Arquivo mensal: abril 2012

Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil

Missa na Igreja Cristã Metropolitana  Foto BBC Brasil

Igrejas voltadas predominantemente para público gay somam hoje cerca de 10 mil fiéis
Encaradas pelas minorias como um refúgio para a livre prática da fé, as igrejas “inclusivas” – voltadas predominantemente para o público gay – vêm crescendo a um ritmo acelerado no Brasil, à revelia da oposição de alas religiosas mais conservadoras.

Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas “gay-friendly” no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país.
Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais. O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélicos, as duas principais religiões do país, que, em 2009, respondiam por 68,43% e 20,23% da população brasileira, respectivamente, segundo um estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
O crescimento das igrejas inclusivas ganhou força com o surgimento de políticas de combate à homofobia, ao passo que o preconceito também diminuiu, alegam especialistas.
Hoje, segundo o IBGE, há 60 mil casais homossexuais no Brasil. Para grupos militantes, o número de gays é estimado entre 6 a 10 milhões de pessoas.
Segundo a pesquisadora Fátima Weiss, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que mapeia o setor desde 2008, havia apenas uma única igreja inclusiva com sede fixa no Brasil dez anos atrás.
“Com um discurso que prega a tolerância, essas igrejas permitem a manifestação da fé na tradição cristã independente da orientação sexual”, disse Weiss à BBC Brasil.
O número de frequentadores dessas igrejas – que são abertas a fiéis de qualquer orientação sexual – acompanhou também a emancipação das congregações. Se, há dez anos, os fiéis totalizavam menos de 500 pessoas; hoje, já são quase 10 mil – número que, segundo os fundadores dessas igrejas, deve dobrar nos próximos cinco anos.

Resistência

As igrejas inclusivas ainda enfrentam forte resistência das comunidades católicas e evangélicas. Embora a maior parte delas siga a tradição cristã – pregando, inclusive, o celibato antes do casamento e a monogamia após o matrimônio – ainda não são reconhecidas oficialmente por nenhum desses dois grupos.
Não raro, em igrejas tradicionais, os homossexuais são obrigados a esconder sua opção sexual. Descobertos, acabam sendo expulsos – ou, eventualmente, submetidos a tratamentos de “conversão” para se tornarem heterossexuais.
“Segundo a Bíblia, homossexualidade é pecado. Na igreja evangélica, gay só entra caso queira se converter e, para isso, tem de se tornar heterossexual. É uma regra de Deus”, disse à BBC Brasil Silas Malafaia, fundador de uma das principais igrejas evangélicas do Brasil, a Assembleia de Deus – Vitória em Cristo.
“Tenho vários casos de ex-gays na minha igreja. Trata-se de um desvio de comportamento; afinal, gays têm a mesma ordem cromossômica que nós, heterossexuais. Depende deles, portanto, mudar sua opção sexual para serem aceitos na nossa comunidade”, acrescenta.
A pernambucana Lanna Holder, de 37 anos, acreditava poder “curar” a atração que sentia por mulheres que, segundo ela, vinha “desde a infância”. Usuária de drogas e alcoólatra, Lanna converteu-se a uma igreja evangélica aos 21 anos, passando a fazer pregações no interior do Brasil.

Lanna Holder (de joelhos) celebra culto junto com sua companheira, Rosania Rocha (de pé) / Foto: Divulgação

Após ser expulsa de igreja, Lanna Holder decidiu criar nova congregação

“Enquanto todas as meninas brincavam de boneca, eu soltava pipa e jogava futebol”, lembra ela à BBC Brasil.
Lanna tornou-se uma das principais pregadoras da igreja Assembleia de Deus, a mais importante do ramo pentecostal no Brasil. Casou-se aos 24 anos e, dois anos depois, teve um filho.
Mas durante uma viagem aos Estados Unidos em 2002, conheceu outra pregadora, Rosania Rocha, brasileira que cantava no coral de uma filial da igreja em Boston. Um ano depois, elas tiveram um caso amoroso às escondidas e acabaram expulsas da comunidade.
De volta ao Brasil em 2007, Lanna teve a ideia de criar uma igreja voltada predominantemente para homossexuais que, como ela, não ganharam acolhida em outra vertente religiosa. Ela montou a “Comunidade Cidade Refúgio”, no centro de São Paulo.
De reuniões pequenas, com apenas 15 pessoas, a igreja possui hoje 300 fiéis e planeja abrir uma filial em Londrina, no Paraná, até o fim deste ano.

