Arquivo mensal: outubro 2009

A vez dos padres casados

Em uma manobra que foge a sua tradição secular, a Igreja Católica Apostólica Romana anunciou na semana passada que incluirá padres casados da Igreja Episcopal Anglicana em seus quadros.

“Agora, a Igreja Católica terá dois tipos de padres: os casados e os celibatários”, resumiu o padre Elias Wolff, assessor da comissão episcopal para o ecumenismo e diálogo inter-religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em uma prévia do documento que detalhará as regras para a transição, chamado “Constituição Apostólica”, ficou definido que a mudança será permitida apenas aos padres anglicanos e seminaristas – os bispos ficaram de fora. O sacerdote anglicano que pretender se tornar um religioso católico deverá passar por uma reciclagem doutrinária. Ao final do curso, uma prova será ministrada e os aprovados terão status idêntico ao dos padres católicos de origem, o que inclui competência para executar todos os sacramentos.

“Com a decisão, a igreja atende a uma de manda antiga dos anglicanos conservadores, conhecidos como anglocristãos”, explica o padre Wolff. O grupo, avesso a modernidades desde o começo da Igreja Anglicana, cresceu e se distanciou ainda mais dos progressistas nos últimos anos, quando a instituição passou a aceitar, oficialmente, mulheres e homossexuais como bispos. Os detalhes do processo de transição ainda não estão totalmente definidos. O que se sabe é que os anglicanos que optarem pela mudança constituirão uma nova paróquia, e se espera que eles tragam fiéis da igreja antiga para ajudar a constituí-la. A influência dos sacerdotes convertidos dificilmente se estenderá para além dessa área e ele terá liberdade para manter algumas das tradições e ritos que não estejam em desacordo com a doutrina católica apostólica romana.

Para o alto escalão da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, a medida que abre as portas do Vaticano aos anglicanos conservadores não é uma surpresa. O secretário-geral da instituição, reverendo cônego Francisco de Assis da Silva, já tem até uma estimativa para o número de conversões. “Não ultrapassará os 500 mil”, diz ele. Isso representa cerca de 6,5% dos 77 milhões de anglicanos espalhados pelo mundo. No Brasil, onde há 100 mil fiéis, a proporção deve ser a mesma. Em 2003, quando Gene Robinson, abertamente gay, foi nomeado bispo anglicano na Diocese de New Hampshire, nos Estados Unidos, muitos fiéis ensaiaram romper com a instituição. Nem por isso a igreja arredou pé de suas convicções. “A única coisa inquestionável entre nós é a fé”, diz Assis. “Fora ela, todas as outras matérias estão abertas à discussão”, afirma. A Igreja Anglicana também apoia o uso de métodos de controle de natalidade e defende as pesquisas com células-tronco. “Se os estudos têm implicações sociais positivas e levam à preservação da vida, por que não apoiálos?”, questiona Assis. Os católicos, como se sabe, têm opinião contrária. E o Vaticano já antecipou que não admitirá opiniões divergentes nessas questões.

A tolerância e a abertura para o diálogo são parte da identidade da Igreja Episcopal Anglicana. Criada em 1534 pelo rei Henrique VIII, da Inglaterra, ela surgiu em plena reforma protestante, em que tudo era razão para questionamentos, e nasceu como dissidência do catolicismo romano. As razões que teriam culminado com o rompimento da Inglaterra com o Vaticano e a consequente criação da Igreja Anglicana são tão variadas quanto polêmicas. Alguns ainda defendem que a cisma aconteceu porque o rei queria anular seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão, o que era e ainda é proibido pela Igreja Católica, e se casar com Ana Bolena, sua amante. Talvez, mas não foi só essa a motivação do monarca. Depois de romper com Roma, o rei se autointitulou líder religioso do país, confiscou propriedades da Igreja Católica nas ilhas britânicas, que não eram poucas, e suspendeu o pagamento anual de impostos da coroa inglesa ao Vaticano. Os mais tradicionais se juntaram em um grupo que acabou conhecido como os anglo-cristãos e hoje permanecem como a porção conservadora do anglicanismo. Já os progressistas assumiram uma identidade de reformistas protestantes e continuam mais abertos às mudanças. Hoje, o anglicano que rumar para a Igreja Católica, seja ele conservador ou progressista, será visto como um agente de transformação.

“Para a Igreja Católica, é interessante acolher um padre anglicano”, afirma o reverendo Aldo Quintão, deão da Catedral Anglicana de São Paulo e ex-frade carmelita. Segundo ele, a maioria dos anglicanos tem formação acadêmica impecável, com passagens por seminários na Inglaterra, berço da religião, e pelos Estados Unidos. Eles elevariam o nível dos sacerdotes católicos, ainda mais numa época em que as vocações estão em baixa. “Acho até sensata a decisão de levar os anglocristãos”, afirma o ex-frade. “O movimento pode ser um sinal de que Roma está aceitando a modernidade de forma enviesada.” Faz sentido.

Não é todo dia que se vê um padre dando sermão a um rebanho de fiéis que pode incluir sua esposa e seus filhos. Mas, ao que tudo indica, isso pode se tornar cada vez mais comum.

