um crime. Vinte e duas mil, dizem as estatísticas oficiais. Na realidade, muito mais numerosas, pois nem todas tem a dupla infelicidade de sofrerem o abuso e de serem expostas publicamente como objeto de disputa política em tempos de fascismo moralista que faz da repressão de gênero um instrumento de dominação política.

Onde estava a mãe dessa menina? Onde estava a avó desta menina? Perguntam inquisidores legais, morais e religiosos escondidos atrás de suas togas, túnicas e gravatas. Ninguém pergunta pelo estuprador. Nem pelo pai e nem pelo avô. O primeiro está foragido. O segundo, assim como o terceiro, não se indaga sua presença. Faz parte da “cultura” brasileira responsabilizar as mães e as avós sobre a educação dos filhos e filhas. Se aconteceu o que aconteceu, a culpa é da menina. A culpa é da mãe. A culpa é da vó. A culpa é das mulheres. Talvez alguém pergunte que tipo de roupa a menina estava usando quando foi estuprada pelo tio… Nunca se sabe o tamanho e o limite da hipocrisia. Talvez seja infinita. Ou incurável. Temo.

Volto aos ipês e suas roupas rosas. Logo serão relevados pelos ipês de roupas amarelas e, mais raros, os de roupas brancas e verdes. Estes últimos, raríssimos, discretos, belos, singelos. Derramadas pelo chão, as pétalas rosas olham para o alto e observam os galhos, outra vez desnudos, a preparar novos brotos para a segunda floração. Apesar do frio que enrijece a pele e fere o coração, as flores voltarão. Estamos no mês de agosto. Ainda é inverno. Intermitente inverno. Renitente inverno. Quase um inferno de um minuano macho que tudo quer penetrar.

Mas o ipê está a anunciar que logo a primavera virá. E as árvores todas – paineiras com suas sestrosas flores rosa, guapuruvus a colorir o céu de amarelo, jacarandás com seu provocante lilás – para sempre desabrocharão em todas as casas, em todos os pátios, em cada rua, esquina, praça, parque, num arco-íris de esperança e liberdade onde as meninas de seis a dez anos poderão brincar sem medo, de boneca, de carrinho, de escola, de bola… do que quiserem!

Quem poderá nos salvar?

pergunta é antiga. Estamos sempre voltando para ela. Afinal, como humanos, vivemos a limitação da fragilidade e da finitude. Sabemos que, sozinhos, não podemos alcançar tudo o que sonhamos.

Desde o nascimento até a morte, precisamos dos outros. De um pai e de uma mãe para sermos gerados e criados. Da família para proporcionar o entorno de proteção, cuidado e carinho.

Durante a vida, precisamos da sociedade para ter o espaço de sobrevivência, cultura e realização. No curto tempo de existência, aproveitamos daquilo que outras gerações construíram antes de nós. E usufruímos do que outras pessoas – vizinhas ou de recantos remotos do mundo – desenvolvem e partilham conosco.

Na velhice e na morte, também precisamos dos outros. Para cuidar-nos nas debilidades que surgem da idade e para acompanhar-nos na morte e depois dela, no caminho final do cemitério ou do crematório.

As religiões nascem da experiência radical de que o ser humano não se realiza por si mesmo. Elas afirmam que a salvação de cada pessoa e da humanidade vem de uma realidade que é maior que a humana e que é chamada “Deus”. Ele salva ou envia alguém para salvar as pessoas que a ele se devotam.

Toda religião responde à pergunta fundamental: quem poderá nos salvar? É a pergunta que Jesus faz aos discípulos: Quem dizem as pessoas ser o Filho do Homem? “Filho do Homem”, na tradição judaica apocalíptica, era a pessoa enviada por Deus que traria a salvação para a humanidade. Alguns diziam que o salvador era João Batista, outros Elias, Jeremias ou algum dos profetas.

Diante das respostas, Jesus faz o teste final e pergunta se os discípulos viam nele a salvação de Deus. Pedro responde afirmativamente. Mas responde com uma resposta que mostra quem é Pedro e não quem pode ser o Salvador. Pedro imagina um salvador forte e poderoso que esmaga os adversários. Ele projeta em Jesus seu desejo de vingança contra os opressores dos judeus e quer que Jesus os esmague com força e poder. Jesus diz que Pedro, pensando assim, se torna um tentador, um satanás. Atribui a Deus o jeito de agir do diabo e, no lugar da salvação, traz a perdição.

Pedro não era uma pessoa má. Mas tinha uma ideia equivocada da liderança e do modo de fazer as coisas. E ele projetava em Jesus seu modo vingativo de pensar. Não é uma atitude exclusiva de Pedro. Nós também podemos repeti-la ao buscar salvadores que não agem como Deus mas agem como o diabo, aquele que divide, cria confusão, mente e mata.

Neste tempo de incertezas, de medo, de insegurança, mais do que nunca, é preciso estar atento e discernir os verdadeiros sinais de salvação e não confundir o agir de Deus com o agir de satanás. Só assim poderemos seguir o verdadeiro salvador e ficar longe do falso e enganador.

Se queres subir, olhe para baixo!

A crise que estamos vivendo, não é uma crise normal. Mais do que outras que a nossa geração teve que enfrentar, a Covid19 coloca em cheque não apenas a saúde de cada pessoa e o sistema sanitário. Ela põe a economia em frangalhos, provoca crises políticas, tem causas e consequências ambientais, rompe a sociabilidade, fratura afetividades, questiona espiritualidades. É, no sentido mais próprio, uma crise cultural: ela questiona o sentido da existência pessoal e da civilização que, há séculos e a duras penas, estamos construindo.