Origem

O embrião das igrejas inclusivas começou a surgir no Brasil na década de 90, em pequenas reuniões feitas normalmente sob sigilo.
Nos Estados Unidos, entretanto, elas já existem há pelo menos quatro décadas, praticando o que chamam de “teologia inclusiva”, com um discurso aberto à diversidade.
Um das pioneiras foi a Igreja da Comunidade Metropolitana (ou Metropolitan Church), a primeira a ter sede própria no Brasil, em 2002.

Igreja na China

No link abaixo, pode-se ter acesso na íntegra a um texto do Botem de Informação Vaticana sobre a situação da Igreja na China. Dentre os muitos pontos destacados, chamou-nos especial atenção o seguinte:
“A propósito de la situación específica de la Iglesia en China, se ha notado que persiste la pretensión de los organismos llamados <> de ponerse por encima de la autoridad de los obispos y de guiar la vida de la comunidad eclesial. Al respecto, restan actuales y sirven de orientación las indicaciones ofrecidas en la mencionada Carta del Papa Benedicto XVI (cfr n.7), y es importante atenerse a ellas para que el rostro de la Iglesia brille con claridad en medio del noble pueblo chino”.
“Esta claridad ha sido ofuscada por los eclesiásticos que han recibido ilegítimamente la ordenación episcopal, y por los obispos ilegítimos que han realizado actos de jurisdicción o sacramentales, usurpando un poder que la Iglesia no les ha conferido. En los días pasados, algunos de ellos han participado en consagraciones episcopales autorizadas por la Iglesia. Los comportamientos de estos obispos, además de agravar su posición canónica, han turbado a los fieles y a menudo han forzado la conciencia de los sacerdotes y los fieles afectados”.
“Además, esa claridad ha sido ofuscada por los obispos legítimos que han participado en ordenaciones episcopales ilegítimas. Muchos de ellos han aclarado su posición y han pedido perdón, y el Santo Padre les ha perdonado benévolamente. Otros, en cambio, todavía no han dado explicaciones, y por tanto se les anima a actuar cuanto antes en tal sentido”.
Como pode-se notar, o Vaticano não entende e reprende a participação de bispos reconhecidos por Roma em ordenações não Roma não autorizadas e a participação de bispos ordenados sem autorização por Roma em ordenações autorizadas por Roma. O mesmo diz-se dos sacerdotes.
Visto com outros olhos, nota-se que, para os católicos chineses, a autoridade de Roma não conta muito… Eles, os chineses,parecem não fazer muita distinção entre o autorizado e o não-autorizado por Roma! Ou seja, entre a Igreja CAtólica Romana e a Igreja chinesa. E isso confunde Roma…
Acho que é um tema interessante de ser acompanhado nos próximos decênios.

Hotmail – zugno1965@hotmail.com

Eleições na França: il faut en penser!

