O skate, o estetoscópio e a sombra nazista.

Durante muito tempo, no Brasil, o skate foi considerado coisa de marginal, de vagabundo e de maconheiro. Na cidade de São Paulo era proibido. Era crime. Até que veio uma mulher prefeita, a Luiza Erundina, e não só descriminalizou a prática, mas a incentivou como uma forma de promover as expressões culturais e esportivas juvenis.

Algumas décadas depois, o Brasil inteiro festeja a Fadinha que, com seus treze anos, buscou a prata olímpica em Tóquio. Os únicos que não se unem à alegria talvez sejam aqueles e aquelas que sentem saudades dos tempos em que o jovem ou a jovem que andasse de skate nas ruas e praças de São Paulo era recolhido por uma viatura discreta da ROTA e acabava espancado em uma delegacia ou coisa ainda pior.

Mas, além do show de skate, a pequena Rayssa também deu uma profunda demonstração de cidadania. Na volta de Tóquio, pediu a todos seus conterrâneos de Imperatriz que não a esperassem no aeroporto. Pediu para não aglomerar, manter o distanciamento social, sempre usar máscara e procurar a vacina para logo vencer a pandemia que nos assola.

Algumas horas depois desse show de cidadania, em rede nacional de rádio e televisão, o Ministro da Saúde também falou sobre a pandemia. Falou de tudo aquilo que o governo não fez como se tivesse feito. Em outras palavras: mentiu descaradamente. Todos sabem e a CPI, espero, vai demonstrar com provas cabais, que o atual (des)governo fez de tudo para impedir a vacinação. Ela só está acontecendo por pressão dos prefeitos, governadores e da sociedade. E mais: o governo não só não fez nada como fez tudo o que podia para impedir que a vacinação avançasse. E, criminosamente, criou canais para que a corrupção se instalasse em todos os escalões da saúde pública com pastores, cabos e coronéis intermediando a compra superfaturada de vacinas que sequer existiam.

O detalhe que talvez muitos não observaram, é que o Ministro, que é médico cardiologista, em nenhum momento pediu para a população continuar usando máscara e mantendo distanciamento, medidas que, todos sabem, são as únicas que podem colaborar para que a vacinação tenha de fato o efeito esperado. Vacinar é a solução. Usar máscara e manter o distanciamento é prevenção, antes e depois da vacinação.

Tudo o que uma menina de 13 anos soube dizer com toda a propriedade, o doutor ministro esqueceu em sua necedade. Hipócrates deve estar rolando desde ontem no túmulo.

A que se deve tal omissão por parte da maior autoridade sanitária do país? À ignorância com certeza não. Ele sabe muito bem a importância destas duas atitudes. Suspeito que a causa de tal disparate se deve “às ordens que vem de cima”. Afinal, como bem disse o “presidoente”, no seu governo, “uns mandam e os outros obedecem”.

Imagino também que o Ministro, assim como outras autoridades deste governo, principalmente aqueles que costumam receber delegações nazistas, lembrem dos julgamentos de Nürenberg e de Jerusalém. Diante dos tribunais, os oficiais nazistas se declaravam inocentes e argumentavam que estavam apenas cumprindo ordens que vinham de cima. Talvez o Ministro Queiroga também esteja apenas cumprindo ordens que vem de cima ao omitir a necessidade do uso da máscara e distanciamento social. Mas isso não o isenta de responsabilidade e das consequências judiciais que um dia, espero, recaiam sobre aqueles que, por sua ação ou omissão, fazem com que a pandemia, no Brasil, tenha se transformado em um verdadeiro genocídio.

Mas uma coisa é certa e deve preocupar a todos e todas: a sombra nazista paira cada vez mais sobre o nosso país. É preciso denunciá-la. É preciso combatê-la com todas as formas.

Por mais skatistas e mais Rayssas. Por mais médicos e mais estetoscópios. É o compromisso de cada um e de cada uma em defesa da liberdade e da vida.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s