Católicos Romanos e Católicos Anglicanos

CIUDAD DEL VATICANO, 20 OCT 2009 (VIS).-El cardenal William Joseph Levada,prefecto de la Congregación para la Doctrina de la Fe y el arzobispo Joseph Augustine Di Noia, O.P., secretario de la Congregación para el Culto Divino y la Disciplina de los Sacramentos, explicaron esta mañana durante un encuentro con periodistas la nota sobre los Ordinariatos Personales para los anglicanos que entran a formar parte de la Iglesia católica.
El cardenal Levada comentó una nota informativa de su dicasterio en la que se dice que “la Iglesia católica responde con una Constitución Apostólica a las peticiones dirigidas a la Santa Sede de grupos de clérigos y fieles anglicanos de diversas partes del mundo, que desean entrar en la plena y visible comunión con ella”.
“En esta Constitución Apostólica -dijo-, el Santo Padre ha introducido una estructura canónica que provee a una reunión corporativa a través de la institución de Ordinariatos Personales, que permitirán a los fieles ex anglicanos entrar en la plena comunión con la Iglesia católica, conservando al mismo tiempo elementos del especifico patrimonio espiritual y litúrgico anglicano. Según el tenor de la Constitución Apostólica, la atención y la guía pastoral para estos grupos de fieles ex anglicanos será asegurada por un Ordinariato Personal, del que el Ordinario será habitualmente nombrado por el clero ex anglicano”.
“La Constitución Apostólica, que está a punto de publicarse, representa una respuesta razonable e incluso necesaria a un fenómeno global, ofreciendo un único modelo canónico para la Iglesia universal adaptable a diversas situaciones locales, y en su aplicación universal, equitativa para los ex anglicanos. Este modelo prevé la posibilidad de la ordenación de clérigos casados ex anglicanos, como sacerdotes católicos. Razones históricas y ecuménicas no permiten la ordenación de hombres casados como obispos, tanto en la Iglesia católica como en las ortodoxas. Por tanto, la Constitución determina que el Ordinario pueda ser o un sacerdote o un obispo no casado.
Los seminaristas del Ordinariato se prepararán junto a otros seminaristas católicos, pero el Ordinariato podrá abrir una casa de formación para responder a necesidades particulares de formación en el patrimonio anglicano”.
“Esta nueva estructura -continúa la nota- está en consonancia con el compromiso en el diálogo ecuménico, que sigue siendo una prioridad para la Iglesia católica, en particular a través de los esfuerzos del Pontificio Consejo para la Promoción de la Unidad de los Cristianos”. En este sentido, el cardenal Levada señaló que “la iniciativa proviene de varios grupos de anglicanos que han declarado que comparten la fe católica común, como expresa el Catecismo de la Iglesia Católica, y que aceptan el ministerio petrino como un elemento querido por Cristo para la Iglesia. Para ellos ha llegado el tiempo de expresar esta unión implícita en una forma visible de plena comunión”.
El purpurado subrayó que “Benedicto XVI espera que el clero y los fieles anglicanos deseosos de la unión con la Iglesia católica encuentren en esta estructura canónica la oportunidad de preservar aquellas tradiciones anglicanas que son preciosas para ellos y conformes con la fe católica. En cuanto expresan en un modo distinto la fe profesada comúnmente, estas tradiciones son un don que hay que compartir en la Iglesia universal. La unión con la Iglesia no exige la uniformidad que ignora las diversidades culturales, como demuestra la historia del cristianismo. Además, las
numerosas y diversas tradiciones hoy presentes en la Iglesia católica están todas enraizadas en el principio formulado por San Pablo en su carta a los Efesios: “Un solo Señor, una sola fe, un solo bautismo”.
“Nuestra comunión -concluyó el cardenal Levada- se ha reforzado por diversidades legítimas como estas, y estamos contentos de que estos hombres y mujeres ofrezcan sus contribuciones particulares a nuestra vida de fe común”.
En una declaración conjunta, los arzobispos de Westminster y Canterbury, respectivamente Vincent Gerard Nichols y Rowan Williams, afirman que el anuncio de la Constitución Apostólica “acaba con un período de incertidumbre para los grupos que nutrían esperanzas de nuevas formas para alcanzar la unidad con la Iglesia católica. Toca ahora a los que han cursado peticiones de ese tipo a la Santa Sede responder a la Constitución Apostólica”, que es “consecuencia del diálogo ecuménico entre la Iglesia Católica y la Comunión Anglicana”.
“El actual diálogo oficial entre la Iglesia Católica y la Comunión Anglicana -subrayan los prelados- sienta las bases para que prosiga nuestra cooperación. Los acuerdos de la Comisión Internacional Anglicano Católica (ARCIC) y de la Comisión Internacional Anglicano Católica para la Unidad y la Misión (IARCCUM) establecen con claridad el camino que seguiremos juntos”.
“Con la ayuda de Dios y de la oración -concluyen- proclamamos nuestra determinación para reforzar el mutuo compromiso actual y la consulta sobre éste y otros argumentos. A nivel local, con el espíritu de la IARCCUM,quisiéramos adoptar el modelo de reuniones entre la Conferencia de Obispos Católicos de Inglaterra y Gales y la Cámara Episcopal de la Iglesia de Inglaterra, centrándonos en la misión común”.
CDF/ANGLICANOS:IGLESIA CATOLICA/LEVADA VIS 091020 (800)

Calendário espanhol retrata santos como transexuais

Associações espanholas de defesa dos direitos dos homossexuais lançaram um calendário com imagens baseadas em conhecidas obras de arte sacra, especialmente aparições da Virgem Maria, mas interpretadas por transexuais.

No chamado Calendário Laico, cada mês está representado por uma livre interpretação de cenas famosas do imaginário católico, como a de Nossa Senhora de Fátima diante dos três pastores. Mas redecorada com a estética gay.

As imagens mostram santas em versões drag queen, usando mantos, coroas, colares, braceletes, tendo preservativos coloridos como aplique e até vibradores no alto das coroas.

Depois do sucesso de uma experiência-piloto – com 500 cópias esgotadas na parada do orgulho gay, em junho -, o calendário laico começa a circular em Madri nesta semana com tiragem de 10 mil exemplares.

Para o Coletivo de Gays, Lésbicas, Transexuais e Bissexuais de Madri (Cogam), autores do polêmico calendário, a publicação tem como objetivo reivindicar que, em um país laico, os feriados santos sejam substituídos por eventos sociais.