No último domingo foi realizado o primeiro turno das eleições presidenciais na França. O atual presidente Sarkozy e o candidato socialista, François Hollande, disputarão o segundo turno. Tudo normal, se olharmos apenas os dois nomes que polarizaram a disputa. Mas, se olharmos para o terceiro lugar na disputa do primeiro turno, as coisas já não parecerão mais normais. A Candidata do fascita Front Nacional, Marine Le Pen, fez nada mais nada menos que 17,9% dos votos. E, se olharmos as eleições presidenciais anteriores, nossa preocupação será ainda maior. Nas últimas eleições, o Front Nacional, tendo como candidato o pai de Marine, Jean Marie Le Pen, foi para o segundo turno. Nas últimas eleições, o paritido assumidamente fascista francês (outros gostariam de ser, mas tem vergonha de dizê-lo) tem conseguido o apoio de um em cada quatro franceses. Para um país que diz pátria dos direitos humanos e da democracia, isso é realmente preocupante. Ou então, mostra aquela parcela do “sprit français” que muitos franceses não querem mostrar nem ver.
 Folha.com – Mundo – Le Pen condiciona apoio a Sarkozy a aliança para legislativo – 26/04/2012

Os grandes também caem…

Depois do Barcelon, foi hoje a vez do Real Madrid cair diante do Bayern. Isso prova mais uma vez que, no futebol, não há times imbatíveis e que resultados imprevisíveis também podem ser possíveis, ou seja, também tem sua previsibilidade.
Dizer que “a força venceu a arte”, além de ser um lugar comum, é um desrespeito para com os jogadores do Chelsea e do Bayern. Para conter times como o do Barcelona e do Real, é necessário ter arte, mesmo que seja a arte da força de conter e vencer quem vem com mais arte. Ou seja, elogios merecidos aos times ingleses e alemão.
O que resta agora, é esperar a final e, confortavelmente sentada no sofá, assistir ao jogo da arte dos dois times que conseguiram conter a força de Barcelona e Real. Com certeza, será um espetáculo.

P.S.: talvez alguns estranhem o fato de eu postar algo sobre futebol. Gosto de futebol, com arte e, se a arte inclui a força, melhor!

A piada pronta do conservadorismo

A piada pronta do conservadorismo

No canteiro central da Avenida Paulista em frente ao MASP, um grupo de homens carrega dois estandartes com bandeiras douradas de estilo medieval. No centro dos panos se destaca a imagem de Plínio Corrêa de Oliveira, criador da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), organização ultra-conservadora cristã.
O movimento que avisto, no entanto, é averso à TFP. Mas segue a doutrina de seu fundador em um instituto com o nome de Oliveira. “A TFP está na mão de dissidentes, que seguiram a linha da esquerda católica. Não podemos nos aliar a eles, somos da mais estrita doutrina católica”, prega Daniel Martins, assessor de imprensa do grupo.
A afirmação soa como piada. A TFP, como uma das organizadoras da “Marcha da Família com Deus Pela Liberdade” – que em 1964 convocou os militares a tomarem o poder no Brasil -, teria urticária à esquerda. Mantém dela, portanto, uma distância minimamente “segura”.

Foto: Gabriel Bonis

Abordo Martins poucos segundos após ele terminar de tocar sua gaita de foles. Uniformizado, ele vira a outros integrantes de um grupo de 35 pessoas e diz com voz empossada: “Um folheto para o rapaz, por favor. E um livro também.”
“Esses são os livros da campanha, pelos quais denunciamos a ação do movimento abortista e do movimento homossexual. É uma campanha pacífica, pois a atuação deste grupos leva a uma perseguição religiosa no Brasil”, esbraveja.
Com semblante sério, o militante faz referência à recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em permitir o aborto em casos de fetos anencéfalos. “Digamos que [a criança] vai morrer minutos depois do parto, por que não deixá-la morrer? Por que fazer o aborto? Para abrir as portas para outros tipos de aborto”, defende, apesar das evidências científicas da impossibilidade de sobrevivência do feto nestes casos.
Martins tenta embasar seu argumento e envereda para caminhos conspiratórios. “Muitos dados são produzidos pelas ONGs abortistas, para abrir o campo para a eugenia e o infanticídio sob o pretexto falacioso de que é direito da mulher escolher.”
O aborto é inaceitável, conclui, sem delongas. Não demora também para buscar inspiração no absurdo: “Hitler começou assim, matou os deficientes e depois os velhos. É uma manobra internacional (pela defesa dos direitos individuais) com a pressão da ONU para impor no Brasil uma prática contrária ao povo.”
O assessor de imprensa, de 25 anos, há uma década no movimento, mostra-se eficientemente doutrinado. Cita o Projeto de Lei Complementar 122, a chamada Lei da Homofobia, como uma sentença de prisão a “quem é contra a prática homossexual, mesmo que pacificamente.”
“Uma mãe de família que contrata uma babá para os seus filhos e percebe que ela é lésbica, não pode demití-la. Mesmo cumprindo todos os direitos trabalhistas, porque essa lei diz que ela pode pegar entre dois e cinco anos de cadeia”, brada. Parece desconhecer, no entanto, que a Constituição brasileira não permite a discriminação por sexo, cor ou sexualidade. As placas dos elevadores parecem estar sendo ignoradas.

