Muitos críticos, mundo afora, apontaram falhas em Che. A dupla de filmes, que soma 4 horas e 20 minutos, tem sido analisada a ferro e fogo.
Pela própria ambição do projeto, é compreensível que assim seja. Mas há, também, certa injustiça nas análises.
O diretor Steven Soderbergh, conhecido pela “esperteza” cinematográfica, parece ter sido, neste caso, mais corajoso que esperto.
Seja pelas dificuldades de financiamento, seja pelo controverso peso do personagem, os dois longas-metragens nascem de uma disposição de correr riscos. E essa disposição deixa-se antever na tela – o que, no cinema atual, não é pouco.
O primeiro filme, O Argentino, que entrou em cartaz ontem no Brasil, segue os passos de um herói da contracultura dos anos 1960.
No plano de abertura, veremos as botas do comandante. Soderbergh anuncia, nessa tomada, sua intenção de recriar um mito, sem necessariamente desmistificá-lo.
Surgirá então a face de Ernesto “Che” Guevara e o principal trunfo do projeto: o ator Benicio Del Toro.
Essa primeira parte começa em 1955, na Cidade do México, quando o médico tornado guerrilheiro encontra Fidel Castro, e termina em 1959, quando os vitoriosos partem rumo a Havana.
Soderbergh mostrará a luta com um misto de fascínio e delicadeza. A ele interessam menos os ideais e mais as maneiras de colocá-los em prática. Tanto é assim que, quando a Revolução começa, o filme acaba.
Na segunda parte, A Guerrilha, totalmente independente da primeira e cuja estréia no Brasil não está marcada, Cuba sai de cena e Che ruma para a selva boliviana. Da fotografia ao ritmo narrativo, tudo será diferente de O Argentino.
Mas a algo a unir os dois filmes em certa medida antagônicos: a coragem de mostrar, sem temer parecer ingênuo, o valor dos ideais num mundo em que os ideais saíram de moda.