O grupo sugere, por exemplo, que 25 de dezembro seja declarado oficialmente o dia da democracia em lugar do Natal.

“E porque não?”, questionou o presidente do Cogam, Miguel Ángel González, em entrevista à BBC Brasil.

“Talvez muita gente prefira comemorar coisas com as que se sente mais identificada, como o dia do meio ambiente ou dia da diversidade.”

‘Provocação’

O calendário deve ser interpretado como provocação ao clero, em um país onde a Igreja, influente, difunde doutrinas contrárias ao homossexualismo e ao uso de preservativos.

“Pode ser que alguém se chateie. Esperamos que nenhum fiel se sinta ofendido, porque não era a intenção, nem vemos nada de vulgar nas fotos”, afirma o ativista.

“Mas também não é uma provocação a onipresença da igreja e a negação da homossexualidade por parte do clero, fazendo uso dos seus ícones? A arte está para isso: para romper os esquemas.”

Alguns fiéis já se sentem ofendidos. O grupo católico Religião e Liberdade, fervente, disse à BBC Brasil que o calendário é uma “ofensa clara e inconstitucional”.

Citando o Código Penal, o vice-presidente da associação, Raúl Mayoral, alega que a publicação vulnera o artigo que prevê penas de oito a doze meses de prisão para quem ofenda os sentimentos dos membros de uma confissão religiosa.

Para os representantes da Plataforma Hazte oír (Faz-te ouvir), uma das organizadoras dos protestos nas ruas de Madri contra o aborto e contra o casamento entre gays, o calendário laico ataca os ícones e valores católicos, mas não surpreende.

“Estamos fartos de ver estes tipos de agressões. Essa inquisição rosa é constante porque os homossexuais espanhóis aproveitam qualquer oportunidade para soltar qualquer barbaridade em nome da liberdade de expressão”, disse à BBC Brasil Nicolás Susena, coordenador da plataforma.

“Depois de ver cartazes na parada do orgulho gay com fotos do Papa Bento 16 e a frase ‘cuidado com o pastor alemão’ o que vamos esperar desta gente? É revoltante e me dá vergonha de ser espanhol numa sociedade deste nível.”

Diocese dos EUA pede falência devido a casos de abuso sexual Mulher rezando

Uma diocese católica do Estado americano de Delaware entrou com pedido de falência na noite de domingo na véspera de um julgamento sobre abusos sexuais cometidos por padres.

A medida adia automaticamente o julgamento, que estava previsto para esta segunda-feira.

O bispo da diocese de Wilmington, que abrange os Estados de Delaware e Maryland, disse que o pedido de falência seria a melhor forma de beneficiar todas as vítimas, mas a decisão foi criticada pelo advogado que acusa a instituição religiosa.

O bispo Francis Malooly argumenta, em um texto publicado no site da diocese na internet, que as negociações da Igreja com oito vítimas de abuso sexual fracassaram.

‘Dolorosa’

Caso eles ganhassem o processo nesta segunda-feira, a quantia pedida deixaria a diocese sem recursos para pagar outras 133 pessoas que têm processos semelhantes contra a instituição.

“Esta é uma decisão dolorosa, uma que eu esperei e rezei para que nunca tivesse que fazer”, disse Malooly, no texto.

“Entrar com um pedido no Capítulo 11 [da lei de falência] é a melhor oportunidade, dados os recursos limitados, para dar o tratamento mais justo possível a todas as vítimas de abuso sexual por padres da nossa diocese.”

Para o advogado Thomas Neuberger, que representa 88 vítimas, a medida foi uma forma desesperada da diocese para impedir que a verdade fosse revelada, já que a Igreja teria de apresentar documentos às autoridades durante o julgamento.

“Este pedido é o mais recente e triste capítulo na história de décadas de acobertamento destes crimes condenáveis para manter em segredo a responsabilidade e cumplicidade do abuso de centenas de crianças católicas”, disse Neuberger, em nota à imprensa.

Wilmington é a sétima diocese americana a pedir falência devido a prejuízos provocados por escândalos sexuais. A primeira a fazê-lo foi a arquidiocese de Boston, em 2002.

Até agora, a diocese pagou US$ 6,2 milhões a vítimas de abusos. O maior pagamento do tipo até hoje foi feito pela arquidiocese de Los Angeles, que em julho de 2007 desembolsou US$ 660 milhões com 508 vítimas.

O Brasil é líder no combate à fome entre os países em desenvolvimento, de acordo com um ranking elaborado pela ONG antipobreza Action Aid e publicado nesta sexta-feira para marcar o Dia Mundial da Alimentação.

Segundo o documento, o país demonstra “o que pode ser atingido quando o Estado tem recursos e boa vontade para combater a fome”.

A lista foi elaborada a partir de pesquisas sobre as políticas sociais contra a fome em governos de 50 países. A partir da análise, a ONG preparou dois rankings – um com os países em desenvolvimento, onde o Brasil aparece em 1º lugar, e o outro com os países desenvolvidos, liderado por Luxemburgo.

Em último lugar na lista dos desenvolvidos está a Nova Zelândia, abaixo dos Estados Unidos. Entre os países em desenvolvimento, a República Democrática do Congo e Burundi aparecem nas últimas colocações.

Segundo a diretora de políticas da Action Aid, Anne Jellema, “é o papel do Estado e não o nível de riqueza que determina o progresso em relação à fome”.

Brasil

O documento elogia os esforços do governo brasileiro em adotar programas sociais para lidar com o problema da fome no país e destaca os programas Bolsa Família e Fome Zero.

“O Fome Zero lançou um pacote impressionante de políticas para lidar com a fome – incluindo transferências de dinheiro, bancos de alimentação e cozinhas comunitárias. O projeto atingiu mais de 44 milhões de brasileiros famintos”, diz o texto.