Foto: Gabriel Bonis

Enquanto caminha pela Avenida Paulista, Martins defende que o homossexualismo é um vício e, como tal, não pode ser apoiado pelo Estado. “Há tratamento uma vez que a pessoa se viciou, muitas vezes por causa da má companhia. Temos curas e no livro há vários casos e doutores que fazem esse tratamento.”
“Eles (como se refere aos homossexuais), não querem que ninguém fale ou faça nada contra eles. A Igreja pode falar dentro de suas portas, mas fora não.” Curiosamente, não era possível avistar mulheres no grupo.
Mas e os ateus ou agnósticos contrários ao homossexualismo?, questiono.
“A maior parte da população brasileira é católica ou cristã. A maioria também é contra [o homossexualismo], então a lógica da democracia diz que seria justo legislar para ela. Não queremos um Estado que protege, prolifera e ensina nossas crianças o homossexualismo.” A democracia também prega a defesa de grupos minoritários e excluidos.
Nos panfletos, o grupo vai além e diz que a adoção de uma criança por casal homossexual prejudica sua educação e que essa faixa da população é responsável por uma epidemia de AIDS, pela qual os “aidéticos” (termo abolido há tempos da medicina por ser depreciativo aos portadores da doença) precisam de um tratamento caro e oneroso aos contribuintes.

