Sobre figuras e máscaras

Nós somos nós e nossas mudanças. Sim! Ninguém é o mesmo sempre. Mudamos ao longo da vida. Basta olhar o álbum de fotos que guardamos no fundo do baú. Ou no arquivo digital do computador. Ou na linha do tempo de uma das redes sociais que utilizamos. As mudanças são visíveis, inegáveis, infalíveis.

A mudança mais perceptível é a do aspecto físico. Nosso corpo não é mais o mesmo. Há coisas que fazíamos quando éramos crianças, adolescentes, jovens e que agora, adultos ou velhos, não fazemos mais. Jogar futebol, por exemplo. Ou agachar-se para amarrar os sapatos ou cortas as unhas dos pés. Nossa coluna não se dobra mais como se dobrava antigamente. O corpo não mente. E o espírito também. Nosso modo de nos sentirmos no mundo também muda ao longo do tempo. Também mudam nossas ambições, nossas emoções e nossas relações. As listas de amigos e amigas mudam ao longo do tempo e mudamos nosso lugar na sociedade.

Enfim: mesmo continuando sendo as mesmas pessoas, mudamos nossa figura. Mudamos a forma como nos percebemos a nós mesmos e como percebemos as pessoas e o mundo que nos rodeia. Nós nos transformamos, nos transfiguramos. E não podemos esquecer que a ação do entorno também nos transforma e nos transfigura. E isso não é problema! Mais: é a solução. Quem não se transfigura nem se deixa transfigurar, se desfigura na rigidez de ser sempre o mesmo enquanto o tempo e a vida passam.

Ou se refugia n falsidade da máscara. Mascarar-se é uma opção para não mudar, para não transitar, para não aceitar que o tempo e as circunstâncias passam e nos transformam. A máscara é a opção pelo ridículo do eterno estático. Nada mais triste do que alguém de sessenta anos querendo aparentar trinta. Ou, o inverso, alguém de vinte e poucos anos comportando-se como se tivesse setenta. Ou um pobre querendo aparentar o rico.

Viver mascarado é árduo. Duas caras pesam o dobro que uma. Exige mentir o tempo todo para si e para os outros. Fingir cansa, desgasta, gera insegurança. Difícil também é viver com pessoas mascaradas. Nunca se sabe com quem se está a falar. Se a pessoa real ou a que pretende realizar. Máscaras são teatrais. Ninguém é ator durante toda a vida. Quem usa por opção ou é obrigado a usar por coação tem uma vida sofrida, dividida, partida.

Uma hora a máscara cai. A falsidade se esvai. A pessoa aparece em sua verdade que é a falsidade, o não ser, o aparentar. Não tem mais como fingir. É preciso assumir. Ou sumir para não ser o que se é. Transfigurar, sim! Sempre. Mudar continuamente para ser o que se é deixando o que se foi para assumir o novo que somos sempre chamados a ser.

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