Por ser radical, a crise provoca reações radicais. Há os que racionalizam, os que deixam emergir os instintos básicos de sobrevivência através da agressão ou da superproteção, os que se aproveitam da situação para lucrar bilhões, e os que, para não enfrentar a gravidade da situação, fingem ignorá-la ou buscam soluções mágicas em terapias sem nenhuma comprovação ou comprovadamente ineficazes. É há os que não aguentam tamanha pressão e, num ato de desesperada esperança, abdicam da própria existência.

Onde encontrar sentido para a vida e esperança para o futuro em meio ao esgarçamento civilizacional provocado pela Covid19?

Há os que se agarram à sua riqueza, ao poder, ao supremacismo social, ao racismo e a outras ideologias que lhes dão a pseudo segurança de que, por fazerem parte de uma elite, não serão atingidos pela crise.

Há os que apostam todos os seus recursos na ciência alimentando a esperança de que em breve teremos remédios, terapias e vacinas que nos livrarão do flagelo. Mas esse “até lá”, a própria ciência o diz, não é para amanhã. E muitos ainda serão os mortos e a destruição antes que tal solução chegue.

E há os que se apegam à religião como solução. Bênçãos, promessas de cura, milagres, orações que garantem saúde a salvação e muita exploração de incautos são uma epidemia tão avassaladora quanto à provocada pelo coronavírus. E da qual as religiões, todas elas, num futuro próximo, sofrerão as consequências.

Acreditar em algo é importante. A ciência é importante. A religião é importante. Neste tempo de crise sanitária, em que o Brasil padece a dor de mais de 100 mil mortos e mais de três milhões de infectados, é crucial lembrar que, para o cristão, não há salvação da alma sem salvação do corpo. Uma exige a outra. Só há ressurreição para aquele que experimentou a salvação na própria carne e na carne dos outros. O ressuscitado com as mãos, os pés e o lado marcado pelos cravos da paixão, é imagem eloquente de que a salvação passa pela encarnação.

Maria, que foi subida ao céu em corpo e alma, também o anunciou: o Deus verdadeiro olha para a humildade de sua serva para elevá-la à mais alta dignidade. Ele derruba do trono os poderosos e exalta os humildes. Sacia os famintos e despede os ricos sem nada. O caminho do céu passa pelo mais sofrido da humanidade. Não há outro caminho. Se queremos, a exemplo do Filho de Deus e de Maria, ir para o alto, precisamos olhar para baixo, para os que sofrem e, tomando-os pela mão, iniciar o caminho da redenção. Da salvação deles, e da nossa salvação.

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Para que não se repita!

hiroshima

Em sua obra Sobre a Oratória, escrita em 55 a.C., Marco Túlio Cícero registrou uma frase que, de século em século, chegou até hoje e nos faz pensar sobre a capacidade humana de apreender. Dizia ele: “a história é testemunha dos séculos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, mensageira do passado”. A forma breve da afirmação – a história é a mestra da vida – tornou-se popular e enfeita formaturas de Cursos de História e discursos de políticos candidatos a caudilho, ditador ou estadista.

Sem pôr em dúvida a grandeza de Cícero – quem sou eu! – faço-me uma singela pergunta: o sábio romano, ao fazer tal afirmação, fazia uma constatação ou proclamava um desejo?

Coloco esta indagação nestes dias em que comemoramos os 75 anos do lançamento, pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. No dia 6 de agosto de 1945, uma bomba de urânio foi jogada sobre Hiroshima. Três dias depois, outro avião despejou uma bomba de plutônio sobre Nagasaki. Milhares de pessoas morreram instantaneamente. Em menos de quatro meses, o número de mortos subiu a mais de 300 mil. Durante décadas, milhares de pessoas continuaram a morrer e a sofrer as consequências da radioatividade.

Até hoje, estrategistas militares, governantes, políticos e moralistas se perguntam: era necessário tal massacre para que a guerra terminasse? Para os defensores do holocausto de Hiroshima e Nagasaki, não haveria solução final para o conflito sem uma prova irrefutável da superioridade americana sobre o Império Japonês.

As palavras grifadas o foram de propósito: holocausto, solução final e superioridade. Elas remetem a um outro espaço em que se disputou a hegemonia econômica, política e cultural na “Segunda Guerra Mundial”. Como todos já perceberam, trata-se do conflito europeu em que o nazismo, através do holocausto de judeus, ciganos, comunistas, pacifistas, homossexuais e doentes, queria dar uma solução final para os problemas do mundo e impor a superioridade da raça ariana.

Voltando à frase de Cícero, nos perguntamos: aprendemos algo com esses dois episódios tão similares da história da humanidade?

É verdade que a bomba atômica nunca mais foi usada. Mas outras bombas, menos espetaculares mas tão ou mais eficazes, continuaram a matar milhões de pessoas por todo o mundo: Coreia, Vietnam, Argélia, Camboja, Indonésia, Colômbia, Guatemala, El Salvador, Chile, Ruanda, Congo, Afeganistão, Iraque, Tiananmen, Líbia, Iêmen… e tantos outros massacres esquecidos.

É preciso ler a frase de Cícero até o fim quando ele diz: “qual voz, se não a do orador, pode tornar a história imortal?” Para que a história não morra, é preciso contá-la. E contá-la sempre de novo. Só assim ele não será repetida. O painel de entrada do Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago do Chile nos interroga: “Que acontecerá se esquecermos?” Que jamais se esqueça, para que nunca mais aconteça.