Cisma: fundamentalistas católicos a um passo do acordo

Cisma: fundamentalistas católicos a um passo do acordo – Notícias DomTotal
AFP

Fundamentalistas da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), contrários ao Concílio Vaticano II, fizeram concessões consideradas “encorajadoras” para retornar ao seio da Igreja, mas a decisão final caberá a Bento XVI que muito se mobilizou por sua reintegração.
“Recebemos uma resposta, ontem, efetivamente diferente das anteriores. Isso representa um passo à frente, uma evolução encorajadora”, explicou o jesuíta Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé.
A FSSPX, disse ele, também ofereceu “propostas e requerimentos” relativos ao “preâmbulo doutrinário” apresentado à fraternidade em setembro, pedindo algumas “explicações”.
Segundo o padre Lombardi, a resposta romana deverá ser divulgada em algumas semanas, tempo necessário para um exame por parte da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), sem dúvida no final de abril, e para que o Papa a analise e anuncie a decisão: “como não temos essas respostas, não podemos falar de um processo concluído”.
Num comunicado publicado em seu site DICI, a Fraternidade destacou que a resposta enviada a Roma é apenas “uma etapa, não um epílogo”.
Há alguns dias, correm alguns comentários sobre um acordo certo entre o Vaticano e esses fundamentalistas, destacando que eles baixaram o tom de suas críticas. Um vaticanista, Andrea Tornielli, afirmou na noite desta terça-feira que a resposta “será positiva”.
“A realidade é outra”, reagiu a FSSPX, num comunicado lacônico, ao mesmo tempo em que a Fraternidade arrisca a se dividir, com uma parte permanecendo rebelde ao poder da Santa Sé.
Fundada em 1970 em Ecône, na Suíça, por Monsenhor Marcel Lefebvre (falecido em 1991) e separada de Roma desde 1988, conta com 550 padres, num momento em que eles faltam à Igreja romana.
Alguns desejam se juntar aos numerosos tradicionalistas. Outros consideram que eles formam a única “verdadeira Igreja”, que Roma é inspirada pelo “diabo” e vítima de “um cisma progressista”.
Os que querem voltar ao seio da Igreja Católica poderão se beneficiar de uma “prelazia pessoal” sob a autoridade direta do Papa, como a que foi concedida ao movimento conservador Opus Dei.
O Papa faz da resolução desse cisma uma prioridade, fazendo muitas concessões. Em 1988, ele não se conformou com o fracasso das negociações que conduziu pessoalmente com Monsenhor Lefebvre.
Joseph Ratzinger levantou em janeiro de 2009 a excomunhão de quatro bispos da Fraternidade, entre eles o britânico Richard Williamson, conhecido por seus propósitos negacionistas sobre o extermínio dos judeus – uma medida que motivou muitos protestos.
Ratzinger também respondeu a duas outras reivindicações: autorizar a missa em latim da época anterior ao Concílio e abrir discussões doutrinais.
Essas negociações foram muito difíceis, com a Fraternidade questionando com insistência o Concílio Vaticano II (1962/65), visto por eles como um “desastre”.
Segundo eles, alguns desses textos essenciais, aprovados por 2.500 bispos entre 1962 e 1965, não são válidos: os sobre a liberdade religiosa, o colegiado dos bispos, o ecumenismo.
Destacam que não têm valor dogmático. O Vaticano aceita que possa ser aberto um debate sobre algumas formulações, mas não sobre o fundo.
O texto discutido há meses insiste na obrigação de todos os dissidentes aceitarem a “profissão de fé” da Igreja e o magistério do Papa e dos bispos.
Segundo Der Spiegel, os fundamentalistas não vão exigir mais que Roma volte atrás sobre as reformas do Concílio, registrando, simplesmente, a existência de divergências.
As apostas são vultosas, principalmente na França, onde a FSSPX passou por um desenvolvimento maior, nutrido pela herança da Ação Francesa.
Mas a reintegração dos fundamentalistas, que teriam uma concepção antiquada das relações Igreja-Estado e, com frequência, pontos de vista antissemitas, poderia mergulhar algumas Igrejas, principalmente a da França, numa crise.

População autodeclarada indígena cresceu 178% em três décadas, diz IBGE

BBC Brasil – Notícias – População autodeclarada indígena cresceu 178% em três décadas, diz IBGE
Índios brasileiros | Foto: Agência Brasil

Número de pessoas que se auto-declaram indígenas cresceu 178% de 1991 a 2010.
O número de pessoas que se autodeclaram indígenas praticamente triplicou nos últimos trinta anos, passando de 294.131, em 1991, para 817.963, em 2010. Os dados constam de uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira pelo IBGE com base nos Censos de 1991, 2000 e 2010.

Atualmente, segundo o órgão, os indígenas representam 0,4% da população brasileira.
Em comparação ao Censo de 2000, a população indígena cresceu 11,4% (ou 84 mil pessoas), de 734.127 para 817.963, número bem menos expressivo do que no período 1991/2000, que registrou um aumento de 150% (ou 440 mil pessoas), de 294.131 para 734.127. De acordo com o IBGE, ainda que os povos indígenas tenham experimentado crescimento acelerado em função de altas taxas de fecundidade, os dados do Censo de 2000 superaram as expectativas, com um ritmo de crescimento anual de 10,8% no período 1991/2000.
Tal fato refletiria o aumento do número de pessoas que, em 1991, se identificaram em outras categorias de “cor” ou “raça” e que, em 2000, passaram a se identificar como indígenas.
O IBGE credita esse fenômeno ao processo de “etnogênese” ou “reetinização”, quando “os povos indígenas reassumem e recriam suas tradições, após terem sido forçados a escondê-las e a negar suas identidades tribais como estratégias de sobrevivência”.