Segundo o relatório, o programa ainda ajudou a reduzir a subnutrição infantil em 73%.

A ONG afirma ainda que o Brasil é “exemplar” no exercício do direito ao alimento e cita a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan 2006) e o Ministério do Combate à Fome como medidas de que exemplificam que o direito à alimentação está sendo cada vez mais reconhecido como direito fundamental.

Apesar do aspecto positivo, a ONG afirma que o Brasil “ainda tem áreas em que pode melhorar” e cita o desafio de incluir os trabalhadores sem terra e pequenos agricultores nos programas sociais de alimentação.

“É imperativo que famílias em pequenas fazendas também estejam protegidas da expansão dos enormes programas industriais de biocombustíveis do Brasil”, afirma o relatório.

Índia

Em segundo lugar no ranking dos países em desenvolvimento aparece a China, seguida por Gana (3º) e Vietnã (4º).

A Action Aid destaca a redução no número de famintos na China – 58 milhões em dez anos – e elogia os esforços do governo em apoiar os pequenos agricultores.

Em contrapartida, o documento critica a Índia onde, segundo o relatório, 30 milhões de pessoas teriam entrado para a taxa dos famintos desde a metade dos anos 90.

Além disso, a ONG destaca que 46% das crianças estão abaixo do peso e subnutridas no país.

“A fome existe não porque não há alimento suficiente na Índia, mas porque as pessoas não conseguem chegar até ele. O governo indiano enfrenta um enorme desafio para proteger os direitos dos pobres”, diz o texto.

Ricos

Não só os esforços e as políticas dos governos de países em desenvolvimento e mais pobres são criticados no documento divulgado nesta sexta-feira.

No ranking dos países desenvolvidos, atrás de Luxemburgo está a Finlândia (2º) e a Irlanda (3º), com a Nova Zelândia(22º) e os Estados Unidos (21º) nas últimas colocações.

A ONG acusa o governo neozelandês de ordenar cortes acentuados no incentivo oficial à agricultura e classifica o incentivo do governo americano à agricultura como “mesquinho”.

“A contribuição (desses países) para expandir programas de segurança social permanece insignificante”, diz o documento, agregando Grécia, Portugal e Itália.

Que se cuidem os infiéis

Por Gilberto Nascimento

Um novo coronelismo eletrônico começa a tomar corpo no Brasil. Ele se espelha na velha estratégia de associar o controle dos meios de comunicação ao poder político, à moda de clãs como os Sarney, no Maranhão, e os Magalhães, na Bahia. Com uma diferença: os movimentos têm como pano de fundo a fé religiosa.

Nunca antes grupos – sejam evangélicos, sejam católicos – acumularam tanta influência na mídia. E nunca trabalharam tão claramente para eleger diretamente deputados, senadores e governadores ou apoiar candidatos identificados com suas ideias e projetos, que incluem a oposição ao aborto e à união homossexual, para citar dois casos no campo dos direitos civis.

“O deputado-pastor ou deputado-bispo tem a sua eleição garantida pela hierarquia religiosa que o escolhe, mas tem por função defender todo e qualquer interesse que envolva a sua agremiação religiosa. O seu mandato não é dos eleitores, mas daqueles que o colocam no Parlamento. Ele deve prestar contas somente a quem o indicou”, constata o presbiteriano Leonildo Silveira Campos, professor de pós-graduação em Ciências da Religião na Universidade Metodista.

“Na Câmara, os representantes das igrejas vão defender os valores considerados legítimos por elas, como o combate ao aborto, e os interesses das corporações religiosas no campo da comunicação”, acrescenta Campos, autor do estudo Evangélicos e Mídia no Brasil – Uma história de acertos e desacertos.

Igrejas evangélicas como a Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça, Mundial do Poder de Deus e Assembleia de Deus e os movimentos ligados à Renovação Carismática (a versão católica do pentecostalismo) aumentam a cada dia a sua presença na mídia. Entre os carismáticos, o grupo que mais cresce é o da Canção Nova, fundada em 1978, em Cachoeira Paulista (SP), no Vale do Paraíba.

Com o controle dos meios de comunicação para expor suas ideias, os grupos religiosos se fortalecem politicamente. Fazem o seu proselitismo, combatem ideias contrárias aos seus interesses e expõem maciçamente a imagem dos religiosos que, no futuro, podem se tornar líderes políticos.

A tendência, avalia o pesquisador Antônio Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da USP dedicado aos estudos da religião, é o Congresso tornar-se mais conservador, principalmente em temas ligados aos direitos civis. “Há um risco para a sociedade de termos cada vez mais, na Câmara dos Deputados, políticos defendendo teses conservadoras. Eles estão lá para impedir a modernização cultural. Vão barrar propostas sobre aborto, união civil de homossexuais e outros temas morais. Questões como os direitos reprodutivos da mulher são combatidos pela bancada evangélica, com a ajuda da católica. Haverá um grande atraso para o País”, acredita Pierucci.

Já o avanço de cultos no controle da mídia provoca reações do velho oligopólio dos meios de comunicação e não mais só da Rede Globo. Em sua estratégia de crescimento, as igrejas pentecostais elegeram como alvo as emissoras regionais e passaram a comprar canais afiliados às grandes redes. O SBT, a emissora que mais perdeu espaço para os evangélicos, decidiu agora declarar guerra a esses grupos.

Não se trata exatamente de um movimento para levar os fãs de Silvio Santos às ruas contra a liberdade religiosa. Mas o canal do homem-sorriso quer impedir que bispos e pastores continuem arrendando canais de tevê ou comprando espaços na programação. Em dificuldades para bancar o custo da transmissão dos programas das redes nacionais, as emissoras locais passaram a receber ofertas vantajosas das igrejas.