População indígena no Brasil

1991
Urbana: 71.026
Rural: 223.105
Total: 294.131
2001
Urbana: 383.298
Rural: 350.829
Total: 734.127
2010
Urbana: 315.180
Rural: 502.783
Total: 817.963
Fonte: IBGE

Já os resultados do Censo 2010 revelaram, na comparação com 2000, um ritmo de crescimento anual de 1,1%.

Área Urbana x Área Rural

O Censo de 2010 também revelou que a maior parte dos indígenas (502.783 ou 61,5% da população total) reside atualmente em áreas rurais, enquanto que 315.180 moram em áreas urbanas (ou 38,5%).
Segundo o IBGE, há cada vez menos pessoas se autodeclarando indígenas nas cidades. Em 1991, esse contingente somava 71.026 pessoas, passou para 383.298 em 2000 e caiu para 315.180 em 2010.
A redução de 68 mil pessoas, a maior parte proveniente na região Sudeste, deve-se, segundo o IBGE, ao fato de que muitas pessoas deixaram de se classificar como indígenas nas cidades por não ter afinidade com seu povo de origem.
Por outro lado, no campo, o número de indígenas totalizava 223.105 em 1991, subiu para 350.829, em 2000, e chegou a 502.783 em 2010.
Entre as grandes regiões do país, a região Norte se manteve na liderança nos Censos de 1991 (42,2%), 2000 (29,1%) e 2010 (37,4%). A região também se destacou na área rural, com 50,5%, 47,6% e 48,6%, respectivamente.
Já no segmento urbano, o Sudeste concentrava 35,4% da população indígena em 1991 e 36,7% em 2000, mas o Nordeste passou a ter maior contingente de indígenas em cidades em 2010, com 33,7%.

Amazonas na dianteira

Em números absolutos, o Amazonas concentra a maior população indígena do país (168,7 mil pessoas, ou 20,6% do total), enquanto a menor está no Rio Grande do Norte (2,5 mil ou 0,3% do total).
Apenas seis estados registraram, em 2010, mais de 1% de população autodeclarada indígena (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Roraima).
Por outro lado, 13 unidades da Federação apresentaram taxas de população indígena abaixo da média nacional (0,4%).
O Amazonas também lidera o ranking de municípios com maior população indígena. Dos dez primeiros, seis estão localizados no estado. O primeiro lugar ficou com São Gabriel da Cachoeira, com 29.017 indígenas, segundo o Censo de 2010.
No tocante à população relativa, ou seja, a proporção da população indígena na população total por municípios, quem encabeça a lista dos municípios é Uiramutã, em Roraima, onde 88,1% do total de habitantes se consideraram indígenas em 2010.

Expansão

A população indígena não só aumentou, como também se expandiu nas últimas três décadas. Segundo o Censo de 1991, em 34,5% dos municípios brasileiros, residia pelo menos um indígena autodeclarado.
No Censo de 2000, essa taxa cresceu para 63,5% e, de acordo com o Censo de 2010, chegou a 80,5% dos municípios brasileiros.

Habemus Papam

 Está em cartaz em Porto Alegre o filme Habemus Papam de Nanni Moretti. Assisti e, mesmo não sendo um “grande filme”, posso dizer que vale a pena vê-lo. Abaixo uma crônica de Cynara Menezes (www.cartacapital.com.br) feita  a partir do filme.
O Papa é bom
 
O fascinante tema do bem e do mal me persegue desde a infância. Mal aprendi o bê-á-bá, li “O Bom Diabo” em “Histórias de Tia Nastácia”, de Monteiro Lobato, e nunca esqueci: um príncipe manda pintar uma capelinha e exige que também se pinte a figura do diabo, não só a dos santos. Agradecido, o cramulhão, o capeta, o coisa ruim, mais adiante irá lhe retribuir a gentileza, provando que o cão não é tão feio quanto pintam.