A tevê “mais feliz do Brasil” (esse é o slogan do SBT) tem motivos de sobra para ficar triste. De 1995 para cá, o canal de Silvio Santos perdeu treze de suas emissoras afiliadas apenas para a Record, controlada pela Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

Somente em 2009, outras cinco emissoras abandonaram o dono do Baú da Felicidade para passar a veicular os cultos e pregações do apóstolo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. De uma hora a outra, Silvio Santos ficou sem as tevês Alagoas, de Maceió, e Cidade Verde, de Cuiabá, Sapezal, Rondonópolis e Tangará da Serra, de Mato Grosso.

No ano passado, o SBT perdeu para a Record quatro emissoras da Rede Santa Catarina (a de Florianópolis, a de Blumenau, a de Chapecó e a de Joinville). A RedeTV! é outra vítima. No dia 29 de setembro, ficou sem a TV Piauí (canal 19), de Teresina, que migrou para o grupo do apóstolo Santiago.

Dissidente da Universal, o apóstolo da Mundial é um novo fenômeno do pentecostalismo. Como Macedo, promete curas milagrosas e atrai multidões em seus cultos. Sua igreja ocupa atualmente 22 horas da programação diária de emissoras como o Canal 21, da Rede Bandeirantes. Valdemiro desbancou a PlayTV, da Gamecorp, empresa de jogos para celular e tevê que tem como sócio Fábio Luís Lula da Silva, o filho do presidente Lula, e era a responsável pela grade do Canal 21 até 2008. Pelo espaço na programação, a Mundial paga 3 milhões de reais, segundo seus dirigentes. Mas há quem garanta que o valor é maior.
A Band produz apenas um telejornal de duas horas e o restante da programação é completada com os cultos da Mundial. Na TV Alagoas e na TV Piauí, essa prática deve se repetir. Santiago ainda arrenda ou compra horários em outras catorze emissoras, entre elas a RedeTV!, a CNT e a Boas Novas (da Assembleia de Deus).
Para tentar frear o ímpeto dos evangélicos, o diretor de rede do SBT, Guilherme Stoliar, foi a Brasília pedir apoio ao ministro das Comunicações, Hélio Costa. O executivo da emissora considera ilegal o arrendamento de canais. Ele se baseia no Decreto 8.806, de 1983, que determina que as tevês não podem vender mais do que 25% de seus espaços.

A Record aluga hoje cinco horas diárias – 21% do seu espaço – apenas para a Universal. A igreja compra por valores majorados o horário das madrugadas, de baixíssima audiência. Segundo informações divulgadas pela imprensa, o valor teria chegado a 400 milhões de reais no ano passado. A Record diz que não divulga o total pago. Mas a própria Universal chegou a oferecer à TV Globo, em agosto, 545 milhões de reais por horários na grade da concorrente. A Globo nem sequer respondeu. Em 2007, já teria recusado proposta semelhante.

Ao controlar a programação quase completa de várias emissoras, a Mundial estaria em situação irregular. “Não é legal e traz prejuízos para a radiodifusão e para a sociedade o arrendamento de programação parcial ou integral. A empresa que recebe uma concessão, dada pelo Executivo e homologada pelo Legislativo, não tem o direito de arrendar a terceiros”, defende Stoliar. A Mundial rebate. Diz que as igrejas têm o direito de divulgar suas mensagens e o acordo feito com as emissoras resulta num “contrato de gestão de conteúdo”.
Segundo Stoliar, a prática do arrendamento nas tevês tem aumentado. Ele diz, porém, não saber se a perda de suas emissoras deve-se unicamente ao dinheiro. “Não podemos afirmar, pois não temos como provar. Existem informações de que algumas foram compradas e outras alugadas por valores expressivos. Em nenhum dos casos fomos procurados por nossas afiliadas para uma negociação. Simplesmente fomos informados”, protesta.

Em contrapartida, representantes da Mundial lembram que o próprio dirigente do SBT é dono da TV Alphaville, de São Paulo, e transmite nessa emissora programas de religiosos, inclusive do apóstolo Santiago. “Na televisão fechada não existe nenhum impedimento legal de se vender programação a terceiros. A tevê a cabo é essencialmente uma distribuidora de conteúdos de terceiros. As leis para a cabo e para a radiodifusão são distintas”, defende-se Stoli
ar.

O executivo não revelou o teor de sua conversa com Hélio Costa. O Ministério das Comunicações informou, por meio de sua assessoria, que só se posiciona nesse tipo de caso quando provocado por uma denúncia formal. O dirigente do SBT, entretanto, não teria feito uma representação. Por outro lado, o ministério abriu processo contra a Record por ter transformado sua retransmissora de Campinas em geradora.
O novo inimigo da rede de Silvio Santos, Santiago, repete hoje Edir Macedo. O apóstolo ergue diariamente novos templos no Brasil e no exterior. Seus seguidores dizem que o número de igrejas no País pulou de 487, em 2008, para 1.600 neste ano. O crescimento é de 328,5%.

Em Moçambique, a Mundial conta com 30 templos. Na Argentina, 12. A Igreja está instalada ainda nos Estados Unidos, no Japão, em Portugal, no Uruguai e em Angola. Sua programação religiosa vai para toda a África e Europa por meio de um satélite. Uma produtora se encarrega de fazer a tradução simultânea, ao estilo dos programas dos tele-evangelistas americanos, como Rex Humbard, Billy Graham e Jimmy Swaggart, famosos nos anos 1980.

A sede das igrejas pelo seu próprio veículo de comunicação, segundo Leo-nildo Campos, é resultado da competitividade no campo religioso do País, a partir dos anos 1980. “É preciso atrair mais fiéis. A mídia, numa sociedade urbana e de massas, é o único meio para anunciar a sua mensagem. Porém, como outros estão nessa competição acirrada, torna-se necessário vencer a concorrência por meio de uma decisão religiosa. Essa decisão pode ser estimulada por uma propaganda religiosa apropriada e daí vem a importância do veículo de comunicação”, detecta o professor. “O religioso, então, supera o seu púlpito e torna-se um pregador das multidões.”