Anos depois, caiu-me em mãos um belo conto do russo Leonid Andreiev sobre o mesmo tema: “A Conversão do Diabo”. Um demônio meio chinfrim, entediado com suas diabruras numa pequena igreja de Florença, resolve procurar o padre para que este lhe ensine o que é “fazer o bem”. Começam a debater o assunto e, a certa altura, o pároco lhe recomenda: “Fazer o bem é: se te pedem a camisa, dê, embora não tenhas outra; se te dão uma bofetada, oferece a outra face. É muito simples!”
Duas semanas depois, retorna o diabo todo machucado, mas com uma camisa nova. Um velho tinha lhe batido na cabeça com a bengala e ele devolveu a pancada. “Não me deram na cara, mas na cabeça. Se fosse no rosto, saberia como fazer…” Quanto à camisa branquinha, tinha comprado para dá-la se alguém pedisse, mas ninguém o fizera. “Mas te pediram pão?”, pergunta o padre, exasperado. “Sim. Não dei porque esperava que me pedissem a camisa…” É um conto incrível, que mostra como até “fazer o bem” é relativo.

Outra grande obra anti-maniqueísta é “O Visconde Partido ao Meio”, de Ítalo Calvino, a fábula do cavaleiro Medardo di Terralba, que recebe um tiro de canhão e sai pelo mundo manquitolando, dividido em duas partes: uma totalmente boa e outra totalmente má. É fascinante como acabamos por ganhar certa antipatia do bonzinho e a torcer pelo malvado, porque o bem soa falso para quem não é beneficiado por ele. O mal, não, é verdadeiro porque atinge todo mundo igualmente, sem diferença.
Conto tudo isso para chegar a “Habemus Papam”, do italiano Nanni Moretti, o filme que descreve o desespero de um homem, ungido papa, que entra em crise na hora de se acercar ao balcão para anunciar sua escolha ao mundo. O cardeal Melville se sente pequeno, demasiado humano, para levar em frente a tarefa colossal de ser o guia de milhões de católicos, “representante de Deus” sobre a face da Terra. Não acha que merece, não se sente digno. É um homem bom no sentido místico do termo: frágil, falho, cheio de dúvidas, e humilde. Havia feito na vida inclusive “algumas bondades”, segundo conta. Moretti retrata na película a igreja “ideal” de nossos sonhos pueris, com freiras e padres contentes e desprovidos de vaidade, amigos entre si a mais não poder, como colegas de grêmio estudantil que costumam jogar bola na hora do recreio. E no filme eles jogam, mesmo. Enquanto contam seus prosaicos dramas ao psicanalista (vivido por Moretti) contratado para cuidar do sumo sacerdote, o próprio papa está perdido nas ruas, revisitando seu passado de ser humano, sem a proteção da Igreja e de ninguém, abandonado naquele momento talvez até por Deus. “Ser ou não ser papa?”, se pergunta nosso Hamlet de batina.
O cardeal guarda algumas semelhanças com o Jesus Cristo do “Evangelho” de José Saramago, que também se revolta diante da enormidade de sua muitas vezes cruel tarefa (aliás, no livro o diabo tampouco é pintado como “ruim”). Sempre me surpreendeu a resistência da Igreja Católica a um Cristo tão humano, que a mim parece bem mais próximo das pessoas do que aquele do Novo Testamento, um tanto marqueteiro em minha opinião – aquele negócio de dizer para uns “não conte para ninguém” e para outros “espalhe a boa nova”, me perdoem, é estratégia típica de marketing político.
O papa e os religiosos de Nanni Moretti me dão a impressão de serem todos homens de fé, regidos pela bondade, exatamente ao contrário da imagem que nós, não-católicos (e mesmo alguns católicos), costumamos ter do Vaticano: um lugar um tanto lúgubre, repleto de pessoas extremamente vaidosas e loucas para serem papas no lugar do papa. Onde a bondade é um norte a ser seguido nas palavras da homilia, mas não no dia a dia das relações políticas da igreja, dominada por disputas egocêntricas, traições e vendetas, como qualquer outra arena de poder.
Olho para Bento 16, o alemão Joseph Ratzinger, todo apegado a seus dogmas milenares sob a sotaina dourada, e nada enxergo da humildade e da humanidade do cardeal Melville. Vejo um sacerdote poderoso, soberbo, seguro de si e impávido ante as mudanças do mundo que ocorrem céleres à sua frente, de braços cruzados diante dos fiéis que lhe pedem respostas urgentes a tantos dramas tão atuais. Uma semi-divindade sem absolutamente nenhuma vontade de dizer “sim”. E me pergunto: o papa é um homem bom?

Milícia que derrubou ex-presidente do Haiti volta a se mobilizar no país

Luis Kawaguti

Atualizado em  11 de abril, 2012 – 14:28 (Brasília) 17:28 GMT

Ex-militares haitianos mobilizados em Porto-Príncipe

Ex-militares desfilam em parada no terreno de uma base militar abandonada na capital Porto-Príncipe
A milícia de ex-militares que ajudou a derrubar o ex-presidente Jean Bertrand Aristide em 2004 voltou a se mobilizar no Haiti após quase sete anos na inatividade. O grupo já reúne 15 mil membros e mantém o controle de um edifício do governo invadido há mais de 20 dias em Cap Haitien.

As principais exigências da milícia são a recriação do Exército – uma promessa do atual presidente Michel Martelly – e o pagamento de pensões a militares reformados.

O governo haitiano e a Polícia Nacional tentam resolver o impasse de forma pacífica, segundo o general brasileiro Fernando Rodrigues Goulart, comandante da missão de paz da ONU no Haiti.
Ele afirmou à BBC Brasil que as forças internacionais acompanham a negociação à distância, mas podem intervir se necessário.
“Estamos preparados para cumprir qualquer tarefa”, disse Goulart.
Dos 10.700 militares em missão de paz da ONU no Haiti, 2.132 são brasileiros.

Mobilização

O Exército haitiano foi dissolvido em 1995 pelo então presidente Aristide, que temia sofrer um golpe militar.
Em 2004, uma milícia de ex-militares se aliou ao grupo 184 (bloco político de direita) e conquistou militarmente o norte do país. Aristide deixou o poder dias depois e a ONU enviou capacetes azuis ao Haiti.
Os ex-militares operaram ilegalmente até 2005, quando foram desbaratados por forças da ONU. Seu líder, Remissanthe Ravix, foi morto pela polícia.
Porém, no fim do ano passado jovens interessados em integrar o novo Exército prometido por Martelly se juntaram a ex-militares para pressionar o governo. Eles ocuparam bases militares abandonadas e começaram a treinar.

Liderança

Armados e fardados, invadiram edifícios públicos em março de 2012. O maior deles é o escritório da Secretaria de Agricultura, em Cap Haitien (segunda maior cidade do Haiti), que permanece ocupado.
O movimento não tem uma liderança clara. O assessor do governo haitiano, Georges Michel, estimou o grupo em 15 mil integrantes e recomendou ao presidente criar um comando militar interino para preencher o vácuo de poder.
Em meio a uma crise política, Martelly vem pedindo calma e orientando os ex-militares a voltarem às suas casas enquanto o governo toma uma decisão sobre a recriação do Exército.
No último dia 29, Guy Philippe, o ex-líder do golpista grupo 184, disse em entrevista a uma rádio local que os ex-militares devem chegar em breve aos 30 mil homens.
“Eles têm armas e são treinados. Caso se tornem um Exército livre ninguém será capaz de controlá-los”, disse.

Segurança

Apesar da turbulência política, a situação de segurança no país permanece estável, segundo o general Goulart.
“Tivemos recentemente relatos de tiros em Cité Soleil [principal favela haitiana], mas quando nossa tropa chegou ao local indicado não havia mais nada”. Segundo ele não há região do país onde as tropas da ONU não operem.