Outra razão para o crescimento das novas igrejas na mídia é o fato de terem um caixa único, observa Campos. “Se alguém faz uma doação para a Universal no Acre, no dia seguinte está na conta. Isso possibilita à igreja ter uma quantidade de dinheiro suficiente para participar de um leilão ou de uma disputa em melhor condição”, avalia o estudioso. “A Universal pode ter 10 milhões de reais na conta. Não precisa dividir com paróquias ou bispos. Essa foi a grande sacada do Edir Macedo: ter dinheiro na mão para fazer negócio.”

As igrejas buscam os veículos de comunicação e o poder político também para tentar superar as concorrentes. “Eles vão se comer uns aos outros. Há ataques violentíssimos feitos por integrantes da Mundial à Universal. A igreja de Edir Macedo cresceu, ficou muito forte e a sua trajetória é imitável. O Valdemiro quer chegar aonde o Macedo chegou. Por isso, ele peita o Macedo”, diz Pierucci.

A Rede Record, que diz ter a Universal apenas como uma “cliente”, reúne hoje 30 emissoras no País (cinco próprias e 25 afiliadas) e 747 retransmissoras, segundo o Ministério das Comunicações. A Record afirma ter 105 emissoras (entre próprias e afiliadas). Conta ainda com a Record News, a Rede Família e a Record Internacional (Estados Unidos, Canadá, Japão, Europa e África). A Igreja Internacional da Graça, do missionário R.R. Soares – fundador da Universal, ao lado de Macedo – montou a Rede Internacional de Televisão (RIT), com oito emissoras próprias. Já chegou a Portugal e aos Estados Unidos.

Os católicos também continuam a construir o seu império de comunicação. Mas, por contarem com a simpatia dos meios de comunicação dominantes e de setores influentes da sociedade, raramente são criticados por isso. Em março, o Ministério das Comunicações concedeu quatro retransmissoras para a Rede Vida: em Joinville (SC), São Roque (SP), Oiapoque (AP) e Pedra Branca do Amapari (AP). A rede já contabiliza 472 transmissoras.

Reconhecida em 2008 como uma nova comunidade da Igreja Católica, a Canção Nova cresce a passos largos. Já possui duas emissoras de tevê e 272 retransmissoras, além de uma rede de rádio. Conta com tevê e rádio em Portugal e casas de formação em Israel, França, Itália, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos e África. O site da Canção Nova é uma das páginas religiosas mais acessadas no mundo. Tem 7 milhões de acessos ao mês e reveza-se na liderança com o portal do Vaticano, segundo os dirigentes do movimento.

Para o pesquisador Pierucci, grupos católicos, como a Canção Nova, querem trilhar o mesmo caminho que os evangélicos, mas não conseguirão êxito. “A estrutura é muito diferente. Na Igreja Católica, sempre há alguém acima mandando mais que o padre. Entre os evangélicos, se há algum problema o pastor sai e funda outra igreja. Os católicos não têm como fazê-lo”, analisa.

Como acontece entre os laicos, a expansão do controle midiático implica imediatamente aumento do poder político. Católicos e evangélicos trabalham com uma intensidade inédita para aumentar sua representação política em 2010. A Canção Nova vai lançar candidatos à Câmara dos Deputados e às assembleias de todos os estados. Para o Senado, já tem ao menos três nomes de políticos ligados ao movimento: o vereador Gabriel Chalita (PSB), em São Paulo; o deputado estadual Eros Biondini (PTB), em Minas Gerais; e Marcio Pacheco (PSC), no Rio de Janeiro.

Integrante da Canção Nova, a atriz Myriam Rios vai atrás de votos dos cariocas. Concorrerá a uma vaga de deputada estadual pelo PDT. Outros políticos ligados à Renovação Carismática devem disputar a reeleição, como os deputados Alexandre Molon (PT), na Assembleia do Rio, e Miguel Martini (PHS-MG) e Odair Cunha (PT-MG), na Câmara. “Nós não podemos substituir o partido em relação ao movimento nem o movimento pode se tornar um partido”, ressalta, sem muita clareza, o mineiro Cunha.

A Mundial segue na mesma linha. Nas últimas eleições, a igreja elegeu um vereador em São Paulo, José Olímpio (PP). No ano que vem, pretende lançar candidatos a deputado federal em todas as capitais do País. Deve ainda dar apoio a políticos como Marconi Perillo (PSDB) e Jaques Vagner (PT), candidatos ao governo em Goiás e na Bahia, respectivamente, e ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que disputa a reeleição.
O candidato a deputado mais conhecido da Mundial é o pastor Ronaldo Didini (PSC), ex-Universal e ex-Internacional da Graça. Didini assume que sua principal bandeira é o combate ao casamento de gays. O pastor também promete propor na Câmara mecanismos para controlar o que “pode sair e entrar nas igrejas e o que deve ou não ser tributado”.

Para puxar votos, a Universal do Reino de Deus pensa em lançar a deputado federal em São Paulo o bispo e atual senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), segundo comentários nos meios religiosos. Procurada, a igreja não falou sobre o assunto. Outros deputados ligados à Universal devem concorrer à reeleição, entre eles o bispo Antonio Bulhões (PMDB-SP). A Internacional da Graça e a Renascer devem repetir as candidaturas de Jorge Tadeu Mudalen (PMDB-SP) e do Bispo Gê (DEM-SP), respectivamente.

Nesse emaranhado de siglas e crenças, pouca coisa une os grupos religiosos. Um partido, porém, reúne religiosos de grupos distintos. O Partido Social Cristão (PSC), vai lançar candidatos como o católico Márcio Pacheco, Ronaldo Didini, da Mundial, e o ex-deputado e pastor Gilberto Nascimento, da Assembleia de Deus.
Na eleição de 2006, as bancadas da Universal e da Assembleia de Deus tiveram significativa redução por causa do envolvimento de seus parlamentares com os escândalos dos sanguessugas e de caixa 2 (conhecido como mensalão). A bancada da Universal caiu de 18 para 6 deputados e a da Assembleia de Deus, de 22 para 9. Os candidatos da Assembleia receberam 200 mil votos a menos do que em 2002. E de uma eleição para a outra a Universal teve a votação de seus representantes reduzida de 1,6 milhão de votos para 573 mil. Sinal, aliás, de que a fé religiosa não gera p
olíticos mais éticos. O objetivo de ambas é recuperar o terreno perdido. Para tanto, contam com os púlpitos midiáticos.

Índia nega transferência de restos de Madre Teresa para a Albânia

Madre Teresa (arquivo)

A Índia rejeitou uma exigência do governo da Albânia de que autorizasse a transferência ao país europeu dos restos de Madre Teresa, que estão na cidade indiana de Calcutá.

Madre Teresa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 1979, tinha cidadania indiana, mas nasceu em Skopje, capital da Macedônia, e era de etnia albanesa.

“Madre Teresa era uma cidadã indiana e ela descansa em seu próprio país, sua própria terra”, afirmou Vishnu Prakash, porta-voz do Ministério do Exterior indiano.

Uma porta-voz das freiras da Ordem das Missionárias da Caridade, fundada por ela em 1950, descreveu a exigência albanesa como um “absurdo”.

“Aprovamos a decisão do governo indiano. Madre Teresa é Calcutá, ela é a Índia. É um absurdo a Albânia esperar pelos restos dela”, disse à BBC Sunita Kumar.

Correspondentes afirmam que a polêmica em torno dos restos de Madre Teresa pode se transformar em uma disputa entre três países: a Índia, onde ela trabalhou a maior parte de sua vida; Albânia, de onde vieram os pais de Madre Teresa, e Macedônia, onde ela passou os primeiros 18 anos de sua vida.

A disputa deve ficar ainda mais acirrada em agosto de 2010, o 100º aniversário de nascimento de Madre Teresa. Muitos analistas esperam que ela seja canonizada e transformada em santa.

Em comentários divulgados durante o final de semana, o primeiro-ministro albanês Sali Berisha afirmou que seu governo vai intensificar os esforços para recuperar os restos de Madre Teresa antes de seu 100º aniversário.

Peregrinação

Depois de sua morte, em setembro de 1997, Madre Teresa foi enterrada na sede da Ordem das Missionárias da Caridade, em Calcutá, que se transformou em um local de peregrinação.

A freira, que era conhecida como “Santa das Sarjetas” devido ao seu trabalho junto aos mais pobres da cidade de Calcutá, recebeu a cidadania indiana em 1951.

Nascida com o nome de Agnes Gonxhe Bojaxhiu em 1910, Madre Teresa chegou à Índia quando ainda era noviça em 1929 e se dedicou ao trabalho com os doentes e pobres.

Ela assumiu o nome de Teresa ao fazer seus votos como freira em 1931 e, em 1950, estabeleceu a ordem que gerencia lares que abrigam crianças abandonadas, idosos e portadores de doenças como Aids e hanseníase.

A Ordem das Missionárias da Caridade cresceu e atualmente conta com 3 mil freiras e 400 religiosos em 87 países, atendendo a pobres e doentes em favelas de 160 cidades.

Em 1979 Madre Teresa recebeu o Prêmio Nobel da Paz em nome dos desvalidos da sociedade. Ela pediu que o grande jantar de gala fosse cancelado e os lucros fossem doados para os pobres de Calcutá.

“Pelo meu sangue, sou albanesa. Pela cidadania, sou indiana. Pela fé, sou uma freira católica. Quanto à minha vocação, pertenço ao mundo”, disse Madre Teresa.

Ela foi beatificada pelo papa João Paulo 2º em 2003, o primeiro passo para ser transformada em santa. A beatificação foi em tempo recorde para a era moderna.

'Le Monde': Lula inventa universidade do século 21

De Paris para a BBC Brasil – Na edição desta quarta-feira, o jornal francês Le Monde publica uma elogiosa reportagem sobre educação no Brasil nesta quarta-feira, na qual afirma que, com sua política para a área, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “inventa a universidade brasileira do século 21”.

Em um caderno especial sobre educação, o correspondente do jornal em São Paulo, Philippe Jacqué, afirma que o presidente Lula deu “um sopro de oxigênio ao ensino superior” e multiplicou, desde 2002, planos para dinamizar as universidades do país.

O Le Monde cita como exemplos a Universidade Federal do ABC, em São Paulo, criada em 2005, para “formar os engenheiros do futuro” e as inovações da Universidade Federal do ABC, “na zona operária onde Lula começou sua carreira”.

“O governo federal não economizou na Universidade ABC. Meio bilhão de euros foi injetado. Desde 2005, pelo menos 280 professores foram contratados, todos titulares de um doutorado”.

‘Reformulação total’

O Le Monde afirma também que a equipe jovem de professores, com idade média de 35 anos, corresponde ao desejo de reformular totalmente o modelo universitário brasileiro.

“Na Universidade ABC, não há departamentos de disciplinas, mas centros de pesquisas multidisciplinares para facilitar a cooperação”.

Outra inovação da Universidade ABC, segundo o diário francês, é a criação de 300 bolsas de iniciação à pesquisa por ano.

O jornal afirma ainda que o presidente Lula desenvolveu instrumentos para facilitar o acesso ao ensino universitário.

“Com apenas 4,9 milhões de universitários (16% dos brasileiros entre 18 e 24 anos), o país não soube até o momento democratizar o seu ensino superior”, escreve o Le Monde, afirmando que é a classe média alta, em grande maioria, que tem acesso às 200 instituições de ensino superior público e gratuito.

O jornal lembra que o sistema universitário brasileiro, “seletivo”, favorece alunos com maior poder aquisitivo, que são mais bem preparados porque puderam estudar nas melhores e mais caras escolas privadas. BBC Brasil – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Restrições não reduzem taxa de aborto, diz estudo

Mulher grávida

As leis de restrição para a prática do aborto não reduzem o número de mulheres que tentam interromper gestações indesejadas, afirma um relatório divulgado nesta quarta-feira.

Segundo o estudo do Instituto Guttmacher, com sede nos Estados Unidos, a taxa de abortos em países onde a prática é legal é praticamente igual nos países onde há restrições.

O estudo analisou 197 países e afirma que “o declínio do aborto em termos mundiais ocorreu em paralelo a uma tendência global de liberalizar as leis de aborto”.

De 22 países que mudaram suas leis de aborto na última década, 19 reduziram significativamente as leis de aborto. Na América Latina, os casos mais recentes de liberalização do aborto foram o Uruguai e a cidade do México.

Redução

O documento destaca ainda que o número de abortos no mundo caiu em oito anos, graças a uma redução no número de interrupções feitas legalmente nos países desenvolvidos.

De acordo com o estudo, o número de interrupções de gravidez passou de 45,5 milhões em 1995 para 41,6 milhões em 2003.

Em termos relativos, isto quer dizer que a taxa de aborto caiu de 35 para 29 para cada mil mulheres com idade entre 15 e 44 anos.

Nos países desenvolvidos, os procedimentos feitos dentro da lei passaram de 35 para 24 em cada grupo de mil mulheres nos oito anos observados – o que quer dizer que 3 milhões de mulheres a menos interromperam sua gravidez.

Também houve uma redução na taxa de procedimentos realizados clandestinamente.

Já nos países em desenvolvimento, as mudanças foram muito menores. As interrupções feitas legalmente passaram de 16 para 13 para cada grupo de mil mulheres, enquanto os procedimentos feitos clandestinamente passaram de 18 para 16 dentro do mesmo universo.

O número de abortos chegou a 35 milhões em 2003, quase 85% do total de procedimentos no mundo.

A presidente do Instituto Guttmacher, Sharon Camp, disse que as diferenças nas taxas de aborto exemplificam “duas realidades díspares”.

“Em quase todos os países desenvolvidos, o aborto é legal e feito de forma segura. Mas em grande parte do mundo em desenvolvimento, o aborto permanece altamente restringido, e a prática insegura é comum e continua a causar danos à saúde das mulheres”, afirmou.

Prevenção

A ONG creditou a redução nas taxas de aborto a um aumento no uso dos métodos de contracepção, sobretudo nos países ricos, que diminuiu os casos de gravidez indesejada e, por consequentemente, de interrupções de gravidez.

Em todo o mundo, a taxa de gravidez indesejada caiu de 69 para cada mil mulheres entre 15 e 44 anos em 1995 para 55 por mil em 2008.

Em termos absolutos, isto equivale a dizer que o número dos casos de gravidez indesejada permaneceu praticamente o mesmo – 208 milhões –, sendo que 90% ocorreu nos países em desenvolvimento.

Regionalmente, a situação variou “substancialmente”. Enquanto cerca de 70% das mulheres casadas na América Latina usavam algum método contraceptivo em 2003, por exemplo, apenas 28% das africanas fazia o mesmo.

“Existe uma forte evidência de que dar às mulheres o poder e os meios de decidir por elas mesmas quando ficar grávida e quantas crianças ter”, disse Sharon Camp, “reduz significativamente as taxas de gravidez indesejada e a necessidade do aborto”.

Legalização

Como parte disso envolve o que defensores da interrupção da gravidez consideram como um direito ao aborto, os dados devem alimentar a discussão sobre a legalização desse procedimento.

Os principais argumentos a favor da legalização destacam os danos causados à saúde das mulheres. Segundo o Instituto Guttmacher, procedimentos realizados em condições clandestinas causam 70 mil mortes por ano, e obrigam cinco milhões de mulheres a se submeter a tratamento por conta das sequelas da experiência.

Além dessas, outras três milhões nunca chegam a ser tratadas por essas complicações, disse o estudo.

A favor do aborto o instituto Guttmacher agrega também um fator econômico. Um estudo recente da organização calculou que, em média, tratar as complicações pós-aborto custa US$ 130 na América Latina.

Entretanto, grupos contrários ao aborto, principalmente por razões religiosas, afirmam que interromper uma gravidez significa interromper uma vida, algo que não tem preço.

No Brasil, tentativas por uma maior flexibilização do procedimento hoje permitido apenas em casos de estupro e risco de morte da mãe, não têm conseguido avançar no Congresso – embora seja conhecida a posição favorável do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para quem a abertura em relação ao tema é uma “tendência mundial” e apenas “questão de tempo” no Brasil.

Na América Latina e Caribe, onde 4 milhões de abortos são feitos por ano, apenas 200 mil são realizados em condições adequadas – quase todos em Cuba, Porto Rico ou Guiana, onde a interrupção da gravidez é permitida de forma ampla.

Segundo Josephine Quintavalle, da ONG Comment on Reproductive Ethics, afirma que “o aborto não é a solução”.

“Garantir que as mulheres tenham meios para encerrar uma gravidez não é liberá-las – elas deviam poder ter opções verdadeiras antes de engravidarem”, disse.

Quintavalle defende uma melhor compreensão da fertilidade para que as mulheres aprendam quando podem ficar grávidas, entendendo melhor o período fértil. Segundo ela, isso poderia reduzir o número de gestações indesejadas já que há problema de acesso e custo para métodos anticoncepcionais como as